Capítulo 1

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Sempre quando escutava ópera, ou, músicas clássicas, sabia que estava se sentindo sensível e ferida emocionalmente, era a forma dela se comunicar com sua dor, sem precisar dizer nada, Lia sempre foi uma mulher misteriosa, escondia bem suas emoções, e eu, adorava decifrá-la.. Não é a toa que aceitei me casar com ela. Eu a conheci quando estava na sua pior fase, e, ambas de nós duas, evoluímos, cuidamos, uma da outra, não a deixei por conta dela ser complicada, ou, por ter um passado criminoso e polêmico, pelo contrário, mostro a ela, que não há só pessoas ruins e cruéis no mundo, criei o nosso mundo, o mundo onde há amor, conflitos, traumas, e sempre estaremos trabalhando juntas nisso.

Lia era criminosa, matava pessoas, e torturava até a morte, mas, mudou, após conhecer o amor... O amor que doei de mim, se encaixou perfeitamente nela, sim, o amor cura. Enobrece a alma.

— Amor, o que você tem? - Acariciei sua cabeça e fui sentando nela, cheia de dengo.

— Oi meu bem, não consigo dormir... Ando tendo pesadelos.

Eu adorava interpretar os sonhos das pessoas... Diria até que sou uma espécie de clarividente. Clarividência pra quem não sabe, é a pessoa que tem intuição que permite ver mensagens, tanto fisicamente por quadros mentais ou imagens rápidas. E quando chegam essas imagens, eu tento descobrir como elas se aplicam. A grosso modo, pessoas assim, são chamadas de videntes.

Então Lia, irá me dizer quais foram as imagens que teve no sonho, eu irei escrever num papel, estudar a imagem, dependendo da complexidade, desenho,  e busco associar a algum tipo de símbolo, e, também valorizo o que a pessoa diz, a sensação que sente ao falar sobre a imagem, ou, sonho em si. Sou formada em psicologia tem anos, mas, só depois de conhecer a mente dela, que realmente me interessei pelo curso do qual fiz quatro anos.

— Me diga qual foi a primeira imagem que viu, amor... - Levantei do colo dela, e fiquei em pé, se mostrando interessada.

— Deserto... E eu estava lá procurando alguma coisa. O que acha que pode ser, Manu? - Olhou - me depositando toda fé.

— Amor, estamos morando no deserto... Fugimos do Brasil tem quase quatro anos atrás, para gente recomeçar nossa vida. Eu irei caminhar próximo ao deserto, amanhã cedo, e vou ver o que consigo descobrir, fique tranquila.

— E você? Sei que ainda não superou a morte da Joice... Posso sentir sua dor. - Alisou meu rosto, encaixando sua mão nele, após o carinho que fez.

Lia era clarisciente. A clarisciência é o tipo de intuição que permite sentir uma situação. É aquela pessoa que sente o que a outra está sentindo. É quem tem uma sensibilidade absurda, parece semelhante com a minha intuição, mas, acredito que a habilidade dela, absorve mais coisas físicas e mentais, do que a minha, que é mais alma, e visão sensitiva. Somos uma energia muito forte juntas, e vivemos muita coisa, Lia carrega mais sofrimento do que eu, mas, é mais madura nisso... Já eu, estou aprendendo com ela, nessa jornada juntas.

Eu a amo com todo meu ser e alma, não sei o que faria hoje, sem ela, estaria ainda perdida no mundo, procurando pela pessoa "perfeita e amor verdadeiro", e Lia não foi a mulher mais perfeita do mundo pra mim, quando eu a conheci, se tornou perfeita após conviver com ela, pois, conheci todos seus defeitos, falhas, vulnerabilidades, medos, e, vi, que se mostrou humana para mim, e isso que a tornou perfeita aos meus olhos. Hoje eu a vejo como um ser humano maravilhoso.

As Faces do Amor - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora