capítulo 8

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Eu gostaria muito de poder ler pensamentos. Assim eu saberia tudo o que as pessoas pensam ao meu respeito. Não que eu me importe com o que pensem sobre mim, mas, me importo se as pessoas são verdadeiras comigo. Odeio gente falsa.

Quando o carro de Arthur estacionou em frente a minha casa e eu vi aquele carro lindo parado lá em frente me senti um lixo.

"Para a filha mais incrível do mundo. Presente da mamãe". Era o que estava escrito no para-brisa do carro.

Como eu pude aceitar ser falsa a troco de dinheiro? Eu aceitei mentir para que a vaca da minha mãe não se prejudicasse. Porque eu fiz isso? Eu odeio gente falar e me odeio por cogitar ser falsa!

Lembro-me das minhas palavras:

Se ela pensa que eu vou fazer o que ela mandar sem querer algo em troca, ela está muito enganada. Vou lhe mostrar que posso ser muito pior que ela.

Não me reconheço, nunca fui assim. Eu não quero ser mentirosa, manipuladora e interesseira como a minha mãe, quero ser verdadeira
E foi por isso que assim que eu vi aquele carro meus olhos se encheram de lágrimas. Lágrimas de desgosto, nojo e raiva de mim mesma.

- Parece que o papai Noel chegou mais cedo. - Arthur fez um comentário infame.

Suspirei e abri a porta para descer do carro.

- Valeu pela carona, Arthur. - Saí do carro sem o olhar e bati a porta.

Lindo Ranger Rover branco. O carro dos meus sonhos.

   O triste é saber que pra conseguir um presente desse eu precisei mentir. Não por mérito próprio. Eu sei que não sou uma boa filha, mas ela também não é boa mãe. Nunca me deu nada, e quando dar, dar logo um carro. O que as pessoas não fazem para manter as aparências.

Atravessei o jardim e entrei. Não cheguei nem a dois metros desse carro.

Logo que entrei a minha vontade era de me jogar naquele enorme sofá da sala de estar, mas, meu pai está por aqui.

- Oi, filha. - Meu pai se levantou do sofá, deixou seu jornal de lado e seguiu em minha direção. - Gostou do presente da sua mãe? - Porque ele está com esse sorrisinho?

- É, legal. - Dei de ombros e ajeitei a mochila no ombro.

- Só legal? - Fez uma careta e esperou pela minha resposta que não veio. - Porque você está com essa cara?

- É a única que eu tenho! - Fui rude, eu sei, mas esse cara me irrita.

   Por que ele não simplesmente some da minha vida? Estava tão bem não forçando uma relação entre a gente.

- Ignorante. - Ignorei o seu insulto e caminhei apressadamente até às escadas. - Não vai nem fazer um teste drive?

Parei no primeiro degrau e me virei para ele.

- Não! Da última vez em que eu dirigi um carro bati em uma pobre árvore e se não fosse pelo airbag eu teria sofrido um traumatismo craniano. Então não! Eu não quero fazer um teste drive!

Sim, eu bati o carro da minha mãe. Eu sei dirigir e sou habilitada desde os meus dezesseis anos, mas naquele dia eu estava com muita raiva por ter que ir até a farmácia às três da madrugada por causa de uma dor de cabeça que não me deixava dormir. Estava chovendo muito e a pista estava muito escorregadia. Perdi o controle e bati em uma árvore. Minha mãe, que não estava em casa como sempre, quando soube só pensou na droga do seu carro. Depois dessa eu nunca mais toquei em seu carro.

Foi por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora