Capítulo 31

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As vezes eu acho que para algumas pessoas quando alguém morre tudo aquilo de ruim que a pessoa fez desaparece. É tão triste uma pessoa se tornar importante pra você quando morre, os arrependimentos de não ter feito certos tipos de coisas vem e a vontade de voltar no tempo se faz presente. Não fiz tudo o que eu pude para ver a mudança dela, eu sei, mas, eu poderia ter feito algo a mais, mudar meus atos, porém, é tarde de mais e só me resta conviver com a dor.

O pastor fala coisas como se tivesse conhecido a minha mãe. Na verdade, todos nesse enterro estão agindo dessa forma, como se a conhecessem e gastassem dela, alguns até choram e falam o quanto ela fará falta. Eu sei que não fará, a Katie que ela se tornou não fará falta e isso é o que é mais triste, ela não ter se tornado uma pessoa que fará falta.

O velório acabou e eu preferi ignorar as pessoas hipócritas que diziam sentir muito. Eu odeio todas as palavras proferidas por elas como:

- Tadinha.

- Olha a carinha inchada dela.

- Se precisar estou aqui, está bem?

Gente falsa. Se os vi três vezes no ano foi muito.

- Filha, você quer passar na sua casa pra pegar o resto das suas coisas? - meu pai, que não saiu do meu lado um segundo, me perguntou.

- Quero sim. - assenti.

- Acha que vai sem se despedir do seu avô? - meu avô apareceu bem trajado com uma homem de chapéu e óculos escuros ao seu lado.

- Eu achava. - sorri sem mostrar os dentes.

- Não seja rude, Alana. - ele me deu um abraço que me vi obrigada a retribuir. - Tem certeza que não quer vir comigo?

- Eu estou bem com o meu pai, obrigada. - meu pai e ele nem se olharam direito. - Vamos, pai?

- Vamos. - ele pôs seu braço ao redor do meu ombro e caminhamos até o carro.

- Tchau, vô. - me despedi da pessoa que espero não ver mais.

- Tchau, Alana. - ele se despediu.

O caminho até a casa que deixou de ser minha foi longo e dolorosamente silencioso. Eu não via a hora de pegar as minhas coisas e ir embora desse lugar.

- Nossa, continua do jeito que eu lembrava. - meu pai olhou em volta assim que entramos.

- É, minha mãe não mudou muita coisa por aqui. Eu vou buscar minhas coisas e já podemos ir.

- Demore o tempo que precisar.

- Com certeza não vou. - subi as escadas correndo e fui direto para o meu antigo quarto.

A sensação que eu tenho é que nunca mais voltarei. Eu passei os piores anos da minha vida aqui e não pretendo voltar.

Entrei em meu closet e a fui em busca do que eu procurava. Algo que eu não vejo a anos, que escondi para amenizar a dor, algo que me trazia lembranças que eu não queria.

Peguei aquele leão de pelúcia e lembrei do dia em que o meu pai me deu.

Estávamos em um parque de diversões e ele conseguiu naquelas máquinas que eu tenho certeza serem sabotadas. Não sei como ele conseguiu. Eu fiquei tão feliz que aquele leãozinho não saiu mais da minha mão, era uma briga pra minha mãe lavar ele. Ela sempre pegava escondido e lavava durante a noite.

Poxa, eu queria tanto, tanto entender. Por que ela deixou de ser minha mãe? Por que ela deixou de me amar?

Peguei o caixa com as fotos que eu guardei e a abri.

Foi por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora