Fragmentado

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  Harry repetiu seus passos da noite anterior. Dispensou o velho e bom amigo o qual levou a mão ao peito, dramatizando e improvisando uma cena teatral perante o amigo.

— Tem a humilde certeza de que não quer minha companhia, vossa majestade? - Perguntou o rapaz alto com cabelos encaracolados, fazendo uma breve expressão de horror ao ser dispensado.

— Sim. - Anuiu Harry, guardando as folhas dentro de uma pasta preta, revestida em couro com uma pequena logo indicando a marca.

 

  Sem demora ele vagou pelas ruas de Londres, com um ar solitário transparecendo em seu semblante e pensando em todos os seus passos da noite anterior. Ele apertou o sobretudo sobre o corpo com a ponta dos dedos até ficarem brancos por conta do vento gélido, torceu o nariz impaciente com o clima o qual uma hora e outra mudava drasticamente.

Derrepente lembrou das persianas entreabertas, aquela pequena rajada de vento parecia ter trazido consigo um pequeno fragmento da suas memórias. Se recordou da forma como os raios de luzes noturnas se infiltravam pela janela e como o seu corpo beirava a mágoas. Agora, andando pelas ruas e completamente consciente de suas ações, Harry já não se recordava mais o que o levou a ingerir demasiado álcool. Se ele tivesse evitado um pingo se quer, saberia a pessoa a qual lhe acalentou noite passada.

Ele refez seus passos. Fincou os pés no bar, depois seguiu para o metrô completamente carregado de pessoas e fora para casa, recusando o motorista e o censurando após o mesmo insistir em leva-lo por conta da distância.

— Ah, onde você está? - A sua própria voz rouca se fez presente. Harry ergueu o queixo, seus olhos pousaram sobre o céu que estaria completamente negro se não fosse a presença de uma única estrela sequer no céu.

Quando era criança, sua babá costumava lhe contar que, apartir do momento em que fizesse um pedido a uma estrela com todo o coração ela lhe concederia seu desejo mais puro.

Ele analisou a estrela e quase tropeçou em seus próprios pés, praguejou as calçadas desengrenhadas e franziu o nariz afastando aquela lembrança dos seus pensamentos. Agora ele era um homem, inteiramente diferente do que costumava ser antes.

Porém, encarou a estrela mais uma vez de soslaio sem conseguir se conter. Estava tão concentrado e meramente obcecado em descobrir quem era a mulher da noite passada, que passou o dia atordoado e perdido em pensamentos. Não era do seu feito estar tão distraído como esteve naquele dia, quem dirá por uma mulher. Mas repensou naquele instante em todas as mulheres que conheceu e quem seria capaz de saber onde ele escondia sua chave, já que a além da cópia o único que tinha o objeto dourado era somente ele.

Quando se deu conta já estava a frente do prédio rústico, notou alguns jornais espalhados a beira da calçada e adentrou a grande construção. Passou pelo porteiro sem lhe oferecer um Boa noite e seguiu em frente, de volta para seu cômodo solitário.

Tão solitário quanto ele.



Louis William Tomlinson Pov

  Segurei a alça da mala com todas as minhas forças enquanto me infiltrava em meio a multidão que se fez presente no metrô. Minhas pernas corriam velozmente, tão rápidas que meu cérebro mal conseguia captar sua necessidade de me levar ao destino. Me encontrei um pouco zonzo e me senti um completo louco quando dentre tantos perfumes o dele se fez presente em minha mente.

Meu coração palpitou tão forte me levando a um pequeno desequilíbrio mental, por sorte adentrei no vagão antes que as portas se fechassem durante a última chamada.

Quando as 22:00 horas da noite se fez presente em meu relógio de pulso, consegui um lugar vago no final do vagão. Seu cheiro empreguinou em minhas memórias de um modo o qual não consegui protestar contra mim mesmo, me obrigando a esquecer. Com o intuito de amenizar aquela pequena euforia - indesejada - abri minha mala, peguei um pequeno caderno e retirei do bolso minha fiel caneta de bronze, datada com 1940 - o ano da sua fabricação -.

  Apoiei a mala sobre meus joelhos  acomodando sobre minhas coxas e apoiei o caderno sobre sua letaral, em seguida ajustei meu braço em uma boa posição onde aproximei a ponta da caneta sobre o papel e a tinta deslizou, suavemente como uma pena tocando ao chão sem ter idéia da tamanha intensidade que cerregavam aquelas seguintes palavras:

      Querido H

Faz algum tempo que já não lhe escrevo mais.
Entrei em um pequeno recesso de vossa senhoria, com o intuito do qual você já deve saber. Saberia, se pudesse ler estas palavras. Saberia ainda mais se tu algum dia poderia vir a realmente se importar com elas.

Pensei que nos próximos dias seria mais fácil lidar com a falta de escrever sobre ti, ainda mais agora, distante do teu olhar tão pomposo perante a mim. Mas até nos momentos mais indesejáveis algum pequeno fragmento teu se faz presente, trazendo a tona a dolorosa lembrança das tuas covinhas acompanhando teu doce riso, ecoando por entre teus lábios finos onde jamais poderei tocar.

Espero que o tempo ajude-me a me curar desse amor que se tornou tão excruciante para mim.

- Seu (  temporário ) Boo

  Fechei o caderno, sem muita cerimônia. Junto daquele gesto deixei dentro daquelas páginas a minha amargura e enfim, partindo para a guerra.

A última carta | L.S. Onde histórias criam vida. Descubra agora