Eu tenho perguntas

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Londres 1970 - 07:45 AM

Os longos dedos de Harry se encontravam envolta de uma xícara de porcelana inteiriça. O vapor quente atingiu a altura das suas narinas indicando a temperatura demasiada do conteúdo na xícara. Ele fez um bico nos lábios e assoprou, sentindo o cheiro do café se espalhar pelo cômodo enquanto segurava um jornal. Notou que a data estava fichada como 1989 e releu a notícia que retratava a queda do muro de Berlim.

O mundo estava em constante mudança e Harry parecia já não acompanhar mais aquele mundo desde o fim da guerra fria.

— Ah! - Exclamou uma voz masculina ecoando da sua sala se tornando enerve.

— Bom dia. - Disse Harry, com um pequeno sorriso divertido em seus lábios finos por trás da borda da xícara de café.

— O que houve? Sinto-me completamente atropelado. - Ele resmungou manhoso tentando se levantar. Utilizou as mãos como a maior parte do seu apoio assim que pousou sobre a guarda do sofá, tomou impulso e se apoiou nas próprias pernas que o traíram e vacilaram.

— Isso não possui nenhum sentido. - Harry afirmou com certa confusão expressada em seu rosto, composta por uma testa franzida e lábios entre abertos.

— Você que não faz sentido.

— Onde quer chegar? - Harry se permitiu inteirar naquela linha de raciocínio do seu amigo sonolento e meramente bêbado da noite passada.

Aquela manhã estava sendo a mais divertida dentre os últimos anos até aqui. Porém, Zain nada respondeu. Apenas cambaleou por entre os corredores, errou algumas portas até se acomodar no banheiro que mais lhe pareceu favorável dentre os quatro de todo o apartamento.

Harry leu uma nova manchete no jornal velho em que dizia Collor assume a presidência do Brasil. Leu a manchete por cima, um tanto desprovido de interesse até concluir o fato de que seria uma grande ideia visitar o solo brasileiro. Contatos lhe informaram a demasiada riqueza que aquele país possuia, ainda mais se tratando de petróleo.

Fechar um bom negócio com o Brasil era lhe garantir uma boa quantidade de dinheiro e crescimento na empresa.

Harry se encontrou motivado naquela manhã. Sentiu seus neurônios voltarem a trabalhar de verdade e se empenhar em seu devido cargo além de sondar sua mente em um par de olhos azuis. Ele afastou aquele pensamento, esteve o mantendo fora de foco na última semana e aquela atitude não era de seu feito. O ar imponente estava beirando seu pequeno resquício de sorriso e se sentiu determinado.

— Seu Boo? - A voz conhecida de Zain se fez presente chamando a total atenção de Harry, desprendendo-o de seus pensamentos e conclusões.

O moreno segurava uma toalha na cintura e sorria de lado, dividindo o olhar entre Harry e a carta.

— "28 de fevereiro?" - Ele continuou, aguardando uma resposta do maior.

Harry desceu do banco em um breve gesto sem nenhum esforço e retirou a carta da sua mão, guardando-a no bolso. Zain pensou em inúmeras possibilidades de quem poderia ser sua amante.

— Creio que entregaram no endereço errado. - Harry afirmou e fechou os botões da camiseta social, se locomovendo até a sala onde sua maleta de couro estava repousada.

A última carta | L.S. Onde histórias criam vida. Descubra agora