Efeito borboleta

190 42 46
                                    

 
Efeito borboleta: é um termo que se refere à dependência sensível às condições iniciais dentro da teoria do caos. 

   Não há palavras para descrever uma dor. Não existe um sentimento ou algum momento que possa ser comparado ao perder alguém, você respira mas deseja não obter fôlego pois se você o tem, significa que está vivo, e se você está vivo, significa que terá de lidar com está dor, com este peso, com está cruz sobre os seus ombros a pesar mais doque qualquer outra coisa no mundo.

A dor.

Ela precisava ser sentida, mas Harry não a queria.

Os últimos fragmentos de um feiche de luz em suas íris esverdeadas, esvaíram junto do seu olhar que veio a decair seguida de lágrimas silenciosas. Sentiu-se sufocado sem estar se afogando em águas profundas, na verdade estava a sufocar pelas águas rasas que a vida lhe jogou onde seu corpo se chocou contra aquele chão causando-lhe um grande choque desde o seu último fio de cabelo aos seus pés. Seus olhos marejados, tomados visivelmente pela dor não paravam de reler aquela simples frase que definiu toda uma vida.

A vida que fora roubada de Louis William Tomlinson.

Por entre seus dedos, aquele simples documento com a estampa de uma vida roubada por um carimbo, transformou-se em um grande amasso devido aos longos e fortes dedos de Harry. Quando deu-se por sí, percebeu que estava sozinho naquela sala oculta, sua parceria antagônica de inúmeras personalidades o deixou só, levando Harry a pensar que perdera não só sua sanidade naqueles últimos minutos como toda a esperança de um renascer em sua vida.

Percebeu Harry, que suas chances de uma fênix no fundo do seu peito tornará-se escassa, como poderia ele renascer das suas cinzas agora que não havia motivos para continuar a desfrutar daquele fôlego em vida?

Antes mesmo de deixar para trás a sala de documentos, junto do prédio rústico e a cidade em que se instalou, concluiu que tornara-se dependente de um amor que nunca viveu.




     Reino Unido / Londres 1971

Há um trovar de pássaros sobre a copa das árvores aquela manhã. o céu é límpido, há poucas nuvens e apesar do sol se propagar acima das suas cabeças em um dia comum, Londres ainda é envolvida por um manto frio com suas pequenas rajadas de vento.

Os carros criam pequenos tumultos e as pessoas vagam pelas calçadas, nada importa a elas doque o jornal em suas mãos ou um charuto sobre os lábios dos homens de mais idade. Suas vidas pacatas são mais importantes doque os lixos que deixam cair descuidadosamente sobre as ruas, onde eles rolam para os bueiros trazendo pequenas enchentes mais tarde. É um efeito borboleta dos quais pensam não fazer parte, porém cada um está mais inteirado nas pequenas coisas doque pensam.

Os rádios anunciam o dia do julgamento, Harry Edward Styles perde a posse da sua empresa para Anelie Jones.

O anúncio chega despercebido aos ouvidos de uns, intrigam outros e a grande maioria apenas lamenta por suas próprias vidas. O grande efeito borboleta ainda não lhes atinge.

— Meu caro Harold, sinto muito. Não tenha ideia de como tudo isso possa ter acontecido — Lamenta Zain, com um grande pesar em seus olhos e aos seus gestos que tudo indica. — sempre soube que ela era uma vaca.

Ele murmura, ainda estão sobre o tribunal e Harry guarda seus papéis dentro de uma maleta, fecha-a minuciosamente e uma última vez observa a cascada loura sobre as costas longas de Anelie.

— Zain, é preciso perder algumas coisas para ganhar outras. — Diz Harry, surpreendendo-o.

— Oque quer dizer com isso? — Seu olhar e curioso e petulante, nada mais lhe chama a atenção doque o cacheado.

— Não sei meu amigo, já não sei de mais nada — Ele diz enquanto veste seu sobretudo. — mas lamentar-me não é uma opção viável para mim, nunca foi. Aceitar que sou um perdedor é oque me resta.

Estas são suas palavras, antes de se retirar e apertar a alça da sua mala em mãos. Aquela mala era tudo oque tinha até então.

As grandes portas lhe aguardavam ao lado de fora com a presença de jornalistas, curiosos com uma grande expectativa de conseguir uma boa matéria, alimentando aquele assunto massivo que tem estampado os jornais nos últimos dias.

Ele desviou-se de cada flash, cada implorar de apenas uma ou duas respostas para poucas perguntas. Deixou tudo para trás ao entrar em seu carro e analisar a carta em suas mãos, com a caligrafia e a assinatura de Rosetta. O selo ainda permanecia intacto devido ao fato de ser recente, nos últimos meses fora bom acumular mais cartas entre ele e o casal, acima da caligrafia de cartas gastas de Louis as quais Harry lera tantas vezes.

Ele nunca pode ouvir sua voz, nunca pode almejar se parecia algum canto angelical ou uma soneta em uma perfeita harmonia. Não tinha conhecimento do seu cheiro, nem tamanha ciência que era seu toque. E mesmo que nesta vida aquele suspiro já não jazia, Harry amou Louis, como o sol ama a lua.

Meu querido filho Harry, não consigo escrever-te algo o qual se compare a um abraço quente. Nestes últimos meses, sei que a vida não tem sido bondosa consigo. Porém, sei que haverá de ter justiça nos céus por uma alma que chora como a sua.

Em mais um pedido em meio a tantas cartas, venha rever-me. Ainda guardo tuas galochas que cabem tão perfeitamente apenas em teus pés, Guido já tem se recuperado das lesões para busca-lo na cidade, mesmo que você saiba o caminho. Desta vez, não aceito mais desculpas.
Com amor, Sette.

Cuidadosamente a carta é dobrada, a mesma é esquecida dentro da mala durante o percurso que é feito com o carro até sua casa. Ele não quer entrar, aqui nunca fora verdadeiramente um lar para se viver por tanto tempo, mas não lhe restava opções.

Harry subiu os degraus da frente do seu prédio, sentiu-se a deriva quando seu corpo encontrou os cômodos vazios e solitários da sua casa. A última garrafa de whisky ainda se encontrava sobre o balcão, quase pela metade com um copo virado ao seu lado. Sabia que aquela não era uma atitude digna de se admirar, mas havia noites que era quase insuportável aguentar o seu próprio choro.

A vida lhe havia tirado tudo, até mesmo o sentido. Perante os últimos meses, Harry apenas sobreviveu a cada dia doque realmente viver cada um deles.

Sobreviver, era diferente de viver.

Arrumou as malas, se naquele lugar não havia mais sentido, haveria de ter em outro lugar. Sem bússola, seguiu o caminho que meses atrás percorreu em busca de um grande amor. Agora, percorria em busca de um motivo para viver.

A última carta | L.S. Onde histórias criam vida. Descubra agora