Capitulo 2 - Tina

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O dia começou agitado, eram 5:30 da manhã e pra variar a Whitney acordou junto comigo quebrando tudo porque me recusei a lhe dar dinheiro para ir ao baile funk, ela precisa entender que não nasceu em família rica ou em berço de ouro, eu não ganho rios de dinheiro para ficar esbanjando por aí, sinceramente essa menina me dá dor de cabeça demais.

Desde bem pequena sempre foi muito rebelde, mas nunca imaginei que chegaria a tamanhas proporções, só quer saber de sair, beber e se meter com "pessoas" erradas. Estou pronta para cortar as suas asinhas.

Jhon ao contrário da irmã, é sempre muito amoroso, gentil e estudioso, passa praticamente o dia todo na escola particular e integral onde é bolsista e quando não está no colégio está em casa ou no projeto, jogando capoeira, e nas aulas de xadrez, sinto que este me encherá de orgulho no futuro.

Mesmo com todo o estresse da manhã, me lembrei de meu compromisso com a ONG e fui me arrumar pra visitar o covil dos Benevenuti, a empresa que aparentemente tem interesse de nos patrocinar.

Na falta de uma roupa mais apresentável, consegui emprestada com uma amiga uma saia lápis preta que usarei com uma blusinha de seda cor rosa antigo, nos pés colocarei um salto quadrado e discreto, no cabelo um coque frouxo e levemente desarrumado, por fim uma maquiagem básica que se resumiu em rímel, blush e gloss. Me olhei no espelho e gostei do resultado, nunca fui uma garota da noite, as vezes ia ao baile funk, ou encontros de rap e hip hop, mas era sempre a Joana quem me auxiliava com todo o processo, confesso que nunca tive muito talento para isso.

Com as pastas na mão, bolsa no ombro e o táxi na porta, estava pronta pra convencer os Benevenutti do quanto o futuro dessas crianças dependiam da boa vontade e iniciativa dos próprios, essa ajuda era algo que pra esse império não faria diferença alguma, mas que para toda gente daquela favela, significava a salvação de algumas vidas. Se eu fizesse eles acreditarem 1/3 do que eu acredito nessa causa, tudo estaria resolvido.

Ao por os pes para fora do sedan 2010, logo reparaei que a sede da Benevenutti International Cars® é linda, muito moderna e diferente de tudo que já vi, me senti entrando em outra dimençao, em outro mundo muito diferente do meu.

Bem, eu também cheguei um pouco atrasada, infelizmente o transito estava horrível e não colaborou, por isso, por um momento temi não ser mais recebida pelo senhor Benevenutti. Por sorte, logo a porta, fui abordada pelos seguranças que me deram além de um crachá de visitante, uma indicação sobre a direção que me levaria a secretaria da presidência. Era um bom sinal!

Ao chegar ao 31° andar logo me deparei con uma senhora sentada em uma grande mesa, ela estava concentrada e encurvada sobre alguns papéis, após estuda-la, raspei a garganta para lhe chamar a atenção...

- Bom dia, meu nome é Tina da Silva sou a representante da EducAfro sede Brasilândia, estou aqui para uma entrevista com o Sr. Benevenutti. - me apresentei e isso bastou para que ela se levantasse e me desse um sorriso doce, ganhando minha simpatia de imediato.

- Ah sim! Bom dia Srta Tina, vou avisa-lo da sua chegada, um minuto sim? - fez o gesto com o dedo indicador e apanhou o telefone ainda sorrindo, eu apenas assenti e esperei.

- Srta? - a olhei num misto de pavor e esperança -o Sr. Benevenutti vai atende-la daqui a alguns instantes, - um imenso alivio tomou conta de meu corpo - como a senhora atrasou um pouco ele está resolvendo algumas assinaturas de contrato esta bem? - Enrrubreci de vergonha e culpa e me encaminhei para sala ao lado. 

A sala, a de espera é imensa e decorada com réplicas de carros antigos, As funcionárias trabalham vestidas de saia lapis e blaser na cor vinho, e uma blusa preta por baixo dele, os homens estão de terno preto e gravata vinho, acho que esse é o uniforme, fico feliz por não estar tão distoante do resto.

- Srta Tina - A secretária surge na sala me chamando -

- Sim Sra...

- Pode me chamar de Margô minha querida - sorriu, sim definitivamente eu gostei mesmo dela- Agora vamos, O Sr. Leonel vai recebe-la - Então é esse o nome dele LE.O.NEL - pronunciem encontrando a ponta da língua nos dentes a cada silaba - interessante - pensei seguindo Margô pelo corredor em direção a sala do todo poderoso.

- Pode entrar Srta Tina - Margô gentilmente abriu a imensa porta de sucupira escura da sala pra mim e sorrindo em resposta eu adentrei .

Intensos tremores fora o que senti quendo me depararei com o monumento em pessoa, era desconcertante como uma obra de arte surrealista, que eu me lembre eu só vi homens de seu porte em filmes, e em como todos eles, esse tambem é lindo! Louro rebelde de olhos azuis e penetrantes, o ar cheira a fortaleza,  não existe definição concreta para o que ele é, o que posso dizer é que sim seus oculos o deixam sexy,  completamente sexy. 

Recuperando meu controle, depois de caminhei lentamente até a sua mesa, ele estava de cabeça baixa lendo algo no seu notebook, assim que me aproximei disse ríspido.

- Sente-se. - a voz rouca me paralisou e eu permaneci em pé, não consegui me mover. - Não me ouviu? É surda?! - Sua ordem reberverou por todo o imenso escritorio - Ande, sente-se garota não tenho o dia todo! Vamos começar logo com essa merda de entrevista. - Mas que droga de homem grosso e sem educação é esse?
- B..bem e..eu vim aqui pra representar a ONG EducAfro Brasilândia que está em busca de patrocínio, esclarecendo assim quaisquer dúvidas que o senhor e sua empresa tenham a respeito do nosso trabalho já que se mostraram interessados em nos auxiliar - gaguejo no inicio mas depois retomo o controle da situação quando penso nas crianças da ONG.

- Eu sei o que você veio fazer aqui, não seja patética, você ao menos tem capacidade pra representar essa tal ONG? tem estudo? completou o ensino fundamental? - diz rindo com ar de deboche.

- Sr. Benevenutti, não que seja da sua conta mas já que perguntou tão educadamente, vou lhe responder: Eu só estudei até o ensino médio por que tive que ser a mãe dos meus irmãos, não é todo mundo que nasce em berço de ouro e assina Benevenutti. - Toma essa distraído - E vamos sim começar essa entrevista, faça logo as perguntas, porque foi pra isso que eu vim aqui, independente do meu grau de escolaridade - completo enquanto me parece desconcertado.

- Ok! Graças aos céus são só três perguntas que preciso que a senhorita responda, então me diga logo!! No que a nossa ajuda irá beneficiar vocês?. - disse com o rosto vermelho de raiva, mimado filha da puta.

- Nosso projeto existe desde Agosto de 2009 e consiste em oferecer atividades alternativas que ocupem o tempo vago das crianças e adolescentes da minha comunidade, essas atividades consistem em aulas de dança, artes e esportes, quando começamos tudo o espaço era perfeito as doações dos moradores e pequenas empresas cobriam nossas necessidades, mas a medida que o projeto foi conquistando a confiança dos moradores foi ganhando mais alunos, sem contar o crescimento populacional la no morro que é constante, por isso o espaço está cada vez menor, precisamos contruir um galpão equipado e isso só uma empresa como a do senhor pode ajudar - digo num tom orgulhoso.

- Então é isso, enquanto os marginais se enchem de filhos, sou eu que tenho que sustentar os marginaizinhos! Tá de brincadeira Comigo! - Sorriu sarcástico. O que? não acredito que ele disse isso! Que cara mais preconceituoso!

- Se você pensa assim porque demonstrou interesse em ajudar? Sinceramente não entendo porque vim perder meu tempo com você. - disse perdendo ainda mais a paciência.

- Meu pai me obrigou a aceitar essa palhaçada e como ele está doente eu resolvi aceitar. - disse praticamente gritando.

- Não grite comigo! você é um play boy muito do mau educado e preconceituoso, não tem o direito de me ofender e ofender o povo la do meu morro, em maioria somos trabalhadores, não precisamos agir na marginalidade, gente ruim existe em todo lugar e eu mesma acho que estou diante de uma - digo também quase gritando e apontando o dedo pra ele.

- Olha aqui sua favelada insolente, tome cuidado quando vai falar comigo não sou da sua laia, se seu pai e sua mãe não lhe ensinaram bons modos eu não posso fazer nada! Aliais acho que nem pai você deve ter, não deve nem saber quem é, e sua mãe deve ser dessas que caem bebadas e drogadas pelos cantos - gargalhou alto.

Quando ele disse isso eu chorei e solucei alto, não aguentei de tanta humilhação, ele tocou na minha ferida, no meu ponto fraco, como ele pode ser tão cruel e falar assim com as pessoas, por um momento vi algo como arrependimento em seus olhos e eu preferi correr, correr o mais longe que eu pudesse dali.

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