...que tudo começou...

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"Malu." – Travis disse assim que eu abri a porta.

"Travis?"

"Acho que sabe porquê estou aqui..."

"Sei... Sinto mui-"

"Aqui não." – Olhei para ele confusa e ele me entregou um papel preto – "Me encontre no endereço aí escrito, à hora escrita. Não se atrase."

Ele se virou e começou a andar.

"Travis! Espere!"

Ele simplesmente continuou andando. Olhei para o papel que ele me entregou e vi que o endereço era de um armazém bem distante da cidade. A hora? 14:54. Exactamente a hora da morte de Antoine...

Faltava o dia. Como é que eu saberia o dia?

Eu soube.

Não foi difícil. Bastou virar para o calendário e ver um dia marcado lá. Um dia que eu não marquei de jeito algum porque só toco naquela calendário para mudar de mês.

No dia marcado, eu fui lá. Saí bem cedo de casa para ter tempo de parar para comer e descansar. Quando cheguei ao armazém, eram 14:50 então esperei até às 14:54 para entrar. Enquanto esperava, ouvi uns barulhos estranhos à uma distância considerável. Quando tocaram 14:54, entrei sem hesitar.

O armazém era escuro e havia apenas uma cadeira com um papel colado dizendo "sente-se". Com algum receio, me sentei é a porta se fechou.

"Alguém?" – Eu disse e segurei o celular para iluminar o local mas senti-o sendo tirado da minha mão.

"Você viu mais alguém seguindo você?" – Disse uma voz familiar.

"Travis?"

As luzes se acenderam e, com alguma dificuldade, consegui enxergar o resto do local. Não havia mesmo nada a não ser a cadeira naquele compartimento.

"O que quer dizer com mais alguém?"

"Melhor esquecer..."

"O que está se passando?"

"Eu sei quem você é Malu." – Eu me contorci.

"Não sei do que fala."

Ele se curva até mim.

"Maria Lúcia de La Cruz Gonzaga. Nascida aos 13 de Outubro de 1994 em Tulancingo, Hidalgo. Filha de Luís Marcos Gonzaga e Teresa Molín de La Cruz Gonzaga." – Desviei o olhar e me mantive calada – "Agora já sabe que sei o que aconteceu de verdade."

"Eu não tive nada a ver com o que aconteceu, Travis."

"Eu sei. A culpa disso foi minha. Eu não o devia ter deixado se aproximar de você..."

"Quem é você?"

Ele tirou um distintivo da Interpol e sorriu para mim.

"Travis Müller, Interpol."

"Aí, como é que eu sei que esse seu nome é verdadeiro?"

"Você não precisa saber nada sobre mim. Eu é que preciso saber coisas sobre você." – Eu revirei os olhos – "Comece pelo facto de não fazer parte do clã da sua família..."

"Vou-me embora." – Eu levantei e ele se afastou.

"Pode ir, está à vontade." – Andei até a porta – "Só não esqueça que assim que falou comigo, está em perigo."

Eu parei e virei para ele.

"O que quer?"

"Quero saber se posso confiar em você."

"Para quê?"

"Vai saber."

"Então não."

Virei de novo para a porta.

"Malu. Pense bem. Sua vida está em jogo. Não quer que ela esteja em jogo pelo bem?"

"Eu não quero que ela esteja em jogo." – Me virei para ele e ele se aproxima de mim e sorri.

"Você nasceu no jogo. Não pode fazer nada quanto a isso. Mas pode me ajudar."

"A colocá-los na cadeia? Gostaria muito mas não posso."

"Porquê?"

"Porque não faço parte do clã." – Ele se endireitou – "Não fazendo parte do clã, não sei de nada. Não sabendo de nada, não posso ajudar você."

"Tudo bem."

"Tudo bem?"

"Isso. Tudo bem."

"Como assim?"

"Você não faz parte do clã e não sabe de nada. Então, não me serve de nada. Adeus."

Coloquei a mão na maçaneta e me arrepiei com o som da voz de Travis na minha orelha.

"Apenas saiba que se for..." – Ele disse calmamente – "...poderá nunca ser livre. Nunca conseguirá ser alguém sem ser sempre assombrada pelo facto de que você nasceu naquele clã e que a qualquer momento pode morrer por isso."

Fechei meus olhos e respirei fundo.

"Acredite, eu quero ajudar mas não posso fazer nada..."

"Todo mundo pode fazer alguma coisa. Nem que seja mínima."

Abri meus olhos e me virei para ele, estando nariz a nariz com ele.

"Está bem. Eu aceito."

GONZAGA (Não editado)Onde histórias criam vida. Descubra agora