De manhã cedo, por volta das 6 horas, ouvi um carro arrancar e os portões da casa se fecharem. Desci e encontrei todos os meus tios e primos reunidos na sala, assim como Yuri e Manuel. Achei estranho que para uma simples troca negociante meu pai e minha mãe tivessem que ir, juntos.
Chamei Yuri para um canto e perguntei o que se passava.
"Eu não sei, ninguém diz nada." – Disse.
"E Manuel?"
Ambos olhamos para Manuel e o chamámos.
"Diga o que sabe." – Eu disse.
"O mesmo que vocês dois sabem, seus bullies." – Ele disse.
"Hm..." – Yuri disse e segurou minha mão – "Venha."
Ele me levou até ao quarto dele, onde estava um celular bastante estranho.
"Talvez Raul saiba..." – Yuri disse e ligou o celular, que desligou imediatamente – "O..."
"Todas as ligações foram cortadas." – Disse Travis, surgindo do nada – "Estamos presos aqui."
"Pensei que já tivesse ido embora." – Eu disse.
"Não pude." – Travis disse.
"Sabe alguma coisa mais?" – Yuri perguntou.
"Sim. Sei que essa será a última troca da família. Sei que Carina está naquele camião e sei que eles foram lá buscá-la." – Disse Travis – "Sei que eles nos prenderam aqui pensando que estaríamos em segurança mas eles não sabem que o inimigo está aqui dentro."
"Quem é o inimigo?" – Yuri perguntou e a porta se fechou.
Por estar um dia chuvoso, o quarto ficou muito escuro e não dava para ver quem fechou.
"Deviam prestar atenção às massas." – Disse a pessoa.
"Essa voz..." – Eu disse.
"Teresa." – Disse Yuri.
"Porquê...?" – Eu disse.
"Muito simples. Seu pai é um homem cruel sem escrúpulos... sem ofensa..." – Disse Travis – "Tal como vocês, Teresa tinha uma irmã, a melhor amiga de Carina."
"Adriana..." – Eu disse.
"No dia em que alguém morreu, esse alguém era Adriana, não Carina." – Travis continuou.
"Ela era a minha única irmã." – Disse Teresa – "Seu pai a tirou de mim então meu pai tirou Carina de vocês."
"Ela está voltando, não é mesmo?" – Eu perguntei.
"Não!" – Disse Teresa – "Não porque não haverá um sítio ao qual voltar."
"Não..." – Eu disse e ela saiu e trancou a porta.
Fui muito lenta para a alcançar, Yuri estava em choque mas não entendi porquê Travis não se mexeu. Olhei para ele e vi que estava sangrando muito no abdómen e por isso não se moveu.
"O que aconteceu?" – Perguntei enquanto corri para perto dele.
"Passei a existir." – Disse sorrindo.
"Me deixe ver."
"Não adianta. Sabe fazer curativos de bala? E, se sim, fará com o quê?"
"Simplesmente me deixe ver." – Estiquei minha mão e ele se contorceu.
"Não."
"Está bem mas eu não vou sair do seu lado."
"Faça o que quiser."
Olhei para Yuri e vi que ainda não se mexeu.
"Yuri, venha aqui." – Eu disse e, sem resmungar, ele andou até mim e se sentou ao meu lado – "O que foi?"
Ele sorriu desesperadamente.
"É inesperado, só isso." – Ele disse – "Agora preciso de pensar..."
Yuri andou até à janela e se sentou lá . Travis olhou para mim de novo e sorriu ainda mais
"Ah... A hemorragia parou..." – Disse.
"Como?" – Eu perguntei e ele tirou as mãos do abdómen.
"Deve ter sido um milagre." – Disse e fechou os olhos.
"Não. Olhe para mim." – Segurei o seu rosto e o fiz abrir os olhos e olhar para mim – "Não durma."
"Eu sei o que não devo fazer mas ultimamente tem sido difícil evitar. Você torna difícil, Malu." – Fiquei especada olhando para ele – "O que você está fazendo é muito perigoso..." – Fechou os olhos de novo – "Eu aconselho seriamente a se afastar de mim."
"Só se me disser o porquê."
"Acredite, não vai querer saber."
"Ma-"
"Essa casa vai explodir e eu estou "ferido" demais para tentar fugir. Há um túnel que dá para a sala dentro do armário."
""Ferido"?"
"No escritório de seu pai há um alçapão que dá para a cave. Lá há um corredor que dá para os estábulos. Subam para os cavalos e não olhem para trás."
"Travis, não podemos deixar você aqui."
"Não podem ficar aqui, isso sim."
Yuri andou até nós e me ofereceu sua mão.
"Vamos Malu." – Disse Yuri.
"Não adianta me ajudar. Eu vou morrer de qualquer jeito." – Disse Travis.
"Tem a certeza de que ela não sabe sobre os túneis?" – Perguntei.
"Seu pai guarda o dinheiro lá. Não tem como ela saber." – Disse Travis.
"Como é que você sabe?" – Perguntei.
"Uma vez coloquei uma câmera em seu pai. Me arrependo até hoje de ter visto certas coisas mas valeu a pena."
"Que horror." – Eu disse.
"Preferia nem saber." – Yuri disse.
"Enfim... Vamos..." – Eu disse e me levantei segurando a mão de Yuri – "Foi bom te conhecer."
"Também foi bom conhecer vocês." – Disse Travis e sorriu – "Vejo-vos do outro lado."
Tentei mas fiquei sem forças para responder e Yuri me puxou para o armário.
Quando chegamos à sala, todos olharam para nós com admiração, incluindo Manuel.
"Não há tempo para explicar." – Eu disse a Manuel – "Diga a todos para nos seguirem."
Corremos até ao escritório e encontrámos o alçapão depressa. Descemos e chegámos aos estábulos. Todos foram embora, restava eu, Manuel e Yuri.
"Já há tempo agora?" – Perguntou Manuel.
"Melhor eu explicar." – Disse meu tio António, aparecendo do nada – "Vocês tentaram me enganar."
"Não pode ser..." – Eu disse.
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GONZAGA (Não editado)
MaceraMalu se vê numa posição complicada quando descobre vários segredos de sua família e tem de entrega-la às autoridades.