Atrito e atracção.

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Cheguei ao meu quarto e tranquei a porta e me assustei com o soar de uma voz.

"Porquê não acende a lâmpada primeiro?" – Perguntou a voz e eu me virei para ver quem era – "Acenda."

Acendi a lâmpada e me aliviei ao ver que era Travis.

"Ai..." – Eu disse e coloquei minhas mãos em meu peito – "É você..."

"Devia ter mais cuidado." – Ele disse e se levantou de onde estava sentado.

"Confiei na segurança dos dois lados."

Ele andou até mim e  me olhou de cima a baixo.

"Você está feliz." – Disse – "Algo aconteceu..."

"O que quer dizer com isso...?"

"Estava nervosa e chateada por vir aqui. Agora, está radiante... O que ele disse para você?"

"Você não ouviu?" – Ele segurou o meu novo celular – "Ah, entendi..."

Ele me entregou o celular.

"Não se esqueça dele de novo." – Sussurrou. Não sabia o porquê mas sua voz me arrepiava quando sussurrasse – "É aquilo que te mantém segura."

Apenas concordei com a cabeça porque estava perto demais de mim.

"Agora tenho de ir..." – Continuou – "É muito perigoso estar aqui."

"Con-concordo..." – Engoli a seco.

Ele sorriu.

"Está tensa..." – Disse – "Acabou de demonstrar felicidade. Para onde foi?"

"Porquê está sussurrando...?"

"Também está sussurrando."

"Porque está sussurrando."

"Estou sussurrando por precaução. Não dá para falar muito alto ou podem nos ouvir e aí seria o fim dessa operação."

"Só o facto de estar aqui podia colocar o fim à operação..."

Ele se curvou para mim e eu me afastei cerca de 2cm.

"Eu gosto de estar aqui."

"Está correndo riscos muito altos por um gosto, não acha?"

"Não. Principalmente se envolve ver você."

Me arrepiei ainda mais e comecei a transpirar.

"Tra-Travis, isso não é... uma boa ideia..."

"O quê que não é uma boa ideia?"

"Acho que sabe..."

Se afastou de mim e se sentou na cama, cruzando as pernas.

"Malu, esse não é o meu objectivo. Acho que já devia saber." – Simplesmente olhei para ele e tentei acalmar o meu coração que estava palpitando loucamente graças ao excesso de adrenalina – "O que me importa é concluir essa missão. Mas, claro, há que te proteger.

"Eu..."

"Não se explique." – Disse sorrindo – "Eu entendo."

Levantou e andou até a janela, abriu e colocou uma perna fora.

"Ah, amanhã começará o seu papel." – Ele disse e olhou para baixo pela janela – "Você não me conhece e nunca me viu na vida."

"Isso... Mas eles conhecem você..."

"Eles conhecem meu irmão, não eu."

"Como é que isso é possível?"

"Simples." – Ele olhou para mim – "Eu não existo."

Com essas palavras, ele se atirou pela janela e eu dei um grito. Corri para a janela e não vi nada nem ninguém. Era como se tivesse evaporado no ar. De repente, Manuel abriu a porta e entrou correndo.

"O que foi? O que aconteceu?" – Perguntou.

"O quê?" – Eu disse olhando para ele.

"Você gritou, Malu."

"Ah, foi... um bicho... Assustei, só isso..."

Ele olhou para mim com um ar meio desconfiado.

"Como entrou?"

"Como assim? A porta nem estava fechada sequer."

Um choque me passou pelo corpo todo. Olhei para a porta e vi que a tranquei fora do trinco.

"Ah..." – Ele estreitou os olhos – "O que está esperando? Vá embora!"

Com um meio pulo, se virou e puxou a porta. Andei até ela e destranquei e tranquei bem.

Me deitei na cama e fechei os olhos. Estava cansada da viagem de cerca de duas horas...
Rapidamente adormeci e comecei a sonhar. Sonhei com a Carina e com o dia que ela morreu... Eu tinha apenas 12 anos...

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"Carina?" – Eu disse enquanto procurava por ela pela casa e me aproximava do sótão – "Você está aí?"

"Acho que ela saiu..." – Disse Yuri, que estava procurando por ela comigo.

"Eu não a vi sair. Ela veio por aqui, tenho a certeza..."

Abri a porta do sótão e comecei a descer.

"Espere. Papai disse para nunca entrarmos aí..."

"Não está curioso para saber o que tem ali?"

"Não."

"Ah, está bem. Vamos ver lá fora..."

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"Malu?"

"Ah!"

"Me desculpe..."

"Não faz mal... Como entrou aqui?"

"Eu tenho a chave de todos os quartos... A propósito, seu pai pediu para não trancar mais a porta."

"Está bem..."

"O pequeno-almoço está servido."

"Está bem, já lá vou..."

"Ahm... Malu...?"

"Sim?"

"Bem-vinda de volta."

"Obrigada Teresa mas eu não vim para ficar."

"Entendo..."

Ela se virou e foi embora, fechando a porta.

GONZAGA (Não editado)Onde histórias criam vida. Descubra agora