Prólogo

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Lábios macios e úmidos o acordaram. Não era uma sensação nova; muito pelo contrário; a boca de Hyunwoo em seu corpo era uma constante em seus dias. Mas ser rotineiro não fazia com que Kihyun deixasse de sentir arrepios ao senti-lo tão próximo, acordando-o tão carinhosamente. Shownu acordá-lo com beijos gentis havia se tornado uma tradição entre os dois, assim como muitas outras que os dois haviam criado em nove anos de relacionamento.

Haviam se conhecido ainda muito jovens, na escola do bairro que ambos moravam. Na época, Kihyun ainda vivia grudado com Jooheon e Hyungwon, andavam em bando, como a maioria dos adolescentes. Era como se precisassem estar juntos, a personalidade de cada um deles estava diretamente vinculada com a identidade do grupo. Gostavam das mesmas coisas, viam os mesmos filmes, escutavam as mesmas músicas, tinham o mesmo vocabulário.

Hyunwoo, ao contrário, estava sempre sozinho, mergulhado demais na identidade do seu pai para criar uma própria. Andava com livros clássicos na mão, todos recomendados por sua família, que esperavam que Shownu fosse mais do que um herdeiro comum, queriam que ele fosse um intelectual, o melhor homem possível para gerenciar o império que estavam construindo na indústria de carros.

Foi exatamente os livros nas mãos daquele rapaz alto e quieto que chamaram a atenção de Kihyun, não o próprio Shownu, pelo menos não a princípio. O amor pela literatura era um dos poucos pontos da personalidade de Kihyun que não se cruzava com os interesses do grupo que participava. Seu tempo na biblioteca ou em sua casa lendo era algo muito particular seu, um dos poucos momentos em que estava completamente só. Pelo menos até o momento em que conheceu Hyunwoo.

Sentado no fundo da biblioteca, encolhido em seu casaco e se escondendo do barulho do pátio, Kihyun estava distraído em um dos romances de Jane Austen. Ele não era exatamente um rapaz romântico, gostava de pensar que o amor não era algo que mexia consigo, no entanto, durante aquela tarde, Kihyun havia se rendido a prestigiada escritora inglesa. Estava entretido na mundialmente famosa história de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy quando pernas longas e fortes se chocaram contra seu corpo. Sua boca suja trabalhou mais rápido que sua racionalidade e ele já estava xingando o "desgraçado' que havia tombado em si.

Quando percebeu os olhos assustados de Shownu, seu corpo grande e forte retraído, e seus pedidos de desculpas repentinos, Kihyun imediatamente relaxou o rosto e sorriu divertido. Assim que Hyunwoo o questionou sobre a razão de seu divertimento, Kihyun disse em tom de brincadeira que Shownu reagiu como se tivesse pisado na patinha de um cachorro e que havia achado sua reação bastante fofa para um rapaz daquele tamanho.

Depois daquela conversa estranha, os dois se aproximaram de vez. Hyunwoo, aos pouquinhos, foi sendo introduzido ao grupo. Felizmente todos se conectaram de maneira intensa e verdadeira. Kihyun sempre via Shownu conversando por horas com Hyungwon, os dois entediam bem a pressão de vir de uma família rica e tradicional. Diferente do próprio Kihyun e Jooheon, que eram bolsistas e tinham pais menos conservadores.

Também era divertido ver Jooheon e Shownu falando sobre música, assunto do qual Kihyun normalmente fazia parte também. Anteriormente, Hyunwoo não teve muito contato com a música, afinal não era do interesse dos seus pais e avós que ele seguisse a carreira artística, mas Jooheon lhe apresentou aquele mundo e Shownu mergulhou nele de cabeça, finalmente construindo gostos próprios, sem a influência familiar.

Já com o próprio Kihyun, a relação era muito mais intensa e confusa. Eles não costumavam ficar muito tempo sozinhos ou, estranhamente, surgia uma aura de constrangimento e vergonha. Seus rostos ganhavam tons rosados, suas palavras saiam sem sentido e seus corpos pareciam energizados por uma sensação que ambos ainda não compreendiam. Demoraram a perceber que todos aqueles "sintomas" representava algo novo para ambos: o primeiro amor.

Flores de Inverno ♡ changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora