Caos

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            O som do disparo era absolutamente próximo e provou uma série de sensações físicas no corpo sensível e assustado de Kihyun: o ouvido chiando, a adrenalina o fazendo abaixar-se involuntariamente, seu corpo buscando desesperadamente proteger-se daquele perigo eminente. Contudo, absolutamente nenhuma daquelas sensações corpóreas chamavam verdadeira atenção de Kihyun. Isso porque ele estava dominado por um terror psicológico terrível, praticamente o sufocando, seus sentimentos de medo, preocupação e pânico eram tudo o que Kihyun vivenciava naquele momento. A ideia de que Changkyun ou Wonho pudessem estar machucados... Mortos. Só a menção daquela possibilidade em sua mente perturbada levou Kihyun a sentir uma angustia profunda, seus olhos automaticamente umedecendo, um soluço seco e alto cortando sua garganta e ecoando naquele carro que agora, sem Shin Hosoek, parecia absolutamente silencioso.

Guiado por sua preocupação, pelo seu pensamento de que precisava ajudá-los – ainda que, racionalmente, ele soubesse que nada poderia fazer em frente a uma arma de fogo –, Kihyun levou sua mão trêmula em direção à tranca do carro, preparado para deixá-lo, independentemente de como o faria. Entretanto, antes que pudesse realizar sua imprudente ação, o homem desconhecido deixou o beco, correndo de demonstrando completo desespero. A arma ainda estava em sua mão direita e - quando Kihyun percebeu que ele olhava os arredores - possivelmente procurando por testemunhas, seu corpo foi rápido, salvando-o dos olhares lunáticos do atirador. Ele agachou-se, abraçando a própria cabeça e a repousando em suas coxas, podendo sentir cada músculo do seu corpo trêmulo. Seus soluços eram baixinhos, sôfregos, entretanto, até mesmo aquele mínimo som, assustava Kihyun. Ele sabia que o homem estava longe, que o atirador não o escutaria, mas isso não o impediu de imaginar-se morto, sangrando naquele banco de carro velho, sem nunca poder chegar até aquele beco escuro e saber como Wonho e Changkyun estavam.

Foram questões de segundos para Kihyun escutar os passos do desconhecido, correndo para longe de sua audição, fugindo da cena do crime. Ainda assim, aquele curto período pareceu uma eternidade para um Yoo Kihyun apressado e em pânico. Não era uma questão de querer sair daquele carro, era uma necessidade, um desejo puro e imensurável de contemplar com seus próprios olhos que Changkyun e Wonho estavam bem. Ele tentava convencer-se, em um mantra para manter sua sanidade, que o tiro havia sido disparado em direção ao céu, à uma parede e, principalmente, que ninguém havia se machucado. Enquanto repetia aquilo para si incessantemente, Yoo ergueu sua cabeça, observando o homem virar a esquina e sumir da rua gigantesca e completamente deserta durante aquela tarde nublada de sábado.

Sair daquele carro e seguir em direção ao beco havia sido, definitivamente, a tarefa mais difícil e que mais exigiu de seu corpo durante toda sua vida. Durante aquelas últimas semanas, dias completamente mágicos e que Kihyun, ilusoriamente, considerou serem eternos, ele e Changkyun haviam avançado na fisioterapeuta. Conseguia ficar em pé por longos minutos, apenas com o apoio das muletas, até mesmo conseguia dar alguns passos cambaleantes quando estava acompanhado por alguém ou por algum apoio. Entretanto, o que estava tentando fazer naquele momento exigia muito mais de suas pernas ainda em recuperação. Exigia uma força que Kihyun precisou tirar de dentro de si. Era seu amor por Wonho e Changkyun, sua ânsia em ajudá-los, sua imparável coragem que o fizeram abrir a porta do veículo em um empurrão forte e colocar suas pernas finas para fora e encarar os quatro metros mais longos e angustiantes que já havia percorrido.

Inicialmente, sua caminhada estava sendo relativamente fácil. Ele tinha o apoio da lateria velha do veículo, sua mão trêmula segurava na porta do automóvel como se sua vida dependesse daquilo. A pele dos seus dedos doía em contato com o metal frio e áspero e a força com que ele colocava naquela porta era tanta que - quando ouviu o carro rangendo - ele questionou-se se a lataria resistiria ao seu peso até o final. Felizmente, a velha estrutura do carro manteve-se firme, permitindo que Kihyun a usasse para colocar-se em pé e dar alguns poucos passos para frente. Quando seus dedos apenas roçavam contra a porta escancarada do veículo, Kihyun percebeu que precisava fazer o que ainda não havia conseguido, algo que estava se preparando há semanas, mas que ele ainda não estava pronto. Precisava andar sem ninguém ao seu lado, sem qualquer apoio físico ou emocional. Aquela constatação o apavorou, o cegando por um momento e o fazendo quase gritar em desespero ao perceber que ainda estava tão distante de onde queria estar.

Flores de Inverno ♡ changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora