Era de se imaginar que quase vinte anos curaria qualquer rancor, mágoa e insegurança de corações despedaçados. Ao menos, foi o que Hoseok considerou quando semanas antes convidou Jooheon para um evento que aconteceria com sua antiga turma do ensino médio.
Ele não tinha qualquer obrigação em ir, sempre faltava aqueles compromissos tolos nos quais era apenas convidado por educação pelo antigo representante de turma porque estar novamente em sua antiga escola poderia reviver memórias de anos letivos solitários e tristes. Nunca pensou que reencontrar seus antigos colegas o faria bem, entretanto, a bala que recebeu próxima ao coração não o fez mais corajoso apenas para resgatar Princesa.
Quando adentrou aquele carro com Jooheon, banhado pela chuva e pela gloriosa sensação de coragem, Wonho ponderou que precisava enfrentar e curar aqueles que o magoaram por tantos anos. Era um adulto agora, longe de ser o rapaz desajeitado e de fisionomia frágil que aparentava ser em seu colegial. Não precisava mais temer os olhares atravessados e as bocas retorcidas em nojo quando descobriram que ele também gostava de rapazes.
Amava seu corpo – o do seu passado e do seu presente –, pois, quando olhava para suas antigas fotos, Hoseok apenas conseguia pensar no quanto gostaria de abraçar aquele jovem Wonho e lhe dizer que não havia absolutamente nada de errado com quem ele era. Amou homens e mulheres durante sua vida e entendeu que não havia absolutamente nada de nojento ou errado naquilo. Sentia-se cada dia mais orgulhoso de quem era e pensava que aquele reencontro o faria demonstrar sua coragem não apenas para os antigos colegas de sala como, também e principalmente, para si mesmo.
Tentou pensar que o receio que o atingiu durante o final daquela tarde não era um sinal de fracasso. Enquanto se observava no espelho e contemplava sua imagem elegante, abotoando a camisa social preta, Wonho desceu o olhar para cicatriz que cobria seu peito, pensando que poderia sobreviver aos seus medos. Havia sobrevivido ao seu relacionamento com Kwan, a anos terríveis na escola, a uma bala que poderia ter sido fatal, mas que não deixou nada mais do que uma cicatriz e muita coragem em seu peito.
Terminando de deslocar o último botão para seu lugar, Hoseok tentou sorrir para o espelho. Estava bonito e, inconscientemente, ele fantasiou que Jooheon iria elogiá-lo durante aquela noite, quando fosse buscá-lo em seu apartamento. Sabia que não deveria colocar expectativas demais naquele "encontro". Não havia chamado Jooheon com fins românticos – ao menos não intencionalmente – e, sim, para dar-lhe forças e motivação. Ironicamente, quanto mais pensava no mais novo, mais Wonho sentia-se nervoso a respeito de encontrá-lo. Seus colegas maldosos da escola entrando em segundo plano. Tudo o que ele conseguia pensar era se Jooheon dançaria com ele no ginásio quando todos os casais se levantassem. Se conseguiria encará-lo nos olhos depois da última vez que o viu, no enterro do Sr. Im, focado demais em Minhyuk para percebê-lo.
A constatação que o atingiu naquele dia, observando-os de longe, sentindo tanto frio quanto Minhyuk mas não recebendo a mesma gentileza por parte do Lee mais novo, era dolorosamente real.
Estava se apaixonando.
Com as mãos estendidas com seu coração para alguém que nem mesmo era capaz de vê-lo para recebê-lo, Lee Jooheon não estava preparado ou mesmo ansiando por cuidar do seu coração ferido. Ele estava muito ocupado encarando os fios dourados de Minhyuk, seu sorriso largo e luminoso como o brilho das estrelas, perdido na tristeza que era não o ter para si.
E Shin Hoseok não estava cego pelos seus sentimentos, como o próprio Jooheon, para não perceber aquilo.
Mas gostaria de estar.
Gostaria de não se criticar tanto por toda manhã, ainda com os olhos inchados de sono, buscar por seu celular na cabeceira da cama e enviar mensagens de bom dia para o mais novo. Ansiava pelo momento em que seu coração não batesse tão rápido com um simples toque em seu celular, indicando que ele havia respondido, sempre sendo gentil e engraçado, exatamente da forma como Hoseok tanto gostava. Odiava o sorriso que se abria em seu rosto durante aqueles últimos dias ao receber vídeos e fotos bobas suas, mesmo após sua constatação de que Jooheon não retribuía seus sentimentos da mesma forma.
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Flores de Inverno ♡ changki
RomanceUm namorado perfeito, amigos de infância fiéis e sempre presentes, a perspectiva de ascender no trabalho. A vida de Yoo Kihyun estava nos trilhos, seguindo sempre em frente, em direção aos seus sonhos. No entanto, após um acidente de carro, Kihyun t...