"Mas..."

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Era final da manhã, mas o céu continuava fechado, sem nenhum sinal do sol para aquecer suas peles gélidas. O luto de Changkyun impregnado em suas almas, seu choro reverberando por seus ouvidos., sua dor sendo sentida em menor escala por todos aqueles que estavam ao seu lado naquele enterro praticamente vazio. As únicas cores naquele ambiente de despedida eram das flores que Changkyun carregava em mãos, dos tons arroxeados e esverdeados do hematoma em seu rosto e dos seus olhos vermelhos pelo choro de horas. Ele estava tão machucado, física e emocionalmente, que ninguém parecia saber o que falar ou fazer para aplacar seu estado de completa ruína.

Exceto, Yoo Kihyun.

No fundo, ele estava tão perdido quanto os demais amigos, mas uma vida de provocações, sendo a maior delas a ausência de vida por quatro longos anos, o fez mais corajoso do que os demais. Não procurava por palavras certas – ele sabia que elas simplesmente não existiam para um momento como aquele –, também não havia qualquer abraço ou carinho que fosse tirar Changkyun do seu estado profundo de tristeza. Era inútil procurar ações ou frases prontas, mas também era uma completa falta de humanidade e sensibilidade deixá-lo. Portanto – sem recorrer às palavras gaguejas mas gentis de Jooheon ou aos abraços quentes de Minhyuk – aquele que teoricamente precisava saber a melhor forma de acalmá-lo, apenas segurava sua mão e encarava o caixão do senhor Im com um olhar respeitoso.

Estava sentado em sua cadeira de rodas, sem poder mover-se para qualquer outro lugar devido a grama alta que o prendia ali. Para chegar até Changkyun, ele precisou do esforço duplo de Minhyuk e Shownu, que o carregaram juntamente com a cadeira de rodas até a figura sofrida e imóvel do mais novo. Quando o antigo casal se afastou dos dois, eles ainda permaneceram relativamente próximos. Trajavam ternos caros, porém amassados, revelando que tiveram um longo dia até aquele momento, suas mãos unidas em frente ao corpo, enquanto, assim como o restante, aguardavam que o padre começasse a rezar pela alma daquele homem desconhecido para praticamente todos os presentes.

Estavam ali por Changkyun, mas, como se seus corações fossem um, todos os sete sentiram um aperto no peito quando um dos funcionários do cemitério retirou o lençol branco que cobria a fotografia de Im Joonwoo. Ele ainda era jovem, por mais que as drogas e o álcool tivessem acabado com boa parte de sua beleza, e seu sorriso... Seu sorriso era idêntico ao de Changkyun.

— Eu vou chamar o padre — Shownu disse com alguma impaciência para Hyungwon, tentando fazê-lo de maneira sussurrada, mas o silêncio possibilitando que todos presentes escutassem. Ele pediu desculpas para Changkyun quando o mais novo desviou lentamente os olhos em sua direção, mas o fisioterapeuta apenas balançou a cabeça, fazendo um sinal de que estava tudo bem. Não, nada estava bem, mas Hyunwoo estava certo. O padre estava absurdamente atrasado para pequena cerimônia de despedida.

— Queria que vocês tivessem se conhecido — Changkyun finalmente soltou suas primeiras palavras desde o momento em que, aos prantos da noite anterior, contou aos mais velhos sobre a morte do seu pai. Hyunwoo e Kihyun não tentaram arrancar mais informações, mas, como o encontraram em uma clínica para dependentes químicos, entenderam parcialmente a situação. As horas seguintes foram caóticas para Shownu, que se responsabilizou em organizar o enterro para que Changkyun não precisasse pensar em financias em um momento tão doloroso, e Kihyun sentia-se tão cansado quanto o empresário, com o acréscimo de estar com o coração destroçado.

Acompanhou o sofrimento Changkyun naqueles últimos dias de perto, tentou retirar a vergonha e a culpa que invadia seu peito, quis exterminar com seus medos e dores, planejou protegê-lo com Hyunwoo, mas, absolutamente nada preparou Kihyun para ver o homem que obviamente já amava passar por aquela noite de luto, angustia e dor. Foi difícil levá-lo para seu apartamento após chegar à clínica, ainda mais difícil foi fazê-lo ir para a cama. Era como se Changkyun estivesse tão consumido por dor que seu corpo estivesse paralisado, incapaz de seguir mesmo comandos simples.

Flores de Inverno ♡ changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora