Capítulo 8

1.4K 246 119
                                    

Thomas Harvey era o tipo de homem que tinha um bom faro para os negócios e ele acreditava de verdade no sucesso de Jude Hartford, mas nem ele poderia ter previsto o quão bem sucedidas as vendas seriam.

Peter conseguiu comprar uma cópia de "Onde Acaba a Liberdade e Começa a Lei" antes que elas esgotassem e compartilhou-a com Ed e o resto do grupo assim que acabou de ler. Até um professor deles foi visto levando uma cópia na mão pelo campus.

O livro se tornou tão popular que alguns revolucionários começaram a mencioná-lo em seus discursos e o coração de Jane derretia todas as vezes que ela os ouvia na casa do sr. Bentley. Ela dava seu melhor para não levantar suspeitas, especialmente porque o governo estava investigando muitos colunistas que discordavam de suas decisões, mas ela não podia evitar olhar de relance para Ge agora que ela estava acompanhando-a aos jantares. Havia sempre esse íntimo segundo entre as duas em que elas aproveitavam a ideia de que ambas sabiam algo que ninguém naquela sala (além de Eleanor) sabia.

Lady Georgie sempre tivera os Bentley em alta estima, mas nunca fora realmente interessada naquelas reuniões promovidas por eles. Foi somente porque Jane insistiu que ela precisava de uma distração que ela começou a comparecer regularmente, mas passou a gostar tanto que às vezes ia até mesmo sozinha.

Ela sempre admirara a irmã mais nova por causa de seu fascínio pelo conhecimento, mas somente agora ela começava a entender o porquê; o conhecimento era a única coisa que ninguém jamais poderia tirar delas.

Ge estava agora tão envolvida com os jantares que ficou frustrada quando pegou uma gripe e o médico a aconselhou que ficasse de repouso por algumas semanas. Quando finalmente pôde voltar, ela havia perdido muitas notícias empolgantes e Jane teve de apresentá-la a algumas agradáveis surpresas.

Em seu primeiro dia na casa de Bentley após a recuperação, ela e Jane estavam próximas à entrada quando um rapaz alto e alegre caminhou em sua direção.

– Lady Jane Hartford! – ele cantarolou como se estivesse se divertindo com cada sílaba.

– Sr. Dawson! – ela respondeu no mesmo tom empolgado. – Vais falar hoje à noite? Estou ansiosa para ouvir teu próximo discurso...

– E eu, para ouvir tuas reclamações! – ele disse aparentando estar sério de repente.

Jane congelou.

– Senhor, eu nunca quis...

Mas o sr. Dawson interrompeu-a rindo de sua reação.

– Oh, não te preocupes, Lady! – ele pegou a mão direita dela e sorriu cordialmente. – Eu aprecio teus comentários e planejo "roubar" boa parte deles, pois não fazem nada além de enriquecer meus textos.

Ela sorriu em resposta. Não havia nada melhor que ser elogiada por suas palavras.

– Agora... – ele virou para encarar Ge. – Céus, que indelicado de minha parte! Eu creio que não fomos apresentados. És irmã de Lady Jane, não?

Georgie arregalou os olhos sutilmente. Jane tinha cabelos escuros como o pai e Ge era loira como a mãe, o que significava que as características físicas similares entre elas não eram muito evidentes.

– Perdão, senhor, – disse Jane –, esta é Lady Georgiana Hartford, como nossa mãe. Ge, este é o sr. Arthur Dawson. Conhecemo-nos algumas semanas atrás aqui na casa do sr. Bentley; ele é aquele palestrante maravilhoso do qual falei...

Ele agradeceu à Jane com modéstia, então, depois que ele e Georgie performaram uma reverência, ela disse:

– Minha irmã pode ser bastante exigente, sr. Dawson. Se ela diz que és maravilhoso, significa que provavelmente és o melhor no país. Estava ansiosa para conhecê-lo.

Ele corou de maneira sutil, então pôs as mãos para trás e olhou rapidamente para a entrada para disfarçar.

– Espero que ela não tenha criado expectativas muito altas... – Arthur murmurou enquanto encarava os próprios sapatos.

Aquela era a primeira vez que Jane o via abandonar a postura extrovertida e parecer um pouco nervoso, mas isso logo desapareceu quando Georgie disse:

– Ela criou sim, mas tu superaste a todas.

Ele assentiu em gratidão e sorriu de novo, mas sem perceber.

– Estou curiosa... – falou Ge e ele imediatamente ergueu o queixo, dando-lhe atenção total.

– Não são muitas as pessoas que notam as semelhanças entre eu e Jane, – ela continuou –, como sabias que somos parentes?

Arthur fingiu engasgar.

– Ah, não! – ele disse. – Receio que tenhas descoberto meu segredo...

Ela ergueu uma sobrancelha e ele se aproximou sussurrando:

– Eu sou vidente.

As duas moças riram.

– Tudo bem, – Ge falou entre risadas –, prova então. Diz, senhor, o que estou pensando neste exato momento?

Ele estreitou o olhar e pôs uma mão na testa, murmurando como se estivesse lutando para ler a mente dela.

– Estás pensando... Que eu não sou vidente – ele respondeu fazendo-as rir mais alto.

Por favor, até eu poderia ter previsto isso – Jane interrompeu, mas notou que nenhum dos dois lhe deu muita atenção.

Ao invés disso, Ge aplaudiu e disse em tom de zombaria:

– Estou impressionada!

– Com tão pouco? – ele indagou. – Eu nem disse que agora estás pensando que em breve as pessoas vão começar a palestrar e eu ainda não a convidei para dançar comigo.

Ge olhou para baixo; ela certamente achava que o sr. Dawson era um homem agradável, mas não esperava pela proposta e Lockhart foi a primeira coisa que veio-lhe à cabeça quando a ouviu.

Ele observou a reação dela meticulosamente e quase decidiu que sua melhor opção era contar uma piada e fingir que o convite havia sido parte dela, mas ela olhou para cima de novo, encarou-o olhos nos olhos, e ele soube que só havia uma coisa que ele queria fazer.

– Podemos? – Arthur perguntou oferecendo a ela o braço esquerdo e Jane observou, paralisada, a irmã caminhar até o centro do salão de braços dados com ele.

Ela ainda estava processando o que acabara de acontecer ali. Ficara tão atônita que virou de uma vez e acabou esbarrando em alguém.

– Jane! – uma voz feminina comemorou. – Eu não sabia que virias hoje...

Jane sorriu ao reconhecer a amiga Eleanor.

– Sinto muito! – ela respondeu. – Eu pretendia enviar-te um bilhete, mas com todo o trabalho, esqueci...

– Ora, não há problema, eu só queria ter convidado Peter hoje para que pudesse apresentá-la a ele.

Jane estreitou o olhar e sorriu presunçosamente.

– É ele que...? – mas não havia necessidade de terminar a pergunta, pois a expressão de Eleanor confirmou. – Oh, Deus! Eu não acredito que perdi a oportunidade de conhecer o famoso Peter! O homem que conseguiu atender às altas expectativas da senhorita Bentley em relação ao casamento!

– De fato, ele condiz. Exceto por uma...

Jane inclinou a cabeça, confusa, e Eleanor continuou:

Propor o casamento!

Jane franziu o cenho.

– Achas que ele não deseja o matrimônio?

– Eu sei que sim. Peter já me deu várias dicas para que tivesse esperança e o amigo dele, sr. Hawkins, conta-me que ele tem sentimentos muito agradáveis por mim. Ele é muito desinibido, mas sempre que há a sugestão de tomar uma atitude, ele entra em pânico. Às vezes me pergunto se não deveria propor eu mesma...

Jane ergueu as sobrancelhas, então disse num tom brincalhão:

– E tu estavas com medo de que o casamento a deixaria menos revolucionária...

Jude & JaneOnde histórias criam vida. Descubra agora