Capítulo 12

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Poderia ter sido uma completa coincidência, mas a verdade é que Jane escolheu alugar aquele apartamento justamente porque percebeu que ele ficava perto de um endereço que ela estivera morrendo de vontade de visitar.

Entre as muitas cartas de agradecimento que o sr. Harvey lera para ela um mês antes, uma continha um convite e ela não conseguira pensar em outra coisa desde então. Ela poderia, é claro, ter visitado a autora da carta, sra. Brown, e perguntado sobre o Chá das Damas, mas ela estava nervosa demais para isso.

Jane pensava que a sra. Brown e as outras moças provavelmente tinham altas expectativas, que esperavam pela obstinada Jude, e por isso temia que se decepcionassem com sua personalidade pouco chamativa. Jude era como fogo nas páginas, mas Jane era frágil na vida real; não podia ser a heroína de alguém.

Não fosse pelo acordo que fizera com Georgie, ela provavelmente demoraria uma eternidade para ir até lá ou talvez nem fosse.

As irmãs decidiram que fariam, naquele dia, coisas que estiveram adiando por todo aquele tempo. Ge procuraria pelo sr. Dawson e explicaria a ele que sentia muito por ele ter sido mencionado no artigo e Jane se apresentaria para a sra. Brown.

A caminhada desde o prédio até a casa de chá da senhora foi demasiado agradável; tão agradável que até ajudou-a a relaxar um pouco.

Assim que Jane entrou, um homem ruivo sorridente se aproximou.

– Seja bem-vinda à Casa de Chá Brown! – ele disse animado. – Mesa para quantos?

Ela sorriu em resposta. Ele parecia muito gentil.

– Na verdade, estou procurando pela sra. Brown. Ela enviou-me uma carta...

– Oh, eu a chamarei imediatamente, então!

O homem andou uns dois passos na direção oposta, então virou-se para ela e disse:

– Peço perdão pelos meus modos, quem devo dizer que a chama?

Jane disse-lhe seu nome.

– Céus! – falou ele, rapidamente caminhando na direção dela de novo. – Victor Brown, – ele se apresentou com uma reverência –, encantado em conhecê-la, honestamente. Minha esposa e eu somos grandes, grandes admiradores de teu trabalho!

Jane sentiu a ansiedade tomar conta de seu corpo novamente, mas agradeceu educadamente.

– Eu irei chamar a sra. Brown agora – disse Victor quase correndo e com um sorriso ainda maior do que antes.

Não demorou muito para que uma mulher enérgica entrasse na sala murmurando coisas como "não brinques comigo, sr. Brown! Lady Hartford? Eu não acredito! Não deve ser ela...

– Shiu! – ele suplicou. – Ela está logo ali! Além disso, ela mesma disse-me o nome, confia em mim!

Jane não pôde evitar e sorrir para a mulher. Tanto ela quanto o marido sorriam de tal maneira que era impossível não se juntar a eles.

– Lady Hartford, estou tão feliz que decidiste visitar-me! Eu me chamo Grace Brown...

– Na verdade, este título é de minha irmã. Eu sou Lady Jane Hartford, mas não há necessidade de me chamar de lady, pois prefiro ser menos... formal. É adorável conhecê-la, sra. Brown! Fiquei extasiada ao saber do trabalho que tens feito, é impressionante.

– Eu pensei que tua irmã fosse casada... – comentou o sr. Brown e a esposa fitou-o, mas estava claro que ele não falara por mal.

– É... complicado – falou Jane, tentando mostrar que não havia se ofendido. – De qualquer forma, é como ela deseja ser chamada e eu respeito isso.

Ansiosa por mudar o assunto, Grace convidou Jane para sentar e ofereceu-lhe um pouco de chá.

Ela contou à Jane tudo sobre o Chá das Damas e ela ficou maravilhada.

Encontravam-se duas vezes por semana ali mesmo na casa e os homens podiam participar nas noites de terça, mas as segundas eram reservadas apenas para mulheres.

– É importante deixá-los participar e ouvir o que as meninas têm a dizer, – disse Grace –, mas mais do que isto, elas precisam de um ambiente seguro para compartilhar seus problemas e há certos assuntos que são mais difíceis de se falar na companhia masculina, ainda que tal companhia simpatize com nossa causa, como é o caso de meu marido...

Grace Brown até escreveu uma lista com os assuntos que seriam discutidos na reunião seguinte e Jane ficou subitamente muito ansiosa para assistir as discussões do grupo. Haviam temas realmente interessantes que ela nem sequer havia considerado e a mente dela ferveu com ideias novas enquanto ela relia a lista no caminho de volta para casa.

Quando Georgie chegou em casa, Jane já estivera escrevendo por pelo menos uma hora e demorou um pouco para que ela percebesse o quão mal-humorada estava a irmã mais velha.

No início, ela não disse nada, apenas movia os braços e fechava os olhos enquanto ria.

– Está tudo bem, Ge? – perguntou Jane.

– Ele culpou a mim! Dá para acreditar? A mim!

Jane pôs a pena de lado e Georgie jogou o chapéu no sofá dizendo:

– Eu fui até lá falar com ele por consideração. Eu entendo que deve ter sido vergonhoso e confuso ter o nome envolvido nesse escândalo com uma mulher casada, mas eu obviamente não tenho nada a ver com isso! Eu ia contar a ele, antes, que ainda sou casada, mas mesmo isto não era obrigação minha! Eu não devo nada a ele!

– Eu não entendo – falou Jane, caminhando até o sofá e sentando-se ao lado de Ge. – O quê exatamente o deixou chateado? O fato de que és casada?

– Não! Absolutamente não! Ele está chateado porque, aparentemente, eu sou uma mulher sem escrúpulos que esteve brincando com o marido e com o coração de um bom rapaz apenas para envergonhá-los! Como ele ousa julgar-me dessa maneira?! Eu estava preocupada esse tempo inteiro, pensando em como ele devia estar lidando com a situação e ele me diz, frente à frente, que eu estou me divertindo com o sofrimento dele...

Jane estreitou o olhar.

– Ele disse especificamente que sentia que tu estavas brincando com o coração dele?

Ge encarou Jane furiosa.

– Essa é a parte menos importante da conversa. Não consegues ver que ele só estava interessado na minha amizade enquanto pensava que teria algo em troca? Quão horrível é isto?!

Jane inclinou a cabeça e desviou o olhar. A irmã estava bastante zangada e ela temia que deixaria a situação pior se discordasse.

– Ge, – começou Jane com cuidado –, eu acho que ele só está se sentindo... enganado e desiludido. Quero dizer, ele disse coisas horríveis, mas eu não acho que era o que realmente queria dizer...

– Bem, fui eu que tive que ficar lá ouvindo tudo.

Jane viu Georgie erguer o queixo e desviar o olhar.

– Eu estou feliz que isso tenha acontecido – ela disse. – Agora não preciso mais me preocupar com o sr. Dawson porque nunca mais falarei com ele.

Dito isso, Ge levantou e foi para o quarto.

Jane continuou sentada no sofá, suspirando. Ela não sabia como colocar em palavras, mas algo lhe dizia que a reação de Arthur à visita de Georgie significava exatamente o contrário de tudo que ele havia dito.

Ela acariciou o queixo e murmurou para si:

– Mas como ele vai explicar isso para ela se ambos estão tão determinados a evitar um ao outro? Hum...

Jude & JaneOnde histórias criam vida. Descubra agora