A resistência era tímida no começo, mas sua determinação e a união rapidamente a levaram a outro patamar.
Philip Millman se sentia culpado por vender o Jornal do Amanhã, então doou todo o lucro da venda para o novo projeto de Thomas Harvey e Henry Bentley: A Voz do Povo, uma revista semanal que informava e atraía as pessoas para as reuniões das quais Murray falava tão mal.
Ela dependia principalmente de doações, era impressa no porão de Henry e muitos dos colunistas eram convidados regulares nos jantares, que nem sequer eram pagos para escrever.
Georgie teve de aceitar um emprego como garçonete na Casa de Chá de Grace Brown para ajudar Jane com as contas; Eleanor começou a consertar vestidos de amigas para permitir que Peter continuasse a escrever para a revista; e entre os trabalhos da universidade, seu trabalho numa loja de sapatos e suas aulas com Lord Hartford, Edmund ainda conseguia arranjar um tempinho para ajudar a distribuir a revista com Tom, Henry e outros voluntários.
Todos estavam fazendo um grandioso esforço para fazê-la funcionar. Eles mal tinham tempo ou dinheiro para qualquer coisa, mas a boa notícia era que tinham total liberdade no processo de criação e com o bônus de escutar algumas dicas de Millman.
Jane até publicou uma entrevista com Grace Brown, ajudando o Chá das Damas a ganhar mais reconhecimento e, infelizmente, a ficar sob o radar de Murray também. Ele decidiu incluí-la em sua lista de "inimigos públicos ao progresso do país" e isso levou a uma série de ameaças.
Henry já estava acostumado com ataques verbais antes de entrar para a lista, mas foram ainda mais duros com Grace, acusando-a de atrocidades e humilhando-a quando estava servindo às mesas.
A coisa ficou tão séria que o sr. Brown a proibiu de sair da cozinha porque ela chorava todas as noites e o único jeito que encontrou para persuadi-la foi contratando Georgie para ajudá-lo a servir.
Ameaças se tornaram parte do cotidiano dos escritores d'A Voz do Povo e de anfitriões como Grace e Henry. Pelo menos uma vez a cada duas semanas, a casa dele ou a casa de chá dela eram atacados com ovos ou tinta durante a noite; ainda assim, Murray era o único reclamando de ameaças e terrorismo o tempo todo.
Como previsto, mais jornais no país todo foram comprados por seus ricos apoiadores e sua popularidade continuou crescendo, especialmente depois que um dos membros do parlamento foi preso por corrupção.
Primeiro, Jane pensou que estas eram boas notícias, mas logo os outros membros distorceram-nas e transformaram-nas em uma arma para uso próprio.
Eles argumentaram que estavam contribuindo para "limpar" o parlamento, pois tinham um compromisso com a honestidade, mas na verdade eles apenas jogaram um ao mar para salvar a (falsa) reputação do resto do grupo. Era um completo golpe e embora Jane e seus amigos estivessem determinados a expô-lo, as pessoas acreditaram nele.
Todos os dias mais e mais pessoas começavam a pedir por uma Lei de Segurança Nacional que daria ao parlamento ainda mais poder do que já tinha e Lord Hartford já estava sendo pressionado para decidir em favor dela.
Ed e Jane concordaram que era apenas uma questão de tempo até que o assunto fosse de fato decidido no tribunal.
– Achas que ele realmente faria isso? – ele perguntou.
Seus ombros estavam encolhidos. Receava entrar num assunto tão delicado como o pai dela, mas ela não percebeu porque estava encarando a parede.
– Eu não sei... – ela suspirou. – Minha mãe e eu estivemos nos correspondendo por carta. Ela disse que ele evita o assunto sempre que ela o menciona, mas ela suspeita de que já tenham enviado-o os detalhes sobre o caso.
– Hm... Faz sentido. Tentei falar sobre na semana passada e logo ele me cortou. Provavelmente deve querer manter segredo enquanto puder, afinal, assim que tiverem certeza de que o caso está nas mãos dele, jamais terá paz.
– Não pressione-o – ela disse com firmeza. – Não deves incomodá-lo demais pelo bem de tua carreira.
Ed cruzou os braços. Ele é que já estava incomodado com a insistência dela.
– Eu sei, Jane – ele resmungou. – É que sinto que todos estão se sacrificando e eu não estou fazendo o suficiente para ajudar...
– Estás melhorando tua educação. Esta é a melhor maneira de ajudar. Se tudo der errado, é tudo que terás. Por que és tão teimoso? Não aguento mais repetir isso!
– Não aguento mais ter que escutar isso também... – ele murmurou, fazendo-a torcer os lábios.
– Escuta, queres obter informações? Tudo bem. Mas por Deus, cuidado! Estupidez não ajudará em nada agora, é a última coisa de que precisamos.
Foi a vez dele torcer os lábios, mas ele estivera encarando o teto enquanto ela falava e, assim que seus olhos encontraram as faíscas dos dela, ele corrigiu a postura e voltou atrás.
– Eu terei cuidado, não te preocupes – ele disse. – Eu entendo e aprecio teu esforço para que eu seja aluno dele... O que eu não entendo é esta tua obsessão com isso, mas essa é outra história...
Jane revirou os olhos impacientemente.
– Eu só queria que tu entendesses o quanto já estás ajudando ao aprender com ele, ao ter a chance de um dia estar onde ele está. Ele pode decidir, Ed. Tudo que eu posso fazer é passar fome para escrever alguns artigos para uma revista que sempre tem dificuldade para ser publicada e distribuída...
Edmund deu um sorriso tristonho e segurou a mão dela, que estava descansando sobre o joelho.
– Eu gostaria de poder ajudar, – disse ele –, mas estou tão falido quanto tu ou até mais...
Jane deu uma risadinha.
– É o preço da rebelião – disse dando de ombros.
– Ninguém me avisou que era tão caro – ele respondeu teatralmente. – Se eu soubesse, escolheria o lado dos nobres, talvez...
Jane estreitou os olhos desconfiada.
– Não, não escolherias – disse ela e Ed encolheu os ombros em concordância, apertando a mão dela carinhosamente.
– Tens razão.
Ed pausou.
Ele pensou em dizer que sempre escolheria o lado dela, mas desistiu. Ao invés, ele disse:
– Jamais escolheria outro lado.
Jane encarou a mão dele sobre a dela e usou a outra para acariciá-la.
– Nem mesmo se soubesses que nosso lado fracassa?
Ela então levantou o queixo, observando-o, e eles compartilharam alguns segundos de paz simplesmente admirando o sorriso um do outro.
– Especialmente se soubesse que nosso lado fracassa – ele respondeu.
Os lábios de Jane se curvaram num discreto sorriso e seus olhos brilharam por um segundo.
– Enquanto estivermos do lado em que acreditamos, – ele continuou –, já vencemos.
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Jude & Jane
Historical Fiction🏆 VENCEDOR DO THE WATTYS 2019 NA CATEGORIA FICÇÃO HISTÓRICA 🏆 Eleita uma das 50 Melhores Histórias de 2019 no @AmbassadorsPT (embaixadores do Wattpad) 🏆 1° Lugar no Concurso Best Stories 2019 - Ficção Histórica 🏆 1° Lugar no Concurso Descobrindo...