Capítulo 20

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– Eu sinto muito, sr. Hawkins – disse Lady Hartford tomando um gole de chá. – Era realmente uma emergência, do contrário ele teria tido ao menos a cortesia de cancelar a aula... Peço que o senhor perdoe-o, pois ele tem muitas preocupações agora com o julgamento tão próximo...

Edmund sorriu educadamente.

– Eu entendo, Lady Hartford – ele garantiu. – Nem consigo imaginar a pressão que ele deve estar sofrendo desde que o caso chegou ao Tribunal Supremo... Não se fala em outra coisa.

– De fato – ela pausou. – Estou bastante surpresa com a maneira como ele tem lidado com isso. Aparenta estar muito paciente quando as pessoas o perguntam sobre, mas Deus sabe o quanto tem perdido o sono como todos os outros! Eu tento acalmá-lo, mas admito que não estou muito melhor...

– Teu marido é um homem muito admirável, tenho certeza de que tomará a melhor decisão. Sinto-me muito sortudo por tê-lo como meu professor...

Lady Hartford sorriu pelo elogio, mas então ele a viu respirar pesadamente e pressionar os lábios ansiosamente ao pôr a xícara na mesa. A verdade é que nenhum dos dois tinha a certeza de que ele, de fato, tomaria a melhor decisão.

– Creio que não saibas disso, – ela disse em tom baixo –, mas Lady Jane contou-me sobre sua amizade através de cartas...

– Contou? – ele levantou as sobrancelhas.

– Sim, ela... – começou a Lady com cuidado. – Ela disse boas coisas sobre ti.

Ed prendeu a respiração. Não conseguia decifrar a natureza do tom sóbrio dela e perguntou-se se ela não apreciava a proximidade entre a filha e ele.

– Tu... – ele brincou com as mãos. – Tu não aprovas nossa amizade?

– Oh, céus! Não! – ela deu uma risadinha. – Eu aprovo, sim; julgo-o um rapaz muito agradável. Não é por isso que estou dizendo-te isso...

Ed esperou em silêncio. Normalmente ficava bem confortável ao redor dela, mas, agora que ela mencionara Jane, ele subitamente sentiu todo o corpo enrijecer.

– Sabes, tem algo que gostaria de contar a ela, – ela prosseguiu –, mas não acho sábio mencionar isso em uma carta. Como ela já deve ter dito a ti, ela não tem me visitado e o que tenho a compartilhar é informação valiosa.

Ele inclinou o tronco em expectativa. Seu corpo inteiro estava pesado, mergulhado em ansiedade, mas pensar que ela estava confiando a ele informação valiosa aumentou sua autoestima. Ele percebeu que queria mesmo que aquela mulher confiasse nele.

– Sabes quem é Vincent Sutton? – ela perguntou no mesmo tom cuidadoso.

Ele considerou por um momento.

– O sniper?

Ela assentiu.

– Ouvi dizer que demoraram anos para conseguir prendê-lo – disse ele. – Lembro-me vagamente... Acho que é aquele que diziam que quase nunca errava o alvo...

– De fato, não errava, – ela interrompeu –, por isso a ideia de que ele pode estar envolvido no recente ataque é tão contraditória.

Ed arregalou os olhos e deu um salto, quase dando um chute na mesinha de centro, pelo que se desculpou.

– Duas testemunhas reconheceram-no – ela continuou. – Poucas pessoas sabem disso; descobri quando fui procurar um livro no escritório de Lord Hartford... Não sei se seria uma boa ideia espalhar essa informação e por isso não confio em escrevê-la em uma carta. Lady Jane saberá decidir melhor que eu o que fazer.

– Não te preocupes, direi a ela pessoalmente assim que possível – disse ele. – Mas Sutton ainda está na cadeia, não está?

– Eu não tenho ideia – ela encolheu os ombros. – Eu pensava que sim, mas agora não tenho mais certeza de nada. São tempos sombrios estes que vivemos...

Edmund apoiou os cotovelos nos joelhos e cruzou os dedos, perdendo-se nos próprios pensamentos por um momento.

Havia alguma evidência de sua teoria, afinal. Não era suficiente para provar que o ataque havia sido planejado pelas próprias vítimas, mas era suficiente para levantar suspeitas, especialmente se Vincent Sutton fosse encontrado. Se ele era mesmo o autor do crime, por que havia errado o alvo se em tantas outras piores circunstâncias ele não o fez? Somente ele poderia responder isso.

Assim que deixou a mansão Bridgewood, Edmund foi ao apartamento de Jane e os dois decidiram contar à Tom e Henry as notícias do caso.

Tom sugeriu que não publicassem nada ainda. Primeiro, enviou Peter e Edmund para garantirem que Sutton não estava mais na prisão. Era um bom plano, considerando que qualquer outro homem do grupo teria sido facilmente reconhecido, mas não demorou muito para que a notícia de dois garotos desconhecidos fazendo perguntas demais chegasse aos ouvidos de Murray.

Para a frustração deles, antes que A Voz do Povo sequer tivesse chance de publicar a participação de Vincent Sutton no ataque, o Jornal do Amanhã (agora indiretamente controlado por Murray) o fez primeiro.

Como se não fosse suficiente, ambos Gilbert Egerton e Anthony Murray admitiram pela primeira vez em meses numa entrevista exclusiva ao jornal que haviam reconhecido Sutton como o atirador também, deixando os escritores d'A Voz do Povo sem nenhuma informação privilegiada.

Murray argumentou que os crimes de Sutton haviam sido perdoados em troca de informações sobre um membro corrupto do Parlamento (o mesmo que fora preso após o ataque) e que, ao invés de aproveitar a liberdade no exílio, como haviam concordado, Sutton decidira esconder-se. Então, de acordo com Murray, a oposição descobriu que Sutton estava escondido e começou a organizar "reuniões ilegais" periódicas que espalhavam mentiras sobre o governo para convencer pessoas inocentes a financiar o último ato de Sutton: o assassinato dos líderes do Parlamento.

Vincent Sutton, a única pessoa que poderia confirmar isso, aparentemente havia fugido do país depois do ataque fracassado.

Tal explicação era quase plausível e suficiente para alguns, mas ainda havia uma questão a ser respondida que deixou muitos desconfiados: por que Sutton havia falhado?

Essa era uma pergunta que A Voz do Povo nunca cansava de fazer e as pessoas estavam começando a escutá-la.

Jude & JaneOnde histórias criam vida. Descubra agora