(José Alexandre Aguiar)
Meus olhos pousaram na criatura que dormia calmamente em seu berço. Suspirei com pesar, recriminando-me mentalmente por não conseguir amá-lo. Aliás, retifico. É claro que eu amava Gael, afinal, ele era meu filho. Eu só não conseguia perdoá-lo por ter matado o amor da minha vida.
Sei que eu não deveria pensar assim. Ele não teve culpa. E além do mais, se Emilly pudesse optar pela sua vida ou a do filho, ela não teria feito diferente. Mas mesmo com a ajuda da minha mãe, de Richard e da minha psicóloga, eu não conseguia expulsar o rancor que havia se instalado dentro do meu peito.
Fechei a porta do quarto e me encaminhei até a sacada, pensando no que Richard havia me aconselhado. Desde o nascimento de Gael, eu trabalhava em casa, pois não queria deixá-lo com uma babá e futuramente me arrepender por não ter acompanhado seu crescimento. Entretanto, como Richard me apontara, eu não era o melhor pai do mundo. Gael já estava com 1 ano e 2 meses e eu mal o segurava no colo. Qualquer um poderia cuidar melhor dele do que eu. Respirei fundo e liguei para meu amigo, pedindo que o mesmo me arrumasse uma babá.
***
– Foi o melhor que você conseguiu? – Perguntei exasperado, não acreditando na escolha de Richard.
– Para com isso, Zé! Por que não dar uma chance para a menina? Ela é formada pelo Senac e ainda se mostrou muito mais eficiente do que você, que mal sabe trocar uma fralda! Fora que ela é uma lindeza, olha só. – Argumentou, carregado de segundas intenções, indicando a foto da menina; eu bem tentei negar, mas quando Richard colocava algo na cabeça, não havia quem o fizesse mudar de ideia. Ele usou a desculpa de que as outras mulheres que ele havia entrevistado eram velhas demais e não estavam aptas para cuidar de Gael.
***
(Thaís Andrade de Mello)Eu não esperava que fosse conseguir emprego assim que terminasse o curso. Dei risada ao lembrar que por muito pouco eu faltava à entrevista, pois não queria perder meu compromisso daquela manhã. Toda terça-feira minha mãe entrava uma hora mais cedo no trabalho e Renan, meu melhor amigo, passava em casa para fodermos loucamente.
Renan e eu crescemos juntos. Éramos vizinhos, amigos e colegas de classe. Na oitava série, ele foi desafiado a me roubar um beijo. Diz ele que topou o desafio, pois queria saber se o que sentia por mim, era mesmo só amizade. E era! Mas o beijo foi tão bom que concordamos em dar um passo a mais em nossa relação, tornando nossa amizade, uma amizade colorida.
“amigo, consegui o emprego!” – Enviei a mensagem para Renan e fui me arrumar, pois iria ao centro, comprar roupas apropriadas para o trabalho.
***
(José)
– Sente-se. – Pedi, indicando o sofá para a moça. – Richard falou muito bem de você! – Ela abriu um sorriso e se sentou ao meu lado; eu ainda estava com o pé atrás, mas nem por isso iria tratá-la grosseiramente.
– Ah... Fico feliz! – Respondeu timidamente.
– Então, Thaís, por enquanto eu vou continuar trabalhando em casa. Assim que eu pegar confiança em você, passo a trabalhar no meu escritório. Gael, apesar de mimado, é uma criança bem simples. Ele gosta de brincar, assistir e todas essas coisas que criança gosta. Como deve ter sido informada por Richard, minha esposa faleceu em seu nascimento e é daí quem vem toda a bajulação por parte da minha família. Não gosto disso e prefiro que não o faça! Ele tem que aprender desde cedo que não é não.
– Entendo...
– O quarto dele é a segunda porta a direita. Você tem livre acesso por toda a casa, menos pelo meu quarto, que fica na primeira porta. Richard falou que você cozinha?
– Sim...
– Eu adoraria ter que parar de comer comida congelada. Pensando na alimentação do Gael, minha mãe prepara a alimentação do mês e armazena no freezer. A comida não é ruim, muito pelo contrário, mas eu gosto mesmo de comida fresca. Se você puder cozinhar, dobro seu salário.
– Sem problema algum. – Respondeu animada.
– Mas eu tenho que aprovar o tempero. – Adverti.
– Posso preparar algo agora mesmo se quiser!
– Ótimo! – Sorri de lado. – Não sei se o Richard comentou, mas o trabalho é integral. Sua folga será nos finais de semana e feriados. – Ela assentiu, concordando. – Alguma dúvida?
– Irei dormir no quarto com Gael?
– Não! O quarto de hospedes fica na terceira porta também à direita. Você pode dormir e guardar suas coisas lá. E eu já esquecendo... Como estamos em setembro e o final de ano está logo aí, você vai sair de férias no dia 20 de dezembro e retornar no dia 5 de janeiro. Esses dias serão descontados das suas férias de um ano. Digo, isso se tudo der certo e o Gael se adaptar à ti. – Apresentei a casa para Thaís e a deixei com Gael. Eu os observava da sala, enquanto conferia alguns contratos. Confesso que julguei a moça mal. Ela era bastante prestativa e cuidadosa com meu filho, que pareceu gostar bastante dela. De fato Thaís sabia cozinhar e seu tempero fora aprovado, tanto por mim quanto por Gael, que milagrosamente, comeu toda a comida do prato sem reclamar.
***– Agora você pode admitir que é muito melhor ter essa coisinha linda circulando pela casa, do que uma senhora corcunda? – Rolei os olhos; eu sempre me perguntava o porquê de Richard ser meu melhor amigo. Ele parecia o Barney e eu o Ted.
– Você é treze anos mais velho que a menina. Para de ser nojento.
– Nojento por quê? As garotas na idade dela estão sempre à procura de caras mais velhos. Estão cansadas da falta de maturidade desses adolescentes que ainda usam fralda.
– Sim... – Assenti de forma presunçosa. – Mas elas estão à procura de maturidade, coisa que você não tem. Seu cérebro é igual o de um adolescente de 15 anos.
– Assim você me ofende! – Dramatizou; depois de enumerar os motivos pelos quais ele era um bom partido, Richard enfim me levou a sério e conversamos sobre a projeção do meu escritório. Apesar de ser um tremendo bobalhão, meu amigo era um arquiteto de renome.

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Uma babá exemplar
RomantizmJosé Alexandre Aguiar e Emilly Magaoa se conheceram no primeiro ano do ensino médio, quando José mudou de Americana para São Paulo. O caminho até a escola, as atividades extracurriculares e o círculo de amigos, facilitou para que ambos se apaixonass...