XIV

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- Boa tarde. - José cumprimentou, adentrando o quarto. Eu que estava lendo um livro, fechei o mesmo e o encarei. - Tudo bem?

- Nós precisamos conversar. - Falei séria me levantando e passando por ele.

- Eu sei que preciso me desculpar. - Respondeu ao me alcançar.

- Apenas com Gael, mas ele está dormindo agora.

- Com você também.

- Está desculpado. - Sorri falsamente e segui descendo as escadas.

- É sério. - Disse, tocando meu ombro. Respirei fundo e virei para encará-lo. - Me desculpa.

- José, eu quero minha demissão. - Não foi fácil tomar essa decisão, mas fora preciso. Por mais que me doesse deixar Gael, eu não podia continuar com aquilo. Quando optei por ser cuidadora infantil, nem de longe imaginei que fosse ter que lidar com alguém como José Alexandre.

- Oi?!

- Você ouviu.

- Por que? - Perguntou exasperado.

- Não era o que eu esperava. - Respondi simples. José deu risada, me colocando contra a parede. Cruzei os braços, fitando-o séria. - Onde está a graça?

- Por que? - Repetiu a pergunta, o que me fez rolar os olhos.

- Olha, eu tô cansada. - Respondi sincera. - Passei a noite em claro... Não dormi nada. Tô longe da minha família e não estou com paciência para lidar com suas oscilações de humor. Fora que você magoou o Gael e isso me deixou furiosa.

- E aí você decide nos abandonar?

- Abandonar? Eu não passo de uma simples funcionária, José. - Desdenhei. - Você tem dinheiro, pode achar outra babá aqui mesmo no navio. Fora que você nunca confiou em mim, não é?!

- Isso é passado! - Enfatizou. - Sou muito grato por você ter entrado em nossas vidas, Thaís. Graças à você, hoje tenho uma relação de pai e filho com Gael. Olha... - Disse coçando a cabeça. - Eu sei que errei ontem, mas você não pode simplesmente pedir demissão. Nós precisamos de você!

- Eu... - Hesitei. - Eu já tomei minha decisão. Desculpe. - Pedi; Emputecido, José deu um soco na parede, pegando-me de surpresa. Tentei me afastar, mas ele me segurou.

- Fica. - Nossos olhares se encontraram e eu pude ver o quão desesperado ele estava. - Por favor.

- Não dá! - Respondi abaixando a cabeça, mas ele segurou meu queixo, a fim de não desviar nosso contato visual.

- Por que?

- Você está confundindo as coisas, José.

- Tá me chamando de emocionado só porque transamos?

- Que? - Perguntei exasperada. - Óbvio que não! Aquilo foi algo que nós dois queríamos. Não tem nada a ver!

- E então?

- Você não tem que apelar para eu ficar.

- Como não?! Você entra na minha vida, organiza e bagunça tudo ao mesmo tempo, faz meu filho te amar e aí decide partir? Simples assim?

- Pense o que quiser. - Respondi já cansada. - Vou continuar olhando o Gael até você arrumar outra pessoa.

- É sua resposta final?

- Sim. - Respondi convicta.

- Tá certo. - Assentiu, enfim se afastando.

...

(José)

Tentei conseguir um vôo para São Paulo ainda no dia 25, mas por ser feriado de natal, tive que me contentar em viajar no dia seguinte. Sendo assim, na noite do dia 26 Thaís já estava em sua casa.

- Sem mais nem menos? - Richard perguntou após eu ter lhe contado sobre o ocorrido.

- Pois é. - Respondi, bebericando meu whisky. - Preciso que me ajude a encontrar uma nova babá pro Gael.

- Claro... Mas você vai ter que esperar a virada do ano.

- Sem problema.

...

Uma semana e meia depois, Thaís foi até meu escritório para receber sua rescisão. Falamos o necessário e ela perguntou sobre o Gael. Disse que estava tudo bem e que ela poderia visitá-lo sempre que quisesse.

- Obrigada. - Agradeceu pegando os papéis.

- Nos vemos por aí. - Falei estendendo-lhe a mão. Nos despedimos e ela foi embora, como tinha de ser.

...

Que eu precisava de uma nova babá, isso era fato. O problema é que Thaís havia me deixado mal acostumado e eu queria muito mais que alguém que fosse apenas cuidar do Gael. Queria alguém que acima de tudo, deixasse-o a vontade. Que cozinhasse pra nós, que se tornasse minha amiga. Thaís me tornou ainda mais exigente e 1 mês depois dela ter ido embora, eu ainda não havia encontrado alguém que a substituísse.

- Por que você não o deixa com sua mãe? - Richard sugeriu. - Ela é vó... Vai se sair muito bem.

No dia seguinte a conversa com Richard, conversei com minha mãe e ela concordou em olhar Gael temporariamente. O problema é que meu filho sentia a falta de Thaís e isso o deixava amoado durante a maior parte do dia.

- Alô?

- Boa noite, Thaís. - Cumprimentei formalmente. - Tudo bem?

- Tudo... E você? - Perguntou hesitante.

- Na medida do possível.

- Hm... A que devo a honra de sua ligação?

- Atrapalho? - Perguntei sugestivo. Na certa ela deveria estar acompanhada de seu amiguinho.

- Estava indo tomar banho. - Respondeu no mesmo tom que o meu.

- Oh, desculpe... Serei breve! Gael sente sua falta. Sei que você não é nada dele e que ele também não deveria se apegar a você, mas estou começando a ficar preocupado.

- Preocupado?

- Sim... Além de estar muito tristinho, ele sempre chama pelo seu nome. Sei que é pedir muito, mas podemos marcar um dia para você visitá-lo?

- Claro! Se não fosse tarde eu iria hoje mesmo.

- Então venha... Ou melhor, passo aí pra te buscar.

- São 19h, José...

- Você vem, comemos uma pizza, você fica um pouco com ele e antes das 22h te deixo em casa.

- Melhor eu passar aí na semana...

- E você vai conseguir dormir tranquila hoje, sabendo que meu filho está triste porque sente sua falta?

- Eu também sinto a falta dele, otário. - Respondeu ácida. - Ok, passa aqui em meia hora.

Uma babá exemplarOnde histórias criam vida. Descubra agora