IX

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Eu só havia saído do estado de São Paulo uma única vez, que foi quando conheci Cabo Frio através da minha antiga escola, que promoveu uma excursão para os formandos do ensino médio. Com muito custo, meus pais se programaram durante um tempo e conseguiram bancar a viagem, pois alegaram que por mais que a nossa situação financeira não nos permitisse luxar, eu merecia ter uma formatura, coisa que eles não tiveram.

Dia 20 de dezembro chegou e com ele um grande marco: Era a primeira vez que eu andaria de avião e de quebra também entraria em um navio. O nervosismo tomou posse do meu corpo e eu não queria ir para lugar algum. Perguntei para José se não tinha como eu ir de ônibus ou se ele não queria realizar seu sonho de me demitir e contratar outra babá. Ele riu com meu desespero e me entregou um calmante, alegando que o mesmo me ajudaria dormir durante o vôo. E funcionou, pois eu só acordei três horas depois quando chegamos em Salvador.

– Temos uma hora e meia para estarmos no Terminal Marítimo. – José anunciou. – Quer comer alguma coisa? – Pensei em dizer que não, pois meu nervosismo me de deixou com o estomago embrulhado. Entretanto, já havia passado do horário que Gael geralmente almoçava e eu precisava alimentar o menino, que também dormiu durante toda a viagem.

– O que acha de uma salada de frutas? – Perguntei, olhando para os quiosques do aeroporto. Era a opção mais rápida e saudável que havia por ali. José concordou e foi até o quiosque, voltando dele com dois potes repletos das mais variadas frutas. Comemos e nos dirigimos à área de desembarque, onde apanhamos um Táxi até o Porto de Salvador.

(...)

Às duas horas em ponto, embarcamos em um grandioso navio. Gael dormia em meu colo e José cuidava das bagagens. Pensei em fechar os olhos e fazer uma prece para que não tivéssemos o mesmo destino que o Titanic teve, mas meus olhos brilhavam encantados com tudo a minha volta. Me senti rica e poderosa, como se eu fosse uma estrela de cinema e estivesse estrelando um filme com indicação ao Oscar. Tudo era mesmo muito lindo.

– Acho que é aqui. – José falou, abrindo a porta da cabine 21. Entrei logo atrás dele, sendo cuidadosa para que Gael não acordasse. Concordamos em só acordá-lo quando fôssemos almoçar. – É uma suíte. Escolhi assim porque as cabines eram muito simples, com apenas uma cama de casal ou duas de solteiro. Não serviria pra nós.

– Mas aqui só há uma cama de casal... – Constatei, olhando ao meu redor; Logo na entrada, havia um sofá que parecia ser bastante confortável. Em frente dele havia uma TV de 40 polegadas, um frigobar, uma porta e uma escada. Ao lado, tinha uma parede de vidro que o separava da cama. Nos fundos, havia uma varanda com uma banheira de hidromassagem e vista para o mar.

– A escada dá acesso ao andar de cima. – José acrescentou. – Nele há duas camas de solteiro, sendo que uma delas eu pedi que colocassem grade, para o Gael não cair enquanto dorme.

– Ah... – Assenti. – Aqui em baixo parece um quarto de motel.

– Desculpe? – Perguntou, segurando o riso.

– E não é?! Olha essa decoração... – Falei como se fosse óbvio; as paredes eram de madeira e decoradas com desenhos geométricos em cores quentes. A cama era redonda e em frete a ela havia um grande espelho. Sem contar a banheira do lado de fora. 

– Você deve estar com fome. – Brincou. – Vamos almoçar.

Após guardamos nossas bagagens, José acordou Gael e fomos até a área dos restaurantes. Os funcionários eram todos muito simpáticos. Peguei vários flyers com as atrações do navio – mesmo sabendo que José já havia programado tudo. Fiquei ainda mais encantada quando soube que podíamos ir ao cinema, teatro, sauna, piscinas e que podíamos comer em quase todos os restaurantes sem ter que pagar a mais por isso. Eu sabia que José era bem estabilizado financeiramente, mas até então eu não o considerava rico.

Almoçamos em um restaurante de comida italiana. Gael adorou brincar com o prato de macarrona à sua frente. Eu e José demos preferência à lasanha da casa. Ainda dividimos uma taça de sorvete e comemos alguns chocolates. Minha maior satisfação foi ver o sorriso estampado no rosto do Gael.

***

– Posso entrar? – José pediu, batendo na porta do quarto.

– Pode. – Falei. Gael havia acabado de dormir e eu arrumava minhas coisas para tomar banho.

– Pensei em conhecer os bares daqui. – Hesitou. – O que acha?

– Está me pedindo permissão? – Zombei. – Relaxa, vou cuidar para que o Gael não saiba que o pai dele... – Me cortou.

– Estou te chamando para ir comigo, Thaís. – Explicou sisudo.

– Wow... – Murmurei pega de surpresa.

– Aqui eles têm serviço de babá... Sei lá. Tem muitas atrações aqui. Posso chamar uma e...

– Tudo bem. – Respondi oferecendo-lhe um sorriso casto. – Vou tomar um banho e vamos.

(José)

Eu havia contratado o Sitters at Sea antes mesmo de ter a garantia de quê a Thaís sairia comigo. Caso sua resposta fosse não, eu ainda assim contaria com o serviço, pois queria oferecer ao Gael uma nova experiência. A babá poderia olhá-lo dentro de nossa suíte (o que não seria necessário) e também levá-lo ao berçário, onde meu filho poderia brincar com outras crianças de sua faixa etária.

Admito que fiquei surpreso quando Thaís aceitou o convite. Talvez, assim como eu, ela não sabia quais eram minhas intenções. Eu não havia programado nada. Conversando com Glória, me convenci a pelo menos chamá-la pra sair, pois queria saber mais dela, saber o porquê dela me intrigar tanto. Eu não havia deixado de pensar em Emilly, contudo, eu pensava em Thaís a todo instante.

***

– Pronto. – Thaís anunciou, descendo as escadas com Gael no colo. Olhei-a de cima a baixo, engolindo-a seco. Seu cabelo estava solto e devidamente penteado, contornando-lhe o delicado rosto, onde o destaque eram seus lábios marcados por um tom de vermelho sangue. Ela estava de salto, com um vestido preto decotado, que acentuava suas curvas e ia até metade de suas coxas. Emilly jamais se vestiria assim, pois só gostava de peças confortáveis. A única vez que usou salto foi no dia do nosso casamento e só durante a cerimônia. Eu amava a forma que ela se vestia, amava cada um de seus tênis e combinações. Mas ali, olhando para Thaís, pude constatar que aquela fora a primeira vez que uma roupa mexeu com meus sentidos. Meu pau ficou duro e se antes eu não tinha planos, dali pra frente, passei a ter. – Essa babá aí que você arrumou é responsável? Possui referencias? Como vou saber se ela é mesmo confiável? – Perguntou bastante preocupada, quase que atropelando as palavras. Ainda admirado, fiquei calado, observando-a caminhar até mim. – José?!

– Oi... – Pigarreei atônito. – Sim, Thaís. Eu verifiquei as referencias e pontuações dos outros passageiros. O serviço é bem recomendado e pelo valor que estou pagando, não aceito nada que seja abaixo de excelente. Gael estará em ótimas mãos.

Uma babá exemplarOnde histórias criam vida. Descubra agora