– Boa noite, José. – Glória cumprimentou assim que eu entrei no escritório.
– Obrigado por me atender. – Agradeci; após passar a noite em claro, revirando-me de um lado para o outro, liguei para Glória, solicitando que a mesma adiantasse nossa consulta. O horário que ela tinha disponível era às 19h, então passei o dia apreensivo, perguntando-me se eu deveria ou não contar-lhe o que havia acontecido.
– Sente-se. – Pediu gentilmente. Encarei o divã a minha frente antes de me sentar. Ele que muitas vezes fora meu local de refúgio, naquele momento tornou-se meu inimigo. Pensei em me levantar e ir embora, mas conhecendo Glória, ela não esqueceria esse episódio e trabalharia nele em nossas próximas consultas. – Como passou a semana? – Perguntou profissionalmente.
– De quarta até sexta nenhuma novidade. – Desviei meu olhar do dela, fixando-o em um ponto na parede. – Gael passou mal no sábado e eu sem saber o que fazer, chamei Thaís para que ela nos acompanhasse até o hospital.
– Ele está bem?
– Sim... Está com virose, então ele fica chato pra comer, dentre outras coisas, mas melhorou muito de sábado para hoje.
– Estimo sua melhora. – Assenti, ficando em silêncio. – Na consulta passada, você me disse que estava evitando Thaís, por ser contra a decisão de sua mãe e Richard. O que mudou? – Perguntou indo direto ao ponto.
– Até sábado nada havia mudado. – Falei sincero. – Só recorri a ela porque estava desesperado e não queria preocupar minha mãe.
– O que houve no hospital?
– Nós... – Hesitei. – Nós conversamos durante um tempo. Gael precisou ficar em observação e nisso acabou surtindo uma conversa com trocas de intimidade.
– Trocas de intimidade?
– Sim... – Respirei fundo. – Ela me perguntou se eu havia saído com outra mulher depois da morte de Emilly e eu lhe confessei que não... Que Emilly fora a única com quem durmi a vida inteira. Nisso ela contou sobre sua intimidade e também sobre sua amizade com benefícios... Um tal de Renan. – Debochei, meneando a cabeça negativamente. – Ela estava muito bonita naquela noite, alias, estava ainda mais bonita... Seus lábios me chamaram atenção por toda a noite.
– Saber da existência do Renan te incomodou? – E novamente ela foi direto ao ponto.
– Porra... – Respirei fundo. – Não sei por que, mas não gostei de saber que ela perdeu a virgindade com ele e que há três anos ele é seu parceiro fixo.
– Ciúmes?
– Não! – Respondi de prontidão. – Eu só... Só não gostei. – Ela assentiu, anotando algo em seu caderninho.
– O que mais conversaram?
– Contei sobre minha relação com Emilly. – Dei de ombros. – Por volta das 2h ela dormiu e encostou-se em meu ombro. O cheiro dela... Porra... – Murmurei, fechando os olhos, recordando o quanto eu ficara extasiado com seu perfume.
– Ela despertou algo em você. – Afirmou. – É por isso que mudou sua consulta para hoje? – Pensei em falar que sim e assim omitir o real motivo de ter adiantado a consulta. Mas eu precisava desabafar... Precisava contar o porquê da minha insônia.
– Assim como sábado, ontem também era sua folga, mas ela optou por ficar e me ajudar com Gael. Já de tarde, ela pediu licença para dormir, pois meu filho também dormia. Ela se recolheu e pouco tempo depois, seu celular tocou. Era Renan... Atendi a ligação e quando desliguei, percebi meu erro. Fui até o quarto de hospedes, avisá-la, mas ela não acordou e... – Respirei fundo. – Eu entrei no quarto a fim de deixar o aparelho em cima do criado mudo e... – Não consegui terminar de dizer. A verdade é que eu peguei a calcinha da Thaís e fui com ela para o meu quarto, onde me senti tentado a me masturbar com ela. Enrolei o pequeno pano no corpo da minha ereção e me toquei pensando nas mil e uma formas de como eu queria fodê-la. – Em resumo é isso. Eu não consigo parar de pensar nela.
– Porque você a deseja. – Afirmou, parecendo ler minha mente.
– Eu... – Hesitei.
– Isso não é ruim, José. Não se sinta culpado por Emilly... Vocês tiveram uma história linda, mas você precisa deixá-la no passado e seguir em frente. É muito bom amar, mas também é ótimo se apaixonar e gozar.
– Não estou apaixonado. – Respondi convicto.
– Amor... Paixão... Tesão... – Deu de ombros. – Aprenda a diferenciar as coisas. Você não vai deixar de amar sua falecida esposa apenas por se deitar com outra pessoa.
– Ela é a babá do meu filho, Glória! – Argumentei exasperado.
– José Alexandre, você precisa se permitir. Não estou dizendo para correr agora para casa e levar a garota para o quarto. Mas pare de querer afastá-la... Chame-a para sair, convide-a para assistir um filme. Se caso não der certo...
– Esse é o ponto. – Falei cortando sua fala. – Nunca pensei em me abster de sexo... Eu sabia que uma hora ou outra eu me interessaria por alguma mulher. – Apenas sexualmente falando, pois Emilly foi o grande amor da minha vida e eu jamais conseguiria sentir o mesmo por outra mulher. – Mas tem de ser logo ela? Aí nós transamos e no outro dia nos tratamos como patrão e funcionário? Pff...
– Apenas deixe as coisas rolar. – Falou sorrindo. – Você nem sabe se a menina vai aceitar sair contigo ou sei lá o que. Permita-se, José.
***Quando cheguei em casa, encontrei com Gael e Thaís na sala. Eles estavam brincando com alguns carrinhos. Para surpresa dos dois, perguntei se eu podia me juntar à brincadeira. Thaís respondeu que sim, mas logo se levantou, indo até a cozinha, onde fora olhar a panela que deixara no fogo. Gael deixou os carrinhos de lado e engatinhou até mim, estendendo-me os braços.
– Olá, garoto. – Sorri, pegando-o no colo.
– Vê como ele é forte?! – Thaís constatou. – Nem parece que estava ruinzinho.
– Acho que isso ele puxou de mim... Minha mãe sempre diz que eu raramente ficava doente e que quando ficava, logo eu me recuperava.
– Diferente de mim. – Ela sorriu, sentando-se no sofá. – Não posso ver uma gripe que já estou pegando.
– Queria falar com você...
– Vai me multar pelo o quê agora? – Decochou.
– Já estamos no meio de novembro... Lembra que eu disse que você teria alguns dias de férias agora em dezembro? – Ela assentiu. – Então, tudo bem se você viajar conosco? Te pago um extra pelo feriado do dia 25 e dia 1.
– Conosco quem? Sua família?
– Eu e Gael. – Sorri de lado. – Não gosto de passar o final de ano com minha família.
– Ah... Eu nunca passei longe dos meus pais. – Respondeu hesitante. – Qual o destino da viagem?
– Um cruzeiro pela costa do Brasil. – Assim que saí do consultório da Glória, me veio essa ideia. Pesquisei alguns itinerários e achei esse perfeito. – Viajamos para a Bahia, pois o navio irá partir de Salvador. De lá vamos para Ilhéus, Rio de Janeiro, Ilha Grande e desembarcamos em Santos.
– Ual... – Murmurou.
– Mas se não puder, irei entender.
– Vai ser difícil explicar isso ao meu pai, mas tudo bem... Eu seria muito irresponsável de deixar o Gael sozinho contigo em alto mar.
– Desculpe? – Perguntei incrédulo.
– A janta está pronta. – Ela deu a língua, risonha, voltando à cozinha.A forma com que essa mulher me desafia ainda vai me deixar louco.
(...)

VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma babá exemplar
RomansaJosé Alexandre Aguiar e Emilly Magaoa se conheceram no primeiro ano do ensino médio, quando José mudou de Americana para São Paulo. O caminho até a escola, as atividades extracurriculares e o círculo de amigos, facilitou para que ambos se apaixonass...