VIII

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(Thaís)

Achei que meus pais ficariam tristes quando eu desse a notícia de que viajaria nas festas de fim de ano, mas eles não se importaram, pois também viajariam e se esqueceram de me avisar.

Eu não fiquei muito animada com o convite de José Alexandre. É fato que não é todo dia que se ganha um cruzeiro com tudo pago, mas convenhamos que esse convite seria muito mais interessante se José não fosse minha companhia e eu não tivesse que viajar à trabalho.

Gael recuperou-se 100% da virose uma semana depois, mas ele era meu dengo e entre ficar com ele no final de semana e ajudar minha mãe com as tarefas de casa, eu optei pela primeira opção. Renan havia me chamado para sair, mas eu também não estava a fim. Passei o dia inteiro brincando com Gael, o que esgotou suas energias. Dei sua janta e o coloquei para dormir antes mesmo das 18h. Pensei em fazer o mesmo, mas Richard apareceu, implorando que eu o ajudasse a fazer um bolo.

– Eu não sou boleira, Richard! – Falei exasperada. José nos observava, achando graça da situação. – Por que não passa em um mercado ou padaria e compra esse bendito bolo?

– E você acha que eu não já tentei? – Respondeu também exasperado. Se eu não estivesse irritada, provavelmente estaria dando risada. Richard parecia uma criança mimada após receber o seu primeiro não. – O problema é que eu não encontro um bolo tão maravilhoso quanto o da sua mãe!

– É massa pronta. – Respondi, rolando os olhos.

– Que mentira! – Protestou. – Ela me disse aquele dia que era receita de família. Você é filha dela, porra! Como não sabe fazer um simples bolo?

– Richard... – Respirei fundo. – Posso tentar fazer, ok? Mas depois disso, eu não quero ouvir um “a” seu! – Falei, apontando-lhe o dedo, indo de encontro à cozinha; o bolo ficou pronto em uma hora e ele comeu quente mesmo, alegando estar bom, mas não tão bom quanto o de minha mãe. Deixei-o falando sozinho e fui tomar banho. Aproveitei para hidratar meu cabelo e esfoliar meu corpo, algo que há muito tempo eu não fazia.

Aproveitei o domingo para acordar tarde. Já passava do meio dia quando levantei. Aliás, fui acordada por um maravilhoso cheiro de comida. Rapidamente vesti meu roupão e saí do quarto para ver o que José estava aprontando.

– Não sabia que você cozinhava. – Falei, vendo-o tirar alguma coisa do forno.

– Só o básico... – Deu de ombros. – Odeio fazer comida.

– O cheiro está bom.

– Vem aqui, quero que prove o molho. – Fui até ele, parando ao seu lado. Ele pegou minha mão e depositou o molho no dorso da mesma.

– Maravilhoso. – Falei após provar; era um molho à bolonhesa e seu cheiro fora o responsável por me acordar.

– Receita de família! – Piscou, fazendo referencia ao bolo da minha mãe. Não aguentei e dei risada. – Richard tira qualquer um do sério...

***

Os dias passaram e dezembro chegou. Minha convivência com José havia melhorado e ele não implicava mais com a forma que Gael me tratava. Pelo contrário, achava até graça e sempre torcia para que o menino o chamasse de pai. Vendo seu esforço, passei a chamá-lo de Zé na frente do Gael, pois acreditei ser a maneira mais fácil de ensiná-lo a chamar pelo pai.

Segundo sábado de dezembro, minha ultima folga do ano. Na semana seguinte, eu viajaria com José e Gael para Salvador e ficaríamos 14 dias fora; Aproveitei o dia para ficar com meus pais e a noite saí com Renan. Fomos para um clube na Vila Olímpia e lá nos encontramos com um pessoal do colégio. Bateu uma nostalgia do tempo que eu não tinha tantas responsabilidades, onde minha maior preocupação era passar de ano e terminar logo o ensino médio; Um ano depois, estava eu ali, trabalhando para pagar a faculdade. O que me consolou, foi saber que a maioria do pessoal também trabalhava. E ainda tinha uns loucos que além de trabalharem, também estudavam.

A vida adulta é difícil.

Uma babá exemplarOnde histórias criam vida. Descubra agora