(Thaís)
Eu havia sido entrevistada por Richard e da forma que ele falou sobre José, eu imaginei que ele fosse uma pessoa amarga e muito mais velha. Entretanto, fui surpreendida ao ser recepcionada por um cara tatuado e musculoso, que não aparentava ter mais que 25 anos. Ele parecia ter acabado de sair do banho, pois estava com o cabelo desgrenhado, molhado e com a barba recentemente feita. Vestia uma regata branca e uma calça moletom azul marinho.
Definitivamente sua imagem não compactuava com a de um advogado chato.
Assim como eu também não aparentava ser uma babá responsável.
José me encarou da mesma forma que meus pais haviam me encarado quando eu dera a noticia que iniciara um curso para ser babá. Minha mãe debochou, dizendo que eu não sabia cuidar de mim mesma, quanto mais de uma criança. Confesso que nada disso estava em meus planos, mas eu havia ganhado uma bolsa de estudo profissionalizante e a situação financeira em casa não era das melhores. Por ser apaixonada por crianças, juntei o útil ao agradável. Caso não desse certo, eu entregaria currículo para ser vendedora.
***
(José)
– Merda! – Thaís esbravejou ao tombar comigo no corredor da sala. – Di-digo... – Ela parecia que iria se desculpar, mas então cruzou os braços e fitou meus olhos. – Você me assustou!
– Desculpe?! – Ironizei, prendendo o riso. – Está perdida?
– Não consigo dormir... – Respondeu, desviando o olhar.
– Hmm... Tem medo do bicho papão? – Brinquei, deixando-a visivelmente irritada.
– Eu mandaria você ir se foder, caso você não fosse meu chefe. – Disse, forçando um sorriso sem mostrar os dentes.
– Que audácia... – Me fingi de indignado e ela só fez dar de ombros.
– Tenha uma boa noite, José Alexandre. – Falou, indo em direção ao seu quarto; eu não fazia a menor ideia de que horas eram. Estava dormindo quando fui acordado pelo meu estomago implorando por comida. Olhei o aparelho de TV por assinatura e o visor marcava que já passava das 3h. Por que será que ela não havia conseguido dormir? Fui tentado pela vontade de ir ao seu quarto perguntar o que havia acontecido. Porém, ela falou certo: eu era seu chefe e ela havia acabado de ser insubordinada, mesmo que indiretamente, em seu primeiro dia. Dei risada e fui até a cozinha, onde tomei um copo de leite com achocolatado.
Certamente eu teria problemas com Thaís.
***
Acordei com batidas na porta. Pisquei diversas vezes antes de pegar meu celular no criado mudo e ver que horas eram. O alarme já havia tocado e como sempre, eu havia perdido a hora.
– Pode entrar. – Falei após me ajeitar na cama. A porta abriu, revelando Thaís ainda de camisola, segurando uma bandeja com o que parecia ser meu café da manhã.
– Quero me desculpar por ontem... – Assenti, observando-a caminhar até mim. – Apesar de você ter sido escroto, eu não deveria ter falado daquela forma contigo... – A cortei.
– Você quer se desculpar me chamando de escroto?
– Sim! – Respondeu, entregando-me a bandeja. – Eu não estava conseguindo dormir e você debochou. Não gosto que debochem de mim... Mas enfim. – Falou, dando de ombros. – Me desculpe.
– Hmm... – Ponderei, pegando a xícara de café. – Tudo bem. – Ela assentiu, dando a volta para se retirar do quarto. – Eu te dispensei?
– Achei que eu fosse babá do seu filho e n... – Ela parou de falar quando percebeu que estava falando demais. – Desculpe! Eu fico mal humorada quando não durmo direito.
– Você quer mesmo esse emprego? – Perguntei sério, mas por dentro eu estava me acabando de rir. Pra falar a verdade, há muito tempo que eu não me divertia com alguém que não fosse Richard; ela me olhou, recolhendo os ombros.
– Desculpe...
– Por que não conseguiu dormir? – Perguntei, indicando a cama para ela se sentar. – Coma comigo. Tem muita comida aí e pelo seu mal humor, você também não deve ter tomado café.
– Não precis...
– Por favor. – Enfatizei; ela respirou fundo e sentou no final da cama. – Eu não sou um cara chato, Thaís. Quero o melhor para o meu filho e Richard insistiu em você. Com isso, podemos não ser melhores amigos, mas podemos ter uma relação agradável. – Ela assentiu. – Desde que você colabore pra isso. – Sorri, bebericando o café.
– Não estou acostumada a dormir fora de casa... – Respondeu após um suspiro. – Digo, não estou dizendo que sempre terei problemas pra dormir aqui, afinal, você não confiaria o Gael a uma sonâmbula. – Assenti. – Mas foi a primeira noite... Eu estava sozinha em um quarto estranho, com meu chefe dormindo ao lado. Levantei porque estava muito agoniada... Rondei pela casa inteira e do nada você esbarrou em mim. Daí juntou o susto com o mal humor... E enfim, eu realmente peço desculpas.
– Desculpe ter sido escroto contigo. – Dei de ombros. – Eu poderia ter perguntado... Mas enfim. Tome o café antes que esfrie. – Ela não estava confortável e eu no seu lugar também não estaria. Mas fazia tanto tempo que eu não tomava café com outra pessoa em minha casa, que eu quis apreciar sua companhia. Conversamos sobre coisas bobas e antes que ela saísse do quarto, eu chamei sua atenção para que ela não usasse roupas tão curtas feito sua camisola.
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Uma babá exemplar
RomanceJosé Alexandre Aguiar e Emilly Magaoa se conheceram no primeiro ano do ensino médio, quando José mudou de Americana para São Paulo. O caminho até a escola, as atividades extracurriculares e o círculo de amigos, facilitou para que ambos se apaixonass...