XVI

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(José)

Nunca imaginei ver Thaís tão frágil. Ela passou a noite desabafando, contando sobre o câncer do seu pai e sobre toda a barra que estava passando. Me senti impotente em vê-la dessa forma e não poder ajudá-la. Há coisas que o dinheiro não compra.

- Bom dia! - Falei ao vê-la acordar. Depois de muito choro, Thaís dormiu em meus braços. Passei a noite em claro, ninando-a feito criança. Só quando amanheceu que me levantei para preparar seu café. De volta ao quarto, continuei velando seu sono.

- Bom dia. - Respondeu esfregando os olhos.

- Preparei seu café. - Falei indicando uma bandeja com suco de laranja, pão de queijo e bolo de chocolate.

- Você comprou meu café. - Constatou com um sorriso no rosto.

- O suco foi eu que fiz. - Me defendi.

- Obrigada. - Agradeceu sincera; tomamos café juntos. De repente, me lembrei de que tomar café na cama costumava a ser rotineiro com Emilly. Eu não pensava mais em minha esposa como antigamente. Isso era péssimo, mas ultimamente eu só pensava em Thaís. Eu não a amava, mas estava acontecendo o que julguei ser impossível: eu estava me apaixonando.

A necessidade de tê-la a todo instante. O frio na barriga quando fui buscá-la. A perca de sentidos ao inalar seu perfume. O beijo que afagava minha alma.

Isso tudo não se encaixa com a palavra tesão.

- Gael já acordou? - Perguntou se espreguiçando.

- Não... Ainda temos tempo. - Respondi.

- Tempo?

- Sim.

- Tempo de que?

- Disso. - Falei puxando a pela cintura a fim de roubar-lhe um beijo. Thaís logo se acomodou no meu colo e diferente da noite passada, onde eu a dominava, ela assumiu o controle.

- Você está insaciável, José. - Disse entre o beijo.

- Você me deixou assim...

- Te transformei num tarado?! - Indagou dando risada.

- Não. - Puxei seu queixo de modo que nossos olhares se encontrassem. - Me fez ficar maluco por você. - Falei sério. Seu riso cessou, cedendo lugar para um sorriso.

- Cuidado, hein. - Advertiu.

- Com o que?

- Se apaixonar por mim. - Deu de ombros ainda sorrindo.

- E por que eu me apaixonaria por você? - Perguntei sério.

- Porque além de divertida eu sou goxxxtosa. - Respondeu risonha. - Não te culpo... - Deu de ombros. - Eu sou mesmo muito apaixonante.

- Engraçadinha. - Falei beliscando a ponta do seu nariz.

- É brincadeira, relaxa. Eu sei que você ainda é apaixonado por sua ex mulher. - Disse num tom mais sério, mas sem deixar de sorrir; Meneei a cabeça negativamente e após uma troca de olhares rápida, voltei a beijá-la.

- Preciso te sentir... - Supliquei, colocando para o lado sua calcinha. Thaís vestia uma camiseta minha como pijama, o que a deixou ainda mais sexy.

- Me sinta. - Sem tirá-la do meu colo, abaixei minha cueca suficientemente para penetrá-la. Thaís suspirou ao me sentir e tão logo voltou a tomar o controle, rebolando em cima de mim. Seus gemidos roucos ecoavam o quarto conforme eu a auxiliava e investia lentamente. Foi uma foda diferente. Era como se o mundo estivesse acabando e tivéssemos optado por passar nossos últimos segundos conectados um ao outro.

(...)

Não era dia da minha consulta, mas Glória abriu um espaço em sua agenda e conseguiu um encaixe para mim. Eu estava confuso e precisava entender a confusão que havia se tornado minha vida.

- Paixão é um sentimento efêmero, José. Você pode se apaixonar várias vezes em um só dia por pessoas e coisas diferentes. Ela é compulsiva, exigente e apressada. Ao mesmo tempo que envolve, também sufoca. - Glória explicava. - Ao que parece, você está sim apaixonado por essa menina. Isso é bom, mas também é ruim.

- Como assim? - Perguntei confuso.

- É bom porque enfim você está se libertando do seu relacionamento antigo. Ruim porque essa menina foi a primeira e única que você ficou depois de tanto tempo e o que é ainda pior, depois de um trauma... Isso pode fazer com que você deposite todas as suas fichas nesse relacionamento, sem ser exatamente isso o que você quer.

- Cacete... - Falei irritado. - Você só está me deixando ainda mais confuso.

- Você já tentou ficar com outras garotas? Permita-se conhecer novas pessoas, José. Te garanto que assim você vai descobrir o que de fato sente por essa menina.

...

Segui o conselho de Glória e não procurei Thaís naquela semana. No sábado deixei Gael com minha mãe e acompanhei Richard em uma casa de show. A noite era de funk e o local open bar. Segundo meu amigo, local propício para eu me redescobrir.

Já na entrada tomamos dois shots de tequila. Uma mulher loira passou por nós e piscou para mim. Sorri de lado, não muito a vontade. Eu não estava a fim de flertar com ninguém. Não que eu sentisse culpa por estar "traindo" Emilly. Talvez eu estivesse mesmo superando nossa história. O problema é que na verdade, eu não queria estar ali.

- Você é foda, José. - Richard disse jogando o braço em meu ombro. - Mesmo com essa cara de velório, um monte de menina olha e sorri pra você.

- Estão sorrindo pra você também. - Deu de ombros.

- Para de ser chato. Vem! - Chamou dando um tapinha em minhas costas. Fomos para o bar e Richard tratou logo de chegar em duas amigas.

- Olá meninos. - Uma das meninas falou e eu reconheci ser a loira que havia sorrido para mim na entrada. Sua amiga tinha os cabelos tingidos por um vermelho vivo.

- Olá. - Eu e Richard falamos juntos.

- Me chamo Cinthia. - A loira disse. - E essa é minha amiga Minerva.

- Muito prazer! Eu sou o Richard e o cara de bunda aqui se chama José Alexandre.

- Gosto de nomes compostos. - Cinthia respondeu.

- Obrigado. - Agradeci; Eu queria sair dali, mas não sabia como. Foi quando de longe a reconheci. Thaís usava um vestido branco, contrastando com seu bronzeado. Ela estava sentada em uma mesa com outras duas garotas e três rapazes. - Richard, já volto.

- Mas o que... - Não escutei o resto da sua fala. Caminhei até Thaís, parando em sua frente.

- José! - Disse animada e se levantou para me cumprimentar. Passei o braço em sua cintura e a abracei com vontade.

- Tá cheirosa. - Falei rente ao seu ouvido.

- Olha quem fala. - Piscou. - Esses são meus amigos. - Disse se soltando. - Melissa, Carol, Igor, Caio e Renan.

Renan.

Claro.

- Olá. - Falei acenando para todos.

- Senta aí com a gente, cara. - Igor, eu acho, chamou. Pensei em recusar, mas acabei me juntando a eles.

- Posso chamar meus amigos? - Perguntei para Thaís.

- Claro. - Respondeu com um sorriso; liguei para Richard e informei onde eu estava. Após xingar até minha última geração, ele concordou em me encontrar.

- Pensei que você não gostasse de sair. - Thaís alfinetou.

- Richard me convenceu. - Ela nem imaginava ser o motivo da minha saída. - Por falar nele... - Meu amigo se juntou a nós, acompanhado de Cinthia e Minerva.

Conversa vai, bebida vem. Os amigos da Thaís, com exceção do Renan, eram todos legais. Assim como Cinthia e Minerva. Estava sendo algo gostoso até que, em meio a uma batida de funk, Thaís se levantou, indo dançar com Renan.

O beijo entre eles não demorou a vir.

...

Uma babá exemplarOnde histórias criam vida. Descubra agora