(José)
Eu não estava de acordo com a volta da Thaís. Por mais que mamãe e Richard insistissem em defendê-la, alegando que eu estava errado por ter surtado e que eu deveria ter ficado feliz por Gael ter se expressado; eu continuava achando que fora um erro tê-la contratado. Bom pro menino ou não, ela não era sua mãe. Gael não tinha que tratá-la assim... Emilly com certeza não ficaria feliz com isso.
- A menina está na sala com sua mãe. - Richard disse entrando em meu quarto. - Pense bem no que conversamos, cara. Não despeje em cima dela suas frustrações... Pense única e exclusivamente no bem do Gael. - Assenti, entornando o resto de vinho que havia na garrafa. Respirei fundo e o acompanhei até a sala. A idiota estava lá, de braços cruzados, com um bico enorme e... Simplesmente linda.
- Bom dia, filho. - Mamãe disse toda sorridente. Forcei um sorriso e dei a volta na sala, passando por elas sem me dar o trabalho de cumprimentá-las. - Liga não, Thaís... Ele fica de mau-humor quando enche a cara e não dorme. - Disse debochada. - O que não o impede de lhe pedir desculpas. - Forçou um sorriso, ameaçando-me com os olhos.
- Desculpe. - Pedi, olhando para Thaís, que rolou os olhos. Ela sabia que eu não estava sendo sincero.
***
(Thaís)
Eu precisava do emprego.
Gael era um amor e eu estava com saudades.
A mãe do José disse que ele havia ficado pianinho depois de ter lhe dado um sermão.
Por que eu não voltaria?!
Richard explicou como havia enganado minha mãe. Primeiro ele pediu para sua secretária ligar em casa e perguntar sobre mim. Depois que minha mãe falou que eu estava trabalhando, ele deduziu que uma hora eu voltaria para casa, pois até a carteira eu havia deixado na casa do José. Conversamos por quase uma hora e ele ainda comeu a travessa inteira de bolo, alegando ser o melhor bolo que havia provado em toda sua vida.
A mãe do José era uma senhora muito educada e depois eu me senti mal pela forma que eu havia lhe tratado. Ela não merecia pagar pela escrotidão de seu filho. É claro que ela defendeu José, mas também entrou em contradição. Segunda ela, o filho não passava de um carente que não superava o fato de ter perdido a esposa. Todos já sabiam disso, mas foi bom ouvir da boca dela.
(...)
- Eu só quero deixar uma coisa clara aqui. - Falei para José, depois que sua mãe e Richard foram embora. - Eu não o desculpo. E muito menos voltei por sua causa. Assim como eles, me preocupo com Gael e não vou deixá-lo nas mãos de um pai que sequer o segura no colo. Ele merece muito mais do que isso... E se tá insatisfeito, por ele não te chamar de pai, é bom rever suas atitudes, pois o menino não tem culpa de nada.
- Certo. - Respondeu ríspido e se levantou, voltando para o seu quarto.
***
Eu estava com sono e ansiava por dormir, mas Gael havia acabado de acordar e eu não podia deixá-lo com o bêbado do seu pai; quando me viu, foi a maior alegria. Ele tornou a me chamar de "bambãe Tata" e eu deixei, pois não havia nenhum crime nisso.
- Menino, parece que você deu uma esticada de ontem pra hoje, hein! - Brinquei, fazendo cócegas em sua barriga, enquanto o vestia. - Af... Que risada mais gostosa! Assim não vou conseguir parar, bobinho.
Após preparar o almoço, acho que Gael sentiu meu cansaço e não quis traquinar. Ele deitou comigo no sofá da sala e em menos de 5 minutos de galinha pintadinha, ambos estávamos dormindo.
***
Acordei com Gael sentado em minha cabeça; ele se divertia ao puxar os fios do meu cabelo. Ergui os braços para trás e o peguei, sentando-o em cima de minha barriga. Segurei suas mãozinhas e dobrei as pernas, de modo que elas sustentassem o peso de suas costas.
- Você não presta, garoto... - Falei sorrindo. - Imagina se você cai? Não ia prestar... - Ele me ouve e dá risada.
- Eu estava de olho. - José falou. Só então percebi sua presença. Ele estava sentado no sofá em frente ao que eu estava com Gael. - Faz mais ou menos meia hora que ele acordou... Pensei em te acordar, afinal, você é paga para trabalhar e não dormir. Entretanto, eu estava me divertindo, vendo-o arrancar seus fios de cabelo. - Completou presunçoso. Respirei fundo, segurando-me para não mandá-lo àquele lugar.
- Que feio, bebê... Não pode deixar a tia careca! - Gael não se intimidou com minha falsa repreensão. Ele soltou a mão da minha e ergueu seu corpinho para frente, a fim de tornar a puxar meus fios. Dei risada com tamanha audácia e o segurei, apoiando-o de volta em minhas pernas.
(...)
Conforme os dias iam passando, eu me apegava mais a Gael e ele a mim. Íamos ao parque, assistíamos aos desenhos que ele gostava (seu predileto era Tarzan, que coincidentemente também fora o meu quando criança), brincávamos com seus brinquedos e também sem nenhum deles. Gael decidiu que me "ajudar" a cozinhar era divertido, então sempre que eu ia à cozinha, ele engatinhava atrás de mim para que eu o pegasse e o colocasse em cima do balcão da pia, onde ele se entretinha com os utensílios e alimentos.
Eu e José Alexandre nos evitávamos ao máximo. Vez ou outra eu notava seu esforço em relação ao Gael. O problema é que ele parecia ter uma trava que o impedia de ter uma aproximação maior; Nem preciso dizer o quanto Gael ficava feliz quando o pai o chamava ou quando o pegava para assistir a galinha pintadinha (sim, porque Tarzan ele só assistia comigo). Eu gostaria de poder ajudá-los com isso, mas essa função cabia única e exclusivamente ao senhor do tempo.

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Uma babá exemplar
RomansaJosé Alexandre Aguiar e Emilly Magaoa se conheceram no primeiro ano do ensino médio, quando José mudou de Americana para São Paulo. O caminho até a escola, as atividades extracurriculares e o círculo de amigos, facilitou para que ambos se apaixonass...