IV

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(José)

– Bom dia, José. – A recepcionista da clínica saudou. Acenei para ela e me encaminhei até o consultório da doutora Glória. Nossas consultas eram todas as quartas.

– Com licença. – Pedi, entrando na sala.

– Olá, José! – Glória cumprimentou amistosa. – Entre. – Pediu e assim o fiz, sentando-me no divã para iniciarmos a consulta; Ela não foi a primeira psicóloga com que passei. Até chegar à Glória, tive que passar com outras quatro. Não que elas fossem profissionais ruins, mas eu simplesmente não me sentia a vontade com elas. Com Glória foi diferente. Ela parecia compreender minha alma. – Como foi sua semana?

– Fui vencido pela insistência de Richard e contratei uma babá. – Ela assentiu, sorrindo, anotando algo em seu caderninho. – Ela é nova, acho que acabou de completar 18 anos. – Dei de ombros. – Quando a vi, pensei que não fosse durar uma semana... Mas ela tem me surpreendido, sabe?! Apesar de estar sempre colocando seu emprego em risco. – Dei risada, lembrando do quão atrevida Thaís era.

– Como assim? – Perguntou preocupada.

– Ela é uma ótima babá. – A tranquilizei. – Só tem a personalidade forte. – Dei de ombros. – Semana passada foi meu aniversário e pra fugir das armadilhas de Richard, levei ela e Gael ao parque. Passamos o dia lá.

– Isso é um grande avanço, José.

– É... A única coisa que me incomodou, foi quando acharam que ela fosse mãe do Gael. Chegaram a nos chamar de família feliz. – Ironizei. – Não quero que meu filho confunda as coisas... Até pensei em mandar Thaís embora e contratar alguém mais velha, só que ela me desafia... Isso faz com que eu me sinta vivo. É estranho... Não sei explicar.

– Ela te faz bem. – Respirei fundo, não querendo concordar com Glória. Como alguém que eu só conhecia há uma semana, era capaz de me fazer bem?

– Talvez seja eu quem esteja confundindo as coisas.

***

Dois meses se passaram. Gael estava com 1 ano e 4 meses. Meu relacionamento com ele havia melhorado cerca de 20%, o que para Glória, minha mãe e Richard, fora um grande avanço. Na semana seguinte ao meu aniversário, resolvi alugar um escritório. Não estava me sentindo confortável em ficar em casa tão próximo de Thaís. Eu me recriminava, pois não era justo com Emilly que em tão pouco tempo eu ficasse à vontade com outra mulher.

– Mês que vem seu escritório ficará pronto e você não vai ter mais que lidar com essa dor de cabeça. – Richard se referia a minha queixa de ter que enfrentar um trânsito de duas horas quase que todo dia. Quando adolescente, minha maior alegria foi mudar do interior pra cidade grande. Eu só não esperava que fosse me arrepender mais tarde. Amo toda a facilidade que São Paulo me oferece, entretanto, sinto muita falta da calmaria de Americana. – Já era pra estar pronto, mas você sabe que tive problema com um dos fornecedores.

– Relaxa... Eu que fui burro de ter alugado uma sala do outro lado da cidade. – Escutamos o portão abrir e logo depois Thaís entrou com Gael pela sala. Eles haviam ido a uma consulta médica.

– Olá. – Ela cumprimentou por educação e dirigiu-se até a cozinha. Gael engatinhou até mim, mas antes que eu pudesse pegá-lo, Richard se jogou no chão, fazendo o moleque rir.

– Aposto que ele deve te achar um retardado. – Debochei, vendo-o pegar Gael no colo.

– Aposto que você sente inveja de mim. – Richard retrucou com uma piscadela. Thaís voltou da cozinha e quando Gael a viu, jogou os braços em sua direção, balbuciando o que eu não acreditei ter ouvido.

Uma babá exemplarOnde histórias criam vida. Descubra agora