Capítulo 22

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Os dias longe de Alícia estavam me consumindo aos poucos. Na noite que saí de sua casa, logo depois de dizer que a amava, eu sequer consegui dormir. Chorava entre soluços porque sabia que ao dia seguinte, eu não a veria, eu sabia que aquilo não era um sonho onde duraria somente uma noite e ao dia seguinte eu iria respirar com alívio vivendo em maravilhas.

Não houve um só dia que não chorasse, minha mãe percebia minha falta de ânimo e até meus amigos também. Dia após dia eu pensava "um dia de cada vez". Minha mãe nada dizia, se manteve todo o tempo ao meu lado, não tocava em temas ou falava de Alícia, mas estava lá; tentou me animar de todas as maneiras possíveis e por vezes eu fazia de conta que de verdade estava animada somente para vê-la sorrir. A dois dias que antecederam meu aniversário , disse a ela e ao meu pai que decidi que iria a Miami, talvez aquilo me fizesse bem.

Hoje é meu aniversário mas diferente de Alícia, por exemplo, eu amava essa data. Todos os anos eu fazia pedidos assim que passava a meia noite, precisava acreditar em alguma coisa. Nesse ano por insistência de todos, aceitei fazer algo íntimo, só com meus amigos e pais, meus amigos que pareciam pouco felizes com a idéia da viagem mas não tinham escolha que não fosse aceitar. Sentamos todos de uma forma bem intimista conversando, parecia que todos ali sabiam do meu estado mas ninguém falava nada, eu também não. Helene e Henrique haviam sido convidados mas Helene já me havia dito que não poderia ficar por muito tempo.

- Então você decidiu mesmo?

- Decidi sim, faz tempo que não viajo e aqui eu já não posso fazer muito.

- Vou sentir sua falta, sabe que é muito importante pra mim, não? Eu sei, eu sei, como amiga...
— Há alguns dias atrás, Helene confessou que começava a sentir algo por mim mas eu não podia, não conseguia. Felizmente ela foi gentil comigo e nos prometemos uma amizade, sem clima ruim.

- Eu também, mas você pode ligar, viu? — Nos abraçamos ainda na entrada da casa quando ouvi Luna me chamar e eu voltei.

- Carol! Prova disso aqui.

- Depende do que está me dando... Que comida é essa?

- Comida árabe. Vocês não sabem apreciar o exótico, só uma pessoa sabia aprec... — Jack ficou em silêncio e todos na sala ficaram incômodos de alguma maneira; eu também estava.

- Eu vou provar! — Disse tentando parecer animada. — Henrique, prova você também!

- Só se a Clara provar comigo. — Quase em uníssono, todos riam deixando Clara mais tímida mas que logo concordou em provar. A campainha tocou e minha mãe levantou.

- Eu abro! — Continuamos em volta da mesa de vidro e como em um chamado silencioso, meu pai levantou.

- Quem será? — Disse olhando para meus amigos.

- Carol, vem aqui, filha. — Pensei que provavelmente meus pais queriam me entregar algum tipo de presente surpresa e levantei. Quando cheguei a porta, vi a Alícia parada ali na minha frente. Meus pais olhavam para minha expressão e se afastaram um pouco. — Vamos.

Os dois se deram as mãos e voltaram para a sala. Todo meu corpo tremia, outra vez não tinha o mais mínimo controle em vê-la.

- Não posso me perder de ti. — Foi a primeira frase que saiu de sua boca. Só então me dei conta da imensa falta que sentia da sua voz. Ela aproximou de mim e acariciou meu rosto. — Você foi embora e não me deixou dizer que... Eu também te amo, eu te amo. Fui uma covarde que poderia ter... — Calei a frase de Alícia em um beijo. Não sei de onde me veio essa coragem mas eu queria. A beijei com toda a saudade que havia em mim e ela também retribuia me abraçando pela cintura. — Caroline... Aqui não. — Rapidamente rimos parando o beijo nos permitindo um longo abraço, somente sentindo a respiração uma da outra.

Décimo nono andarOnde histórias criam vida. Descubra agora