One [6]

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Estava encerrando com meu último paciente naquele dia, nem acredito, parece desses dias em que carreguei o peso do mundo comigo.

- Vai casar, doutora? — Olhei surpresa e o rapaz apontou para a mesa. Era um folheto de buffet com fotos de casamentos na frente.

- Pois é... Vou sim. — Terminei de fechar a bolsa e caminhamos até a saída.

- Achei que já fosse casada.

- Mas eu sou. Ana, querida, Teresa deixou algum recado?

- Deixou sim, disse que a espera no estacionamento.

Desci do elevador ainda com meu paciente mas que, felizmente, não me voltou a perguntar da minha vida pessoal.

- Quem era? — Teresa perguntou quando entrávamos no meu carro.

- Um paciente.

- Cuidado, dona Alícia. — Ela falou em meio a risos. — Parece melhor do resfriado.

- Impossível não melhorar... — Sorri ao lembrar de Caroline comigo.

Flashback on

Sabe a sensação de saber que é observada mesmo sem abrir os olhos?  Era um sábado, final de tarde quando resolvi que seria bom deitar um pouco, ainda estava tão febril que era só isso que meu corpo pedia.

- Estou sentindo você. — Sussurrei e abri os olhos vagarosamente vendo-a na porta com um moletom cinza, seus cabelos presos e uma xícara na mão.

- Você parece um anjo.

- Não. Anjos não dormem. — Fechei os olhos e ela gargalhou.

- Precisa tomar seu remédio.

- Senta aqui, Caroline. — Ela veio até a mim e eu peguei sua mão. — Não precisa se preocupar assim, é só um resfriado bobo. Eu já nem sei se você anda dormindo mesmo.

Seus dedos começaram a deslizar em meus cabelos e ela parecia me olhar com ternura. — Eu te amo, não me peça isso, não poderia cumprir.

Flashback off

- Minha nossa, você está voando com sua mente e quase dormindo com o acelerador. A propósito, acho melhor contar a sua noiva sobre isso.

- Eu vou contar, não seja chata.

Cheguei em casa e, ao perceber que Caroline não estava, subi indo direto ao quarto, liguei para minha filha e abri os papéis que Teresa havia me entregado, analisando um a um outra vez.

- Alícia! — Ouvi a voz dela me chamar e sorri, eu já havia me acostumado com isso também.

- Estou aqui!

- Te achei. — Ela parecia agitada, me deu um beijo rápido, tirou sua bolsa e só ao sentar para tirar a sandália, observou o que eu fazia. — Está parecendo Teresa rodeada de tantos papéis. Estou preocupada, falta tão pouco e ainda parece ter tantas coisas a se fazer, eu não queria que fosse só isso com um juíz mas também não sei...

- Ei, ei! Respira! — Chamei um pouco sua atenção.

- Você não entende porque não será sua primeira vez em se casar. — Ela falou em um tom bem pouco agradável, não me olhou nos olhos.

- Não volte a dizer isso. O que acaba de falar me magoou, Caroline. Você está há várias semanas agindo dessa maneira e acha que a solução seria que eu ficasse exatamente igual? É isso?

- Eu não disse isso, Alícia. — Ela falou indo ao banheiro e ligou o chuveiro, respirei fundo, guardei tudo aquilo e desci para preparar algo para comer.

Décimo nono andarOnde histórias criam vida. Descubra agora