Já faziam alguns meses desde que mudamos a cama, nossa cama. Fazia mais de um ano desde que nos beijamos, mais de um ano que temos uma a outra. Está sendo de longe a melhor etapa da minha vida.
Nós agora passamos bem mais tempo juntas que separadas, já quase não durmo em casa e assumi por inteiro a agência da minha mãe, ela também se dividia entre Miami e Nova York, trabalhava direto com meu pai. Eu e Alícia dividiamos tudo, mesmo que por muitas vezes ela o fizera sozinha, como contas. Ela agora se especializou em terapias para casais, era tão bem sucedida que a chamavam para ministrar palestras em universidades, me dizia ser tímida para isso mas eu a incentivava assim como ela o fizera comigo. Eu já havia terminado meu curso parado de fotografia, fazia fotos em diversas cidades mas sempre fazendo de tudo para não demorar, sentia sua falta.
Clara mantinha agora um relacionamento saudável com Henrique, ele fazia de tudo por ela e ambos eram super divertidos juntos. Luna e Jack agora eram parceiros de fotos, trabalhavam na revista com Helene, eles amavam aquele trabalho.
Durante todo esse processo, eu vejo e sinto como mudei e amadureci em muitos pontos da minha vida, me sentia realizada em viver com alguém que amava. Alícia me respeitava como pessoa e como mulher, era carinhosa, brigava comigo de vez em quando e quase sempre tinha razão. Nossa relação era leve, tranquila, poderíamos falar do que fosse porque confiavamos uma na outra para isso.
- Alícia? — Disse entrando na casa quase sem forças pela dor insuportável que sentia outra vez. Chegava mais cedo de uma viagem por não aguentar ficar por mais tempo. Por seu silêncio, percebi que não estava em casa, deixei a mala na sala juntamente com minhas sandálias e deitei no sofá.
"Alícia?" — Assustei de um sono ao ouvir a voz de Teresa. Eu estava suada e a dor ainda mais intensa em mim, parecia que havia uma força sobrenatural no meu ventre.
"Teresa... Entre." — Respondi fraco e ela abriu a porta.
- Carol, o que houve? — Falou aproximando de mim e eu apertei forte sua mão chamando baixo por seu nome. — Onde está Alícia?
- Não está... — Vi Teresa tirar seu celular, ela parecia muito preocupada e eu fazia de tudo agora para não desabar em choro por aquela dor. — Teresa, não prec...
- Não, Carol, se essa mulher descobre que te vi nesse estado e não avisei a ela, quem morrerá sou eu. Tenta ficar tranquila, vou levar você ao hospital.
Não pude impedir, acho que já não o queria, eu precisava de um médico.
~
Acordei no hospital em um susto, estava com um soro ligado a mim e senti as mãos macias de Alícia tocando minha mão livre. A dor estava amena mas permanecia ali. Era um inferno aquilo tudo.
- Como você está, minha querida?
- Ainda dói... Quanto tempo estou aqui?
- Pouco mais de uma hora, você adormeceu no caminho e sua médica falou que era provável ser pela dor. Estava tão preocupada... Eu ainda estou. — Ela disse com toda ternura existente em sua voz enquanto tocava meu rosto com gestos carinhosos. — Pensei em ligar para Susana.
- Não precisav...
- Não termine essa frase. — A vi levantar. — Eu pedi tantas e tantas vezes para que viesse aqui, que procurasse saber o que tinha... — A voz dela soava meio nervosa, meio quebrada. Ela não me olhava nos olhos. — Imagina se Teresa não aparece, Caroline?
- Ei... Vem cá, meu amor. — Mesmo com a dor ainda fraca que sentia, encontrei forças para isso, conhecia Alícia muito bem e sabia exatamente o que ela sentia. A abracei por sua cintura sentada naquela cama enquanto ela movia seus dedos entre meus cabelos, parecia tentar controlar todos os seus sistemas ao mesmo tempo. — Eu vou ficar bem.
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Décimo nono andar
Fanfiction• Quando os traumas de uma jovem cruzam com o caminho de uma psicóloga em uma trilha que vai além de um consultório, levando a ambas a passos desconhecidos. "Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, pr...