- Não faça isso.
- Mas eu nem fiz nada.
— reclamei com Clara que me via com certa reprovação enquanto segurava o celular.- Você já ligou e ela não atendeu, deve ter atrasado.
- Deve? É claro que atrasou, e eu sei a razão. É aquele antigo paciente dela.
- É o trabalho dela, se ela te ouve falar assim...
- Trabalho dela? Ah não, não é, aquele senhor gosta dela.
Falei isso já prevendo um riso de Clara, foi exatamente isso que aconteceu. Estávamos em uma loja para artigos natalinos, a encontrei por acaso enquanto ainda esperava Alícia aparecer, claro, não aconteceu.
- Não, é melhor que eu vá, você tem que descansar também.
- Estou grávida e não doente, parece o Henrique.
- Você adora ser mimada por ele, eu sei disso. — Clara sorriu e logo nos despedimos.
Não vendo retorno algum, resolvi que era melhor fazer as compras sozinha e voltei pra casa sem nenhuma pressa. O trânsito parecia terrível, como se não bastasse, meu carro descarregou ainda no engarrafamento. Hoje parecia aqueles dias que uma pessoa não deveria levantar da cama.
- Moça, seu carro! — Ouvi um homem me gritar e eu respirei fundo enquanto procurava o celular na bolsa. — Ei!
- Espera um pouco, que droga! — Era isso, eu não achava nem meu celular.
Trinta minutos. Foi exatamente o tempo que levei para conseguir sair desse trânsito, eu queria poder gritar, queria mas não podia, por sorte já estava na porta de casa. Sorte que me fez duvidar quando vi um carro muito bonito parado lá e Alícia na porta conversando com um homem que, adivinhando, diria ter uma idade próxima da dela.
- Caroline! — ela veio na minha direção assim que me olhou descer do carro. — Eu estava preocupada, por que não atendeu seu celular? Onde estava?
- Não sei onde deixei meu celular. — disse bem mais olhando para o homem que para ela.
- Não sabe? Como que não sabe? Por que demorou tanto em chegar?
- Então é essa a jovem perdida. — ele disse se aproximando, sorria.
- Oh, desculpe, estava tão preocupada que esqueci de apresentar vocês. Caroline esse é o...
- Imagino que seja o André. — eu disse e Alícia pareceu surpresa comigo.
- Fiquei famoso assim e não fui avisado? — ele brincou.
- Certo... se me permitem os dois, vou subir, muita dor de cabeça. Mas André, fique a vontade para entrar, está frio aqui fora. Boa noite. — Falei enquanto pegava as sacolas no carro e entrei, nem mesmo os ouvi.
Enquanto subia, sentia vontade de chorar. Sei, quem me ouvisse diria o quanto sou ridícula por isso mas desde quando consigo controlar emoções? Eu sempre fui um pouco mais insegura que ela, isso talvez seja claro, mas dessa vez parecia mais forte, talvez por saber o quanto esse cara estava interessado nela.
- Caroline? — ouvi aquela voz doce da Alícia do outro lado da porta enquanto eu tomava meu banho.
Suspirei enquanto me trocava alí mesmo. Estava em uma camisola quando saí dali. Alícia me olhou da porta, estava descalça, uma blusa branca social e um jeans. Quando me viu tirou os óculos o colocando em seus cabelos, eu ainda suspirava por essa mulher, isso é inacreditável.
- Por que disse aquilo lá na entrada? — ela perguntou com aquele tom de voz habitual que sempre fui encantada.
- Porque era a verdade. Estava frio, não queria que seu amigo congelasse. Nem você, claro.
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Décimo nono andar
Fanfiction• Quando os traumas de uma jovem cruzam com o caminho de uma psicóloga em uma trilha que vai além de um consultório, levando a ambas a passos desconhecidos. "Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, pr...