Capítulo 5

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Entrei na casa chamando por minha mãe. Outra vez ela não estava e eu já não me surpreendia com isso. Subi até meu quarto com Alícia e ela parecia curiosa em todos os detalhes que via. Aceito que o quarto de uma fotógrafa não era algo muito comum. Tirei meu casaco e ela fez o mesmo com o seu.

- Seu quarto é diferente. Toca violão?

- Sim mas sou tímida com ele.

- Nunca contou em suas consultas.

- Vem. Vou te mostrar elas limpas de edições primeiro.

Abri a pasta com as fotos e fui passando aos poucos explicando com detalhes uma a uma. Sentia Alícia cada vez mais próxima. Claro, ela seguia de pé atrás de mim e agora com suas mãos em meus ombros. Eu poderia sentir seu perfume perfeitamente. Virei com calma ficando quase de frente para seu rosto. Poderia jurar que ela olhou em meus lábios nesse momento. Como um sino interno que a avisava, ela se afastou. Que agonia sinto com isso.

- Agora quero que as veja como ficaram. — Ela sentou na poltrona e eu ao seu lado passando as fotos já reveladas.
— Uso pouca edição em fotos de família porque gosto de conservar essa originalidade.

- Você é incrível com as fotos!

- Agora... — Tirei da minha bolsa um envelope. — Essas são as minhas favoritas. Veja como você é linda.

- Você não fez isso... — Ela passava vagarosamente as fotos em suas mãos que pareciam tão suaves. — O que vê quando olha isso?

- Como fotógrafa ou...

- Diz você.

- Vejo o perfil de uma mulher linda. Vejo fios loiros que parecem sumir com toda essa neve ao fundo, ao igual que a pele alva. Vejo agora um olhar que carrega algo que ainda não sei dizer o que é. O que para uma fotógrafa, chega a ser frustrante.

Alícia me olhava com tanta atenção. Me senti quase uma vidente.

- Eu simplesmente adorei essas fotos. Confesso. Fiquei bem em suas mãos.

- Poderia ficar melhor em minhas mãos.

- Ah, sim? Como?

- Me deixando te fotografar.
— Esperei por alguma resposta dela.

- Está bem. Aceito. Deixarei que decida tudo. Estou em suas mãos, Caroline.

Deveria parecer tão boba com o sorriso em meu rosto. Essa mistura de seriedade entre risos que ela tinha em seu tom de voz me encantava de uma maneira inexplicável.

- Agora eu realmente preciso ir. É tarde e eu trabalho cedo.

- Te acompanho. — Desci a levando até o carro. Minha mãe chegou nesse instante.

- Alícia! Quanto tempo, querida!

- Susana! — A abraçou.

- Não me diga que já está indo. Estava em um jantar e me atrasei mais do que imaginava.

- Sim... É tarde e levanto cedo. Só vim trazer a moça até em casa.

- Saiu só agora da consulta, Carol?

- Não, mãe. Te explico daqui a pouco.

- Tudo bem, vou entrar então. Apareça mais vezes, com calma, tá bom? — Minha mãe se despediu e Alícia gentilmente passou uma mão em seu cabelo.

- Tome mais cuidado por onde caminha, as coisas já não as mesmas.

- Obrigada outra vez por isso. Jamais poderia terminar de agradecer. Posso?

Décimo nono andarOnde histórias criam vida. Descubra agora