36. Questão de Tempo

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A homofobia mata no Brasil uma pessoa a cada dezenove horas. Os dados mostram que a cada ano a violência contra a população LGBTQ tem aumentado, sendo São Paulo o estado que mais assassina pessoas desse grupo.

Levantamos isso e muito mais na apresentação que acabamos de fazer. Eu organizei tudo de última hora, coloquei debaixo da porta do Caio e de Rafael o que cada um deveria falar, como o trabalho estava atrasado fiz tudo praticamente sozinho, foi melhor assim.

Agora estou tentando me manter acordado enquanto escuto as outras duplas.

Foram apresentados temas como o preconceito racial no esporte, os conflitos religiosos pelo mundo e um sobre agressões homofóbicas que me deixaram gelado enquanto assistia.

O meu preferido foi o que Milena fez sobre gordofobia e as consequências que esse ódio causa nas pessoas, ela disse para mim que todo o trabalho estaria disponível no seu blog ainda hoje.

Eu estou passando a borracha de mão para mão na intenção de me distrair enquanto Ana Clara e Yuri se preparam para a vez deles quando meu olho corre para Guilherme.

Eu basicamente não falei com ele desde de o evento, chamarei assim a partir de agora.

Nós dificilmente brigamos, quando acontece é algo bobo, mas eu nunca vi tanta decepção em seus olhos como no momento em que contei a ele sobre, bem, o evento.

Estou tão cansado de evitar as pessoas ultimamente, eu queria... Eu poderia apenas... Adormeço em cima da carteira.

***

- Ok, eu não aguento mais. - Tulio levanta da cama me olhando com reprovação.

- Oi?

- Levanta. Vamos fazer alguma coisa.

- Tulio... Eu to bem!

- Não, você não está... Vem, vamos fazer alguma coisa divertida.

Claramente o conceito de diversão de Tulio é bem diferente do meu, tendo em vista que ele me trouxe pro campo de futebol.

- Vamos jogar. - Ele diz segurando uma bola que não sei de onde tirou.

- Eu sou péssimo nisso, sério.

- Para com esse desanimo, vai pro gol.

Ele se posiciona no local onde se bate o pênalti e quando se certifica de que estou pronto, chuta. É obvio que a bola entra.

- Goool! - Ele grita estendendo a palavra como um narrador profissional.

- Eu sou um merda. - As palavras saem da minha boca sem que eu perceba.

Tulio que estava com um grande sorriso agora demonstra preocupação.

- Olha, você cometeu um erro, ok? Você já falou com o Rafael, já falou com o Caio... Já fez tudo o que tinha pra fazer, agora é seguir em frente.

- Eu realmente achava que eu ia ficar a vida toda com ele, sabe? Com o Caio. - Sento no chão e o garoto faz o mesmo.

- Pra sempre é muito tempo. - Ele diz mordendo o lábio inferior.

- E depois eu achei que as coisas dariam certo com o Rafael... Acho que nasci pra ficar sozinho mesmo, sei lá.

- Qual é... Quanto baixo astral. - Ele levanta - Fim do descanso, é a minha vez de defender.

Ele vai até o gol onde a bola parou e chuta fazendo com que ela venha na minha direção.

Fico olhando para ele e sua sobrancelha erguida me diz que ele não vai desisti até que eu levante e jogue.

Andando Em CírculosOnde histórias criam vida. Descubra agora