O bolo de chocolate feito pela minha tia Lucia deveria ser considerado a oitava maravilha do mundo.
Quando março começou tudo o que falavam era sobre o carnaval, mas como não é a minha festa favorita, eu só queria comer comida de casa e resgatar um pouco da privacidade que não dá para ter quando você tem um colega de quarto.
Minha mãe e minha tia tinham milhares de perguntas sobre como era o internato, as aulas, os professores e os nossos novos amigos.
Mas só quando estávamos apenas eu e Guilherme, tia Lucia perguntou:
- Então meu amorzinho, como está esse coração?
Ela estava lavando louça porém, mesmo sem olhar para nós, sabia que estava falando comigo.
- Eu estou bem. - Era verdade. Fazia semanas que eu tinha tido o último pesadelo e eu estava começando a superar certas pessoas e eventos.
- Fico feliz em ouvir isso - Ela secou as mãos e deu um beijo em minha testa - E o seu coração, Gui? Alguma menina o roubando?
- É... Até tem uma menina.
Desde o dia que Milena passou mal - ela apenas teve uma queda de pressão - eles começaram a conversar e se aproximar cada vez mais.
- Ele tá todo apaixonadinho. - Brinquei.
- Cala a boca! - Ele deu um soco não-tão-leve em meu braço mas esboçou um sorriso.
Ele parece feliz. E isso me deixa feliz.
As mulheres da casa tentaram nos convencer para faltarmos alguns dias de aula e ficar aqui até o nosso aniversário, mas as provas, que ocorrerão logo após o fim do recesso, nos impediram.
Por isso, passei a maior parte do tempo estudando em meu quarto ouvindo música. Guilherme até me convidou para ir a um bloco de rua mas, como ele já esperava, recusei.
Fiquei com medo de ir na rua e esbarrar com alguém da minha antiga escola. Na verdade, as únicas pessoas que vi em todos os dias que passei longe do internato foram Guilherme, nossa mãe, nossa tia e a vizinha que viu eu e meu irmão entrando em casa no primeiro dia e ficou dez minutos falando o como estávamos virando "rapazinhos".
Minha mãe teve que trabalhar no dia em que fomos embora, mas quando acordamos vimos que tinha deixado presentes de aniversário adiantado.
Guilherme abriu o dele primeiro. Tinha ganhado um notebook novo, ele gostou.
Imaginei que iria receber a mesma coisa, nossa mãe geralmente nos dava o mesmo presente sempre, mas quando desembrulhei o pacote vi que era uma câmera profissional.
Eu, que sempre quis uma, amei o presente.
A primeira foto que tirei foi do meu irmão com a língua de fora segurando o laptop dele.
Nossa tia também nos presenteia, ela dá a nós dois um porta-retrato com uma foto de nós 4, eu e Guilherme devíamos ter uns 5 anos na época.
Noto na fotografia o quanto elas duas, gêmeas como nós, são tão diferentes. A foto foi tirada em nossa casa, era manhã cedo mas mamãe estava vestida como se estivesse num filme, ela usa salto alto até se for na padaria, já tia Lucia é o extremo oposto, ela usaria chinelos até em casamentos, se pudesse.
Como nossa mãe trabalhava muito, e nosso progenitor desapareceu quando soube que seria pai, tia Lucia acabou indo morar com a irmã para cuidar da gente.
Ela nunca casou ou teve filhos, mas deu todo o amor para nós sobrinhos. Já nossa mãe, até namorou algumas vezes quando já estávamos mais velhos, mas nada durou mais que um ano.
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Andando Em Círculos
Teen Fiction- Mas... - Mas nada! Se você ficar com medo de ter seu coração partido, nunca será feliz. Corações sempre irão se partir, mas o amor sempre irá curá-los. Paro para respirar fundo mais uma vez. - E o amor sempre cura. *** Guilherme e Thiago são irm...