7. O Menor dos Males

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Tem exatamente 10 minutos que estou tentando convencer Rafael.

- Eu sempre dormi nesse quarto, se você quer dormir com o seu irmão pede pro Tulio trocar com ele.

- Não! - Estou pensando numa explicação para não querer dividir quarto com o meu atual colega. - Ok, vou ser bem sincero.

Ele, que estava distraído, agora fixa o olhar em mim, demostrando interesse. Penso no que estou fazendo, eu estou prestes a pedir para dividir quarto com o menino gay assumido do internato com a intenção de ajudar a esconder que sou um menino gay no internato. Parece loucura? Talvez, mas eu faço mesmo assim.

- Eu não quero mais dormir com o Tulio, porque...

- Por quê?

- Ele faz muito barulho! Sempre acaba me acordando, sem contar que deixa tudo espalhado pelo chão.

Não sei dizer se fui convincente mas fico feliz quando ele diz que posso ir para o dormitório dele.

- Valeu, só não conta pra ninguém. Não quero arrumar confusão por causa disso.

- Minha boca é um túmulo.

Suspiro aliviado. Dos males o menor, né?

Estou sentado esperando na cama que passará a ser minha até que meu irmão entra no quarto. Não trocamos nenhuma palavra desde ontem no refeitório.

- Ei, fazendo o que aqui? - Ele pergunta casualmente.

- Preciso que você diga pro Tulio que quer trocar de quarto comigo.

- O quê? Por quê? - Ele olha ao redor, a porta do banheiro está aberta, então ele vê que estamos sozinhos aqui. - É por causa de ontem?

- É só você dizer que é porque vocês estão no time juntos... e convenhamos: você se dá mesmo melhor com ele.

- Cara... Você me entendeu errado ontem, eu não quis dizer que...

- Tudo bem, você estava certo.

Ele parece surpreso.

- Não que eu goste dele, eu mal o conheço, mas mesmo assim, não posso correr o mesmo erro duas vezes. Que se exploda os atletas! - Eu digo esquecendo que meu irmão é um também, mas ele entende.

- Mas e aí? Vai passar a ignorar ele? E todos os outros garotos?

- Claro que não... Só os que forem bonitos. - Estou brincando, mas nem tanto.

***

Tulio não pergunta nada quando me vê quase na hora do jantar levando minhas coisas, mas oferece ajuda e eu ignoro.

Quando estou levando as últimas roupas vejo o papel colado por ele na minha parede, eu retiro e coloco dobrado com cuidado em um dos livros.

***

A fila do jantar está vazia.

Muita gente sai aos domingos para ir na igreja, visitar os pais ou apenas curtir os dias livres. Esses são os dias mais tranquilos por aqui.

Decido comer bife à parmegiana com batatas fritas porque é algo que só servem nos fins de semana e vejo que a maioria pensou igual a mim.

- Só isso? - Simone puxa o prato de Milena.

- Com licença? - Ela o puxa de volta. - Estou começando uma dieta nova.

Andando Em CírculosOnde histórias criam vida. Descubra agora