Dois Tons

Don't hurt me

*Hoseok*

A prova seria no segundo horário e o Jungkook não tinha chegado na escola. Nenhum gêmeo gostoso do mundo o faria perder uma prova de matemática e por isso eu tinha o pressentimento que algo pior havia acontecido. No ano que havia se passado, Jungkook não tinha faltado nem mesmo um dia de aula.

— Hey, Jung!— Virei a cabeça ligeiramente para trás, ao ouvir meu nome sendo chamado, e me deparei com os olhos castanhos de MoK, que estranhamente estava sentado atrás de mim, coisa que ele nunca havia feito. Eu estremeci, porque, confesso, ainda tinha um pouco de medo dele. Porém, um corte em seu lábio inferior me lembrava do quanto ele também havia ficado com medo do V no dia anterior.— O Jungkook não veio, por quê? — Semicerrei os olhos, confuso.

— Eu não sei… Mas, por que isso te interessa?— OK, aquilo saiu mais ríspido do que eu imaginava, até porque eu também estava com um pouco de pena do garoto. Claramente ele gostava do Jungkook e tentava chamar sua atenção de um jeito errado, mas eu não queria julgar suas medidas desesperadas. Eu mesmo já havia feito coisas meio desesperadas pelo Yoongi, mas sempre dava na mesma.— Desculpe, MoK. Eu também não sei porque o Jungkook ainda não apareceu. Também acho isso estranho.

— Não se preocupe, ele deve estar com aquele namoradinho do terceiro ano. — O garoto deu um sorriso sarcástico e eu quase me arrependi por ter pedido desculpa por ser rude.— As pessoas se transformam quando alguém finge que se importa com elas…

— Hoseok!— Meu coração gelou ao ouvir o chamado de uma voz grave. As pessoas tinham tirado o dia para me chamar, só podia. Todos da classe pararam o que estavam fazendo para olhar de mim para o garoto platinado, parado na porta da sala. O professor, antes distraído em ler alguma coisa em sua mesa, acenou para Yoongi, para que ele continuasse a falar.— O diretor mandou eu vir chamá-lo. Ele quer falar com nós dois.

Meu coração gelou no mesmo momento. O que eu tinha feito de errado? OK, tinha a briga do dia anterior, mas se fosse esse o caso, ele também chamaria o MoK, que tinha maior culpa. Por que o diretor mandou justamente aquele ser para me chamar?

Franzi o cenho, levantando-me assim que o professor autorizou a saída. Yoongi estava impassível, como se não sentisse nada no momento. Era tão difícil interpretá-lo, que eu sempre tinha vontade de perguntar a ele o que estava pensando. O garoto começou a andar um pouco mais à frente e eu fiquei o observando, sentindo meu coração doer um pouco. Eu precisava esquecê-lo, mas não queria. Sabia o quanto estava fodido, mas não conseguia controlar o que sentia por ele.

— Por que você acha que ele está nos chamando?— Meu coração disparou quando ouvi sua voz, inclinando a cabeça um pouco para frente, para evitar que visse o rubor.

— Pensei que você soubesse… — Dei de ombros, evitando o olhar do platinado, que andava mais devagar agora, ao meu lado. Um nó se formava em minha garganta, porque era familiar tê-lo por perto, mas muito doloroso.

— Escuta, eu sei que você ainda não esqueceu sobre o nosso rolo… Mas, vai ficar esse clima estranho e tenso para sempre? Eu realmente acho que nós poderíamos ficar às vezes, mas com você se comportando assim fica um pouco difícil. — Se Suga continuasse com aquele papo, eu tinha medo de começar a chorar no meio do corredor, então apenas ri, anasalado.

— Rolo? Você é um pouco engraçado, Suga.— Mordi os lábios, controlando-me.

— Eu sou? Por que? — Experimentei olhá-lo de soslaio, vendo seu cenho franzido. Tinha certeza que sua confusão era falsa, que Suga sabia que eu era apaixonado por ele e que eu me odiava por isso.

— Não venha me dizer que não sabe que sou apaixonado por você! Isso que você faz é ruim Yoongi, não é legal. Se aproxima de mim e propõe essas coisas, sabendo que é difícil dizer não e que, no fim, não vai significar nada para você e me machucar cada vez mais. — Apertava o meu próprio braço, sentindo a mandíbula doer ao segurar o choro. Droga, não deveria ter dito nada daquilo. Só mostrava o quanto eu era vulnerável a ele. Ficamos em silêncio, eu porque não conseguia dizer uma palavra sem que a voz saísse tremida.

— Por que se apaixonou por mim? Você sabe que não tenho culpa disso, não é? Eu realmente não sei o porquê das pessoas serem tão masoquistas, se apaixonando pelas pessoas erradas.— Olhei-o de soslaio, vendo sua expressão contemplativa para a janela do colégio. Aquele tom de voz, me fazia pensar se Yoongi já havia se apaixonado.

— Eu sei que não é culpa sua e não sei porque me apaixonei por você. Só pare de brincar comigo, por favor… — Fui interrompido, porque havíamos chegado à diretoria e Jimin estava sentado em uma cadeira de frente para a porta, parecendo inquieto e passando as mãos pelo rosto diversas vezes. Yoongi sentou-se ao lado do ruivo, restando para mim, sentar-me ao seu lado. Estava decidido: Eu não iria mais falar sobre aquilo com ele. Não falaria mais sobre absolutamente nada com ele.

— Espero que não estejam nos chamando por causa de ontem. De qualquer forma, eu não dei nem mesmo um soco em nenhum dos dois idiotas.— O garoto fechou os olhos, encostando a cabeça na parede atrás de si. Ele também era bonito e bastante simpático, então porque eu cismava em me apaixonar pelo Yoongi?

— Eles não podem culpá-lo. Foi o MoK quem começou aquilo e você... vocês só nos ajudaram. — Falei, dando de ombros e o olhando, mesmo que o platinado estivesse entre nós. Jimin deu um belo sorriso, daqueles que faziam corações pararem.

— Tem toda a razão, Hobi. Só estava preocupado em levar outra advertência, porque já entrei em muita briga por causa de um certo Sr. Min Yoongi que não se segura. Estaria fodido com mais uma.— O ruivo suspirou e seu amigo revirou os olhos, procurando uma posição para se escorar e dormir. Eu me lembrava, Yoongi gostava de me abraçar quando dormia e eu podia ficar sentindo seu cheiro, que ficou marcado na minha memória. Gostava de vê-lo dormir, quando aquela expressão entediada e tão alheia a tudo, tão “tanto faz”, se suavizava e tornava-se algo doce e calmo.

— Vocês três, entrem.— O diretor baixo, com óculos de aro arredondado, apareceu na porta, acenando para que entrássemos. Adentramos o escritório, um após o outro, nos sentando nas três cadeiras dispostas em frente a mesa como réus. O homem sentou-se em sua própria poltrona, nos olhando por cima dos óculos e com as mãos cruzadas sobre o móvel. Sua expressão era ilegível, o que me fazia suar frio. Jimin batia o pé no chão, claramente nervoso, enquanto Yoongi bocejava.

— Nós só queríamos defender eles! Aqueles caras iam estraçalhar os garotos… Sem ofensas. — O ruivo falou praticamente sem respirar, virando-se para mim no fim. O diretor fez uma expressão confusa, que me deu vontade de mandar Jimin calar a boca.

— Tudo bem, Sr. Park. Eu não sei do que está falando, mas seja lá o que for, não é sobre isso que quero conversar com os senhores.— De soslaio, vi Jimin respirar aliviado, relaxando na cadeira e tive vontade de rir, mas me segurei.— Vocês são amigos do Sr. Jeon e do Sr. Kim?— Acho que nós três franzimos o cenho ao mesmo tempo.

— Somos… Na verdade, eu sou amigo do Jungkook e eles do V. Mas, o que aconteceu com eles? — Falei, pensando no que o meu querido amigo anormal havia feito. Sempre pensei que hora ou outra o Jungkook iria enlouquecer de vez, ainda mais com aquele papo esquisito de hiper idolatração à mãe. Putz, logo naquela hora que eu achava que ele estava melhorando!

— Bom, os amigos de vocês deram entrada no hospital há duas horas, depois de um acidente de carro. Estão fora de perigo, mas ambos desacordados. Estou avisando porque a mãe do Jeon e o pai do Kim acharam que eles precisariam de vocês quando acordassem. Então, mandaram um motorista que está esperando por vocês na porta da escola. — O homem respirou fundo, depois daquela notícia que me deixou estático. O Jungkook… no hospital?

— Estamos esperando o quê? Vamos logo!— Segurei as mãos dos dois garotos, esquecendo-me completamente da recente conversa com Min Yoongi. A mão pequena de Jimin era quente, enquanto a mão fina de Suga, era fria. Era um contraste estranho, mas que se encaixava. Aquilo fazia meu coração doer um pouco, porque ainda pensava na possibilidade dos dois estarem juntos… Para Hoseok! Você precisa se preocupar com o Jungkook agora!

Nós três saímos da escola, nos deparando com um carro grande e preto. Imediatamente, Yoongi livrou-se do meu aperto em sua mão, enquanto Jimin parecia não se importar em ter os dedos presos aos meus. Droga, quem não se apaixonaria por ele? Só eu, que tinha o cérebro bugado.

Só soltei a mão de Jimin, quando estávamos no banco de trás do carro, com ele entre mim e o platinado. O motorista nos cumprimentou e disse que nos levaria para o hospital. "Ah Jungkook, que merda você fez?"