I should never be eavesdropping

716 124 79
                                    

Passei a noite no quarto, com a porta trancada. Durante a tarde ainda fui capaz de permanecer perto da minha mãe, do Jin e do Dong Sun, mas o dia todo sem ouvir nem uma palavra deles. Bem, eu podia escutar burburinhos ao meu redor, coisas como a venda da minha antiga casa e planos de casamento, com Jin participando ativamente. Porém, nada era processado por minha mente. No início, pensei estar com ciúmes da minha mãe e por isso não conseguia pensar direito, mas notei que meus pensamentos involuntários não iam por esse caminho. Meus pensamentos focavam no fato de que eu, Tae e V estaríamos sob o mesmo teto.

Estava deitado no chão de madeira do antigo quarto de hóspedes e atual "quarto do Jungkook", observando as estrelas pela porta de vidro da varanda. Eu não havia visto o Tae o dia inteiro e aquilo ainda me apertava o peito. De repente, notei que minhas preocupações não haviam se direcionado a minha mãe em momento algum, apenas aos gêmeos, o dia inteiro. Era como se minha "obsessão" por ela estivesse sendo transferida para os dois garotos.

Sons de batidas baixas na porta não me fizeram mover um músculo sequer para abrí-la. Eu já havia a destrancado, mas esperava que, quem quer que fosse, pensasse que eu estava dormindo e fosse embora. Talvez fosse a minha mãe, mas eu não tinha o menor interesse em vê-la. Agora, eu sentia como se ela só pensasse em si. Eu não havia concordado em mudar de casa e, mesmo que no fundo não achasse de todo ruim, minha opinião deveria ter sido levada em conta. As batidas na porta interromperam novamente meus pensamentos e eu revirei os olhos, irritado.

— Jungkook?— Uma voz grave, mas com o tom baixo, quase sussurrado, ecoou pelo quarto, fazendo-me sentar no chão. Não estava preparado para falar com ele ainda. Minha boca ficou seca, observando a porta fechada ser batida mais uma vez. Não estava preparado para falar com ele, mas precisava, devia isso ao Taehyung.

— Entre.— Minha voz saiu um pouco tremida, um pouco insegura demais mesmo que eu não quisesse. Por um momento, senti falta de quando eu apenas era um observador de pessoas e não participava ativamente de tudo isso que julgava desastroso e caótico.

Deitado no chão novamente, ouvi o som da porta se abrir devagar e, alguns instantes depois, a presença de Taehyung ao meu lado. Quando o garoto se deitou, sem dizer coisa alguma, e seu ombro tocou o meu de leve através das roupas, soube que se eu ainda fosse apenas um observador, não estaria sentindo aquilo agora. Era caótico me preocupar com algo além da minha mãe, mas levemente emocionante.

— Eu senti sua falta.— Taehyung disse, agindo daquele jeito evasivo, onde evitava me olhar nos olhos, mas que eu poderia sentir em ondas sua sinceridade. Eu o olhava pelo canto dos olhos, mas as estrelas pareciam mais interessantes a ele. Tae parecia querer me dizer mais coisas, mas as palavras simplesmente não saíam por mais que estivessem formadas em sua mente.

— Por que não veio antes? Por que não desceu mais cedo quando estávamos na sala?— Perguntei, observando seu rosto de perfil, como da primeira vez que estive em sua casa. Um leve suspiro escapou de seus lábios e eu pude notar o quanto também havia sentido a falta dele. Aquele ser que me parecia tão puro, doce e gentil. Que parecia gostar de mim de verdade e que eu ignorei por meses. Eu não queria decepcioná-lo...

— E-eu queria falar com você sozinho. Queria falar com você sobre minhas opiniões e... sentimentos, antes de te encarar perto das outras pessoas. Seria desconfortável estar rodeado de gente, sendo que o único que me compreende estaria mentalmente distante de mim.— Os dedos longos e finos de Tae seguravam forte a barra da blusa, descontando seu nervosismo. Meus olhos se arregalaram ligeiramente. O meu primeiro beijo foi repassado em minha memória, quando eu senti Taehyung a mercê de mim, completamente vulnerável e dócil ao toque. Eu havia o beijado tão sofregamente e o garoto apenas deixou que eu o fizesse, mesmo com o medo que exalava por seus poros.— Antes de mais nada, saiba que eu sei de tudo que aconteceu. Sei sobre o acidente, sobre o quase suicídio e sobre você e o V... Eu tentei, tentei mesmo colocar na minha cabeça que você não era para mim. Que o fato de eu te amar não mudava nada. Só fique sabendo disso.

Dois TonsOnde histórias criam vida. Descubra agora