Red autumn song

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A primeira coisa que senti, antes mesmo de abrir os olhos, foi o vazio. A parte da cama ao meu lado estava vazia, mas o lençol ainda estava amarrotado e quente, revelando que não foi um sonho, de fato meu namorado tinha estado ali. Me sentei, tentando lembrar quando foi que dormi, enquanto esfregava os olhos e passava as mãos pelos cabelos.

Era tão confortável dormir com Taehyung, que quase sempre eu nem notava que caía no sono, até porque a maioria das vezes eu nem mesmo estava com sono. Ouvir a respiração pesada dele era tranquilizador, além de que sua pele sempre estava quente e aconchegante.

Onde será que ele tinha ido? Será que alguém o pegou dormindo comigo e ele foi expulso do quarto?

Enquanto fazia minhas teorias mirabolantes, ouvi alguém batendo na porta. Era bem provável que fosse Tae, cumprindo mais uma daquelas suas normas de etiqueta e esse pensamento me fez rir, por pensar no quanto ele era certinho.

— Pode entrar! — Falei, me ajeitando da melhor forma possível e umedecendo os lábios, para beijá-lo assim que se aproximasse. Porém, o que eu vi não foi o meu namorado, mas sim a quinta pessoa diferente que entrava no meu quarto naquele dia.

Um homem com farda e distintivo preso no terno se aproximou, fazendo uma sutil reverência enquanto eu o encarava, engolindo em seco. Tae havia sumido e um policial entrava no meu quarto. A ideia de que ele havia sido pego caiu como uma pedra na minha cabeça, fazendo meu estômago embrulhar. Acalme-se Jungkook, pode não ser nada.

— Boa tarde, Jeon. — O homem alto e sério cumprimentou, mas eu apenas assenti, incapaz de falar qualquer coisa por entre meu maxilar apertado em tensão. — Eu sou o detetive Ryu, responsável pela investigação da morte do seu colega de classe, Mok Kwon. Eu falei com seu médico e ele confirmou que você está apto a responder as perguntas. — Fiquei estático enquanto o homem puxava um bloco de notas do blazer, preparando-se para anotar qualquer uma das minhas palavras.

Ele teria já feito as perguntas para Tae também? Eu precisava descobrir as respostas do meu namorado, caso isso tivesse acontecido, para que nossas versões coincidissem. Eu deveria dizer a verdade, que ele não estava comigo no dia anterior? Eu deveria mentir e dizer que ele tinha entrado escondido no quarto do hospital, para passar a noite comigo, e por isso não poderia ter matado Mok? Eu deveria dizer que tinha saído para encontrá-lo e que nós ficamos em casa? Ou eu deveria…

— Senhor Jeon, está me escutando? — O policial balançou a mão a frente do meu rosto e pude ver seus olhos caminhando até minhas mãos trêmulas, dando indícios de que eu estava nervoso. Coloquei as mãos por baixo das cobertas, para que ele não ficasse notando o tremor.

— Perdão, qual foi a última pergunta? — Dei um sorrisinho simpático, mas o homem não retribuiu. Suas vestes eram impecáveis, seus cabelos penteados cuidadosamente e sua seriedade me causava uma sensação ruim. Eu odiava me sentir acuado e era exatamente o que aquele homem estava fazendo.

— Peço que se concentre. Eu perguntei qual a sua ligação com a vítima.

— Nenhuma. — Falei, fazendo o policial erguer as sobrancelhas. — B-bom, nós éramos colegas de classe e eu soube hoje, pelo jornal, que ele tinha sido morto. Pra falar a verdade, eu estou nesse hospital por causa dele. Eu o vi aparentemente quase abusando sexualmente de um garoto e tentei gravar, para mostrar aos coordenadores da escola. Mas, ele me viu e aqui estou: sem provas, sem câmera e com uma costela quebrada. — Usava me tom de voz ingênuo, já conseguindo me concentrar melhor em parecer um bom garoto inocente. Eu precisava fazer ele acreditar que V também não tinha nada a ver com o assassinato, mas de uma forma sutil.

— Quando foi a última vez que o viu? — Ryu escrevia profusamente no bloco de notas, sem demonstrar se compadecer com minha história.

— Foi há dois dias, quando ele me deu uma surra. Pensei que fosse me matar, mas o Namjoon, que estava na cena do crime ontem, me salvou.

Dois TonsOnde histórias criam vida. Descubra agora