Tightrope

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Meu quarto estava exatamente como eu havia deixado quando saí com Tae, mas agora era V quem estava sentado sobre a minha cama, com as pernas cruzadas e uma postura perfeita. Seus olhos acompanhavam meus movimentos cuidadosamente, enquanto eu trancava a porta e ia em sua direção, mas o garoto permanecia em silêncio, com um leve sorriso no rosto.

— E então? — Sentei ao seu lado, apoiando as mãos nos joelhos e provavelmente com uma expressão ansiosa que o fez soltar um riso anasalado. V deitou na cama, encolhendo os joelhos próximo ao corpo e rolando como uma criança. O sorriso em seu rosto era limpo, genuíno e esplêndido assim como os de Tae eram. A alegria de V era palpável, autêntica, tanto que me fez sorrir apesar da confusão. O garoto deitou a cabeça no meu colo, ainda sorrindo quadrado e meu coração parou por um instante, porque era isso que V fazia comigo: Hipnotizava-me.

— Bom, só gostaria de dizer que me diverti muito hoje, obrigado. — Ele piscou um dos olhos e levantou a mão para afagar meus cabelos, enquanto eu o olhava estupefato. Os raios vermelhos da tarde faziam seus cabelos castanhos brilharem, combinando perfeitamente com as cores do outono. — Eu fico entediado com muita facilidade, então foi emocionante fingir ser o Taehyung, sentir quando estava sendo monitorado e você participar de tudo isso quase me deixou em êxtase. — V fechou os olhos e eu mordi o lábio ao ver sua boca avermelhada proferir aquelas palavras. Êxtase? Ele tinha razão. Apesar do receio, vê-lo atuar tão bem, sentir toda a confiança que emanava de seu ser, me deixou extasiado.

— Com certeza foi incrível vê-lo ter tanta confiança em si mesmo e em mim também. Confiei que você tinha feito um plano e, de fato, acho que você tinha um. — Meus dedos deslizaram por seu rosto liso, enquanto um sorriso leve brotava em meus lábios. V tinha uma simetria tão perfeita, que me parecia uma escultura de pedra, ainda mais naquela sua expressão calma e imutável.

— Ah, Jungkook, você se parece tanto comigo. — O garoto voltou a se sentar, passando a mãos pelos cabelos e me olhando de soslaio. Ele parecia pensativo, mas eu não sabia o que tanto nossa semelhança tinha de especial, para deixá-lo tão reflexivo. Eu me mexi, quase implorando pra ele contar o que tinha passado por sua cabeça. De repente, analisando meu desconforto, V riu. — Você é um coelhinho curioso e surpreendente.

— “Coelhinho”? — Fiz uma careta, mas fui ignorado.

— Eu não contava que você fosse tentar convencer o Tae de que ele não tinha matado ninguém, dando confiança pra ele falar no polígrafo. Não era esse o plano original, mas confesso que ajudou bastante. — Franzi o cenho, escutando suas palavras com atenção, observando seu rosto com admiração. — Você depositou sua confiança no Tae, mostrou que contava com ele para que ficassem juntos, mas não notou que o que ele tem mais medo é de te decepcionar. Confiando nele, dando responsabilidade a ele, você só conseguiu deixá-lo ainda mais nervoso e esse foi um ótimo incentivo.

— Eu pensei que o seu plano fosse eu fazer ele acreditar que era inocente, para que o polígrafo não detectasse mentira alguma… — Baixei a cabeça, meio decepcionado comigo mesmo. Porém, V segurou o meu queixo com uma das mãos, fazendo nossos olhos ficarem na mesma altura.

— Você me ajudou, Jungkook. Não pude te contar o plano porque tive medo que o Tae escutasse de alguma forma. Ainda estou aprendendo como essa cabeça doida funciona. — Ele encostou o indicador na própria testa, fazendo-me sorrir. — O detector de mentiras capta os sinais fisiológicos que caracterizam uma pessoa quando mente, quando se sente nervosa ou desconfortável ao dizer algo que não é verdade. O Taehyung ficaria nervoso só por estar sendo interrogado, isso jamais daria certo. Eu o conheço o suficiente para saber que provavelmente iria passar o bastão para mim, completamente amedrontado. Tudo o que eu precisava era ter certeza que estaria no controle no momento do polígrafo e você fez com que isso acontecesse, deixando o Taehyung pressionado o bastante para fugir.

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