Dois Tons

I should never pretend to be normal

— Jungkook, porque você não vai descansar um pouco antes do jantar? Seu irmão está no quarto, se quiser conversar um pouco com ele… Não se falam há tanto tempo!— Minha mãe falou, enquanto eu tirava os sapatos lentamente. Eu fiquei no hospital cinco dias, visitando a psicóloga durante todo esse tempo, e só havia voltado para casa naquele dia. Não havia visto V, Tae ou Dong Sun todo esse tempo, provavelmente porque o garoto já havia recebido alta, mas eu não, por ser o “maluco”. Meu quarto no hospital tinha sido transferido para o primeiro andar um dia depois de eu tentar pular pela janela, o que eu achava bastante compreensível.

Sem responder nada a minha mãe, subi as escadas cabisbaixo e, ao invés de ir ao quarto de Jin como ela havia sugerido, fui direto para a minha cama. Deixei o braço pender, inerte ao lado do meu corpo, já que o outro braço ainda estava na tipóia, enquanto eu relembrava as sessões de conversa com a psicóloga. Não disseram diretamente a mim qual era meu problema, então ela ficou impressionada de eu parecer tão estável.

"Bobinha, é muito fácil fingir que se é normal".

Falei sobre o Hobi, que era um dos pontos de normalidade na minha vida, falei sobre a minha mãe como um filho qualquer falaria e até mesmo do Mok, que me enchia na escola. Somente coisas irrelevantes e completamente comuns. Ela até mesmo me perguntou sobre o V, mas eu engoli meu orgulho e disse que era só um “lance”.

Nesse momento, enquanto relembrava toda a minha atuação de adolescente comum, notei, olhando de soslaio, que Jin entrava no meu quarto, com aquela sua expressão preocupada. Não precisava que ninguém se preocupasse comigo e era isso o que mais faziam desde a tentativa de suicídio. O meu irmão mais velho deitou-se ao meu lado, ombro a ombro, olhando para o mesmo teto branco que eu olhava. Ele havia dito que estava de folga da faculdade, mas eu tinha certeza que ele havia trancado a vaga ou algo assim, porque ninguém tinha férias naquela época do ano.

— Está tudo bem, Kook?— Essa era a pergunta que mais me faziam ultimamente, principalmente o Hoseok, que apareceu no hospital todos os cinco dias que eu estive lá. Pelo menos ele não ficou falando tanto quanto normalmente e parecia até mesmo um pouco letárgico. Eu não sabia se era porque ele quase me viu morrer, ou outra coisa. Não duvidava que era apenas o Yoongi, tamanha sua futilidade.

— Tudo na mesma. Já me arrependi de querer ter meus miolos espalhados na calçada.— Eu soltei um riso baixo e anasalado, mas Jin continuou sério e em silêncio. Acabei por voltar à expressão entediada, já que ele não tinha senso de humor.

— Aquele garoto, o filho do namorado da mamãe, ele te obrigou a fazer aquilo? Ele te ameaçou ou qualquer coisa do tipo? É por isso que tentou se matar?— Esse tom de voz sério que vinha me acompanhando, estava presente na voz de Jin agora também. Ele realmente estava tocando nesse assunto?

— A resposta é não. Para todas as perguntas.— Dei de ombros, fazendo-o suspirar. A culpa não era do V, era minha por ter sido fraco, mas Jim nunca entenderia. Ele nunca me entendeu.

— Escuta, a mamãe é uma pessoa boa e compreensiva, não precisa se preocupar. Se você gosta de garotos… Ela vai te amar de qualquer maneira! —Motivos mundanos. Ele sempre colocava os malditos motivos mundanos para explicar tudo que eu fazia.

— Eu não gosto de garotos. Jin, isso nunca vai se repetir.— Eu nem precisava mais me esforçar para fazer meu tom de voz parecer despreocupado ou monótono, porque os dias com a psicóloga havia me obrigado à isso. Jin virou o rosto, com o cenho franzido.

— Se você não gosta de garotos e ele não te obrigou a fazer aquilo, porque fez? Não faz o menor sentido na minha cabeça…— Meu irmão parecia realmente confuso. Por isso eu precisei sempre competir com ele pelo amor da nossa mãe: Jin era ingênuo, simples e verdadeiramente bom. As ideias que passavam por minha mente às vezes não eram tão boas assim. Virei de lado na cama, observando-o de perfil até que se virasse para mim.