Sail with me into the dark

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Meu corpo era pressionado contra a parede do banheiro, na minúscula cabine. V nunca perdia a chance de me tirar da sala de aula, como se ficar algumas horas sem ver minha cara fosse um suplício. Bom, não só ver minha cara… Pude sentir um volume em suas calças, enquanto encaixava seu corpo no meu, atacando minha boca como se não tivesse o feito pouco tempo atrás. Seus lábios desviaram dos meus, beijando e chupando meu pescoço, o que ocasionava diversas descargas elétricas.

— V… Você não se cansa de mim? — Fiz a pergunta retórica, pensando sobre o mês que havia se passado. Esse mês em que namorávamos abertamente na escola, recebendo os costumeiros olhares de surpresa e indignação, assim como o casal Yoonseok. As garotas pareciam especialmente incomodadas. Bom, nem eu nem V nos importávamos muito com que diziam ou pensavam os carneirinhos. Éramos lobos e eu via o mundo se descolorir quando o garoto aparecia, com seu andar elegante como um modelo, vindo para mim pelo corredor. Tudo se tornava bicromático, apenas V era composto por vários tons, que faziam olhos caminharem até ele sem esforço algum.

— Você é uma caixinha de surpresas, Kookie. Como me canso de alguém que muda constantemente? — Ele sorriu de canto, mordendo meu lábio inferior. V tinha razão: Eu vivia me moldando a ele e seus dois Eu’s, além de ser uma pessoa de poucas palavras, que dificilmente é completamente desvendada.

— Tem razão. Sou diferente o bastante para você. — Enlacei os dedos por seus fios castanhos, sentindo sua textura. V fazia eu me sentir livre, em constante êxtase e com toda minha impulsividade a flor da pele. Ele e Tae me mostravam um lado diferente de mim, além de estar completamente viciado neles. Éramos nós contra o mundo. A harmonia em que estávamos naquele mês era invejável e eu queria estendê-la por todos os meses adiante, porque fazia eu me sentir completo. Paz e êxtase andando de mãos dadas.

O garoto agora depositava selinhos em meus lábios calmamente, diminuindo a intensidade para que pudéssemos nos recompor e sair daquele banheiro como se nada tivesse acontecido… coisa que todos duvidavam.

— Hey, quer sair comigo depois da escola? — Perguntou, ajeitando meus cabelos com suas mãos e recebendo um olhar concentrado meu, que admirava as proporções perfeitas de seu rosto.

— Vai me levar para um motel ao invés de transar em casa? — Meu tom de voz era sarcástico, fazendo-o recuar um passo e colocar a mão sobre o peito teatralmente, com uma expressão ofendida.

— É essa a visão que tem de mim? Além de demônio, agora também sou um tarado? — Assenti rapidamente, com um sorriso faceiro. — Ah, que terrível. Acho que teremos que fazer sexo no máximo duas vezes por semana a partir de agora, para que eu comprove minhas puras intenções, não é mesmo? — Uma cara falsamente inocente coroou sua fala, fazendo-me revirar os olhos.

— E quem disse que eu não quero um demônio tarado? — Arqueei as sobrancelhas e, diferente dele, minha expressão era maliciosa. O garoto abriu a porta da cabine, sorrindo.

— Uou! Boa resposta, Kookie. — Piscou um dos olhos, mordendo o lábio. — Nós podemos sair por aí, fazer qualquer coisa, vagabundear ou transformar a cidade em cinzas fazendo tudo o que quisermos. — Deu de ombros, fazendo eu perceber que tudo o que ele queria era ficar junto comigo. V mandou um beijo e saiu logo em seguida, fazendo-me rir e balançar a cabeça negativamente.

O sinal da escola tocou assim que saímos do banheiro: Eu com uma mão rodeando sua cintura e ele com um dos braços sobre meus ombros. Pouco a pouco os corredores iam se enchendo de adolescentes que riam, flertavam uns com os outros e reclamavam de suas ínfimas existências. Antes eu não notava nenhum deles, enquanto estava preso em meu próprio mundo, em minha própria mente concentrada em ser sempre o melhor entre todos para minha mãe. Agora eu ainda não os notava, mas era porque pareciam apenas figurantes de um filme, enquanto V sorria resplandecente ao meu lado, como o mais sedutor anti-herói.

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