Life after emptiness

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— Nós vamos ter que fugir. — A voz de V soava melódica, suave, como se já esperasse por aquilo. A julgar pela calma com que caminhou até mim, elegante como um felino, e abraçou o meu corpo encaixando a cabeça na curva do meu pescoço, ele realmente esperava que aquilo acontecesse.

— Eu e você? — Murmurei, ainda em choque.

— Plano B. — Minha mão foi segurada e puxada, forçando-me a acompanhá-lo rapidamente pelas escadas. Eu não tinha escolha, teria que seguir seus planos e, se necessário, fugir e deixar tudo para trás. Eu havia decidido por isso, ficar com V e Tae e nada mais, me desvinculando da minha mãe, que havia se tornando uma inimiga. Agora, que nós éramos um, eu pagava o preço por tê-lo. Aquele garoto era bom demais para ser de graça.

Nós entramos no quarto de porta preta, com V indo imediatamente para o guarda-roupa com puxadores de leãozinho. Eu sempre me perguntei o que ele guardava naquele móvel peculiar, que parecia infantil e discrepante demais em relação a resto do quarto. Observei meu namorado se ajoelhar e empurrar as roupas dos cabides, revelando o que parecia ser um fundo de guarda-roupa comum.

— V, como nós vamos sair daqui? O carro de polícia ainda está de tocaia do lado de fora… — Comecei a dizer, mas fui interrompido por minha perplexidade ao vê-lo levantar o fundo falso do móvel, onde caixas metálicas brilhantes jaziam. V puxou uma delas, indo se sentar na cama com ela sobre os joelhos. Me aproximei devagar, olhando de soslaio para o que pareciam ser vários papéis e documentos. O garoto levantou os olhos, com um sorriso maléfico.

— Não se preocupe, Jungkook. Confie em mim, que tudo dará certo. Eu nunca faço nada sem um plano B, pode apostar. Pensei em todas as variáveis, porque consigo imaginar o que se passa pela cabeça dos outros e os riscos que corro por brincar com a lei. Desde o momento que começamos a namorar, eu passei a não pensar apenas em mim, mas como meus atos poderiam te afetar. Por isso… — O garoto puxou dois passaportes, além do que pareciam ser identidades falsas, diplomas e certidões de nascimento. Ergueu a mão, segurando duas identidades e eu as peguei, hesitante, como se fossem se transformar em aranhas venenosas. — Disse ao meu pai que só continuaria trabalhando para ele se me desse esse plano B, essa escapatória caso tudo desse errado. Além disso, ele não quer ter um filho na cadeia.

Uma das identidades, com a foto de Taehyung, não tinha o seu nome, mas sim: Victor Gye. Aparentemente ele havia nascido em Londres e era um ano mais velho do que Tae realmente era, ou seja, tinha dezoito anos, prestes a completar dezenove. A outra identidade tinha a minha foto e o nome John Gye, também nascido em Londres e com dezoito anos.

— Identidades falsas? — Sussurrei.

— Sim. Precisamos delas se formos fugir e começar do zero, sem ter a polícia em nossa cola. Eu tomei o cuidado de pedir ao meu pai que mandasse criarem fichas e históricos para nós, como se tivéssemos nascido na Inglaterra. Ah, e nossos sobrenomes são iguais porque somos jovens recém-casados. Eu posso te contar nossa nova história de vida quando estivermos no avião, indo para a França. — O garoto retirou os outros documentos da caixa e a guardou no lugar, tapando o fundo falso e ajeitando as roupas no móvel.

— Escuta, V… Por que não me disse isso antes? Nós vamos simplesmente começar uma nova vida em outro país, fugindo da polícia e sem nem mesmo completar o colegial? Como espera que façamos isso? — Pressionei as têmporas, estático, enquanto V andava de um lado para o outro pegando uma mochila e guardando os documentos nela. Há alguns meses tudo o que eu queria era conseguir um bom emprego e dar uma boa vida para a minha mãe, mas meus objetivos estavam se transformando drasticamente, como se fosse minha sina.

— Jungkook… — O garoto suspirou, caminhando até mim e segurando meu rosto entre as mãos, como eu fazia com Taehyung. Seus olhos encaravam os meus profundamente, como se tentasse entender minha angústia. — Eu sabia que se te dissesse você não iria me abandonar, mas não queria que se preocupasse com os assassinatos, porque são problema meu. — Ele mexeu nas mechas de cabelo que se espalhavam por minha testa, afastando-as e a beijando delicadamente, porque ainda haviam hematomas por toda parte. — E nós vamos fazer isso e prosperar, porque estamos juntos. Você é inteligente e eu te achei no meio de pessoas imbecis e incompreensíveis. Vamos vencer essa batalha, porque somos capazes, entendeu?

Dois TonsOnde histórias criam vida. Descubra agora