Dark Story

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Aquele cheiro me embrulhava o estômago. Aqueles sons irritavam minha mente. Todas aquelas pessoas com roupas brancas me pareciam igualmente frias, só esperando para levar uma má notícia, como um ceifeiro. Eu não me lembrava desde quando odiava tanto hospitais, onde tecnicamente as pessoas eram salvas. Mas, talvez eu apenas não gostasse das lembranças que tinha daquele lugar.

Esperávamos, pacientemente, em uma sala onde o único ponto de cor mais viva era o de flores plastificadas sobre uma mesinha de centro. Minha mãe e seu amado marido estavam em um sofá juntos, com ela deitada sobre seu ombro, enquanto Dong Sun mexia em um celular com apenas uma das mãos. Até mesmo em uma situação daquelas o homem  continuava focado em em seu trabalho. Jin cochilava em um sofá, sozinho. Será que ele realmente estava ali para dar apoio ou para ganhar média?

Meus dedos chocavam-se uns contra os outros, enquanto minha mente vagava como nunca havia feito antes. Estava sentado no centro de um grande sofá, encolhido dentro do meu suéter preto. Sentia-me anestesiado, como se sonhasse. A ideia de que V estava morto parecia voltar com frequência, fazendo-me tremer. Desde quando ele estava morto? Desde quando apenas Taehyung existia?

A possibilidade de V ter morrido no acidente de carro em que estávamos juntos havia passado por minha cabeça. Porém, tinha uma coisa que me intrigava: Jimin havia dito a Hoseok que V era “instável”. Ele deveria estar se referindo ao Transtorno dissociativo, até porque o conhecia a muito tempo de acordo com as fotos que vi, então sabia que só um dos irmãos existia. Então, quando foi que ele morreu? Eu estava simplesmente apaixonado por nuances de uma mesma pessoa.

Minha mente estava louca.

Levantei-me subitamente, fazendo Dong Sun me encarar. Lágrimas escorriam por meu rosto e meus punhos estavam cerrados de tensão. Todo o meu interior parecia gritar, chocar-se contra as paredes do meu ser, sem escapatória. Eles eram um e eu o amava.

— Quando ele morreu?! — Gritei, fazendo minha mãe e meu irmão acordarem assustados e eu podia sentir seus olhares. Pensavam novamente que eu era louco, eu sabia disso. Mas, meus olhos se mantinham fixos apenas nos do homem que me fez acreditar todo o tempo que haviam dois garotos. Que ele ainda tinha dois filhos.

As mangas do suéter arranharam meu rosto úmido quando as esfreguei na pele. Ao abrir os olhos, notei que ele parecia impassível, frio como um cubo de gelo. Sun Hee estava confusa, olhando-me, com seus lábios se movimentando como se quisesse formar frases.

— A senhora sabia? Sabia que o Seung está morto e o Tae tem transtorno dissociativo de identidade? Ah, é por isso que você odeia tanto o V, seu desgraçado! — As palavras saíam de mim sem controle e tudo em volta se embaçava, apenas com o homem de meia idade na minha frente, como se meu corpo me induzisse a atacá-lo.

— Acho que deveríamos pedir calmantes para o Jungkook. Ele está perdendo o controle. — Ele disse, sem desviar os olhos dos meus.

— Calmantes?! — Ri alto e balancei a cabeça negativamente, com o calor fulminante da raiva espalhando por todo meu corpo. Estava usando a porra dos meus distúrbios para tirar minha razão. Respirei fundo, pressionando as têmporas para mostrar que estava completamente são. — Mãe… — Chamei, fazendo a mulher se colocar de pé em um segundo, ainda olhando de mim para o marido.  — Diga-me uma coisa: a senhora já os viu juntos? Já viu o Seung e o Taehyung juntos?

— Não… — Respondeu, depois de pensar por um momento. As mãos dela tremiam, o que me entristeceu. Eu estava estressando-a, colocando-a entre mim e seu marido.

— E você, Jin? — Meu irmão surpreendeu-se por um momento, por eu inserí-lo na conversa tão repentinamente e negou em um movimento lento de cabeça.

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