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b r i n l e y     c l a y t o n

"Porque ele tava comigo."

Todo mundo tava calado apenas se comunicando pelo olhar mas eu não fazia questão de olhar nenhum deles. O que Nathan queria dizer com 'ele tava comigo'? Ele nem sequer conhecia Travis Scott, os dois não têm qualquer chance de se relacionar nem agora nem no passado. Então porque ele disse aquilo? Eles não podiam se conhecer, certo? Certo!

"Nossa maninho, conta uma história melhor." Riu pelo nariz quebrando aquele silêncio gélido. "Nem a pau que eu vou acreditar nisso. Sério, me fala logo a verdade."

Percebo a troca de olhares entre Nat e Jacob e logo o moreno toma a palavra. "Ele já falou a verdade, Brin."

"Quê?"

"A gente pode conversar?" Nat me encara, seu rosto estava indecifrável e eu sinceramente não sabia o que pensar. "A sós."

Eu tava sem reação. Sabe quando você acaba de receber uma nota baixa numa matéria que você precisava passar? A sensação que eu tenho agora é cinco vezes pior.

"Vocês podem ir para o meu quarto. Segunda porta no andar de cima." Char falou.

Então, a gente foi. Eu liderei o caminho pelas escadas rumo ao destino que Charity nos havia indicado e logo nós havíamos entrado num quarto moderno cheio de papéis espalhados pelos cantos. Me sento na cama gigante no centro do cómodo enquanto Nat fecha a porta nos dando mais alguma privacidade.

"Merda, não fica assim. Você não sabe o que aconteceu." Ele começa notando o meu estado.

"Como assim você tava com o Travis Scott? Você ao menos sabe quem ele é?" Levanto a cabeça para fixar meus olhos azuis nos seus. Eles tavam vazios. "Ele é a porra do monstro que nossa mãe contava nas histórias antes de a gente ir dormir. Você não aprendeu a lição de não confiar nos monstros?"

"Eu devo ter dormido antes de chegar nessa parte." Essa frase tinha-lhe saído num murmúrio mas eu ainda tinha conseguido ouvir. "Brin, me escuta vai. Você não pode sair me julgando sem nem se dar ao trabalho de entender. Me dá uma chance."

"Tô ouvindo." Minha voz soa curta e fria exatamente da maneira que eu queria. Nathan suspira.

"Talvez você não tenha reparado mas a gente não vive no mundo do país das maravilhas, as coisas são bem mais complicadas do que você imagina." Me conta outra novidade, Nat. "Eu me dei conta do quão graves elas eram no verão do ano passado. Quando eu me escapava à escola eu não chegava a casa e encontrava nossos pais juntos vendo comédias românticas, eu somente encontrava o pai com outras mulheres que não a mãe."

"Ele a trai?" Isso não era bem algo de extraordinário para mim pois eu já desconfiava disso.

"Repetidas vezes." Nat se encosta na parede. "Eu nunca quis contar à mãe ou a você, eu sabia a maneira como isso iria vos afetar, principalmente à mãe. Você sabe o quão dependente ela se faz dos homens, se alguma vez o pai largasse de casa eu não sei se ela sobreviveria." Nisso eu tinha que concordar. "Não demorou muito para o pai descobrir que eu sabia. Ele me apanhou uma vez em casa quando- você sabe. Então ele inventou uma espécie de jogo comigo. Eu não falava nada e ele não me batia. Mas havia dias que ele chegava a casa bêbado e não cumpria sua parte do acordo. Lembra todas as vezes que eu justifiquei meus cortes com quedas do skate?" Assinto. "Eu nem gosto de skate."

"Nat, e-eu..." Minha voz falha.

"Mas tava tudo bem porque independente disso eu tinha a mãe, você, o Axel, o time e a Hazel." Ele dá um sorriso fraco eu podia ver seus olhos brilhando num azul relativamente mais claro. "Isso me ajudava a suportar mas até nisso o pai se meteu."

Nessa altura, eu já tava por tudo. "O que ele fez?"

"Fodeu minha namorada." Meus olhos se arregalaram e minha boca abriu. Ele o quê? "Um desses dias eu cheguei a casa ouvindo a cama bater na parede como já era habitual, mas em lugar de encontrar uma vadia qualquer no quarto dos pais, eu encontrei a própria Hazel."

"Ele a forçou?"

"Não, ela o fez porque quis." Ele encolheu os ombros. "Você sabe o quão apaixonado eu era pela garota, realmente eu achei que fosse capaz de sentir alguma merda que fosse por ela e talvez eu sentisse mas a partir daquele momento isso tinha sumido. Então eu bati no fundo Brinley, eu realmente perdi qualquer esperança e o pior é que eu tava sozinho."

"Desculpa, eu tenho que perguntar." Minha testa franziu e eu tentei achar força para formular palavras no meio do choro. "A história que a Hazel traiu você com um garoto do time é-"

"Uma mentira de merda que eu arranjei para cobrir o que aconteceu." Ele afirmou. "Voltando, nessa noite eu tava literalmente acabado. Eu já tinha engolido tudo o que era álcool e eu ainda conseguia lembrar de cada coisa que eu tinha visto. E eu só queria apagar a imagem da minha cabeça. Então, o Scott apareceu com uma droga pesada que foi bem satisfatória na altura. Essa noite foi a 29 de Agosto, pelo mesmo horário que Wendy Davis foi assassinada a 5 quarteirões do lugar onde eu tava com Travis Scott." Nat fungou arrumando seu cabelo para trás. "Agora você já o pode tirar da lista de suspeitos."

Eu tava me fodendo para quem tinha matado a Wendy, pelo menos nesse momento eu só tava importada com meu irmão e tudo o que ele tinha passado sem eu sequer fazer ideia. E de uma maneira, a briga que eu tinha assistido dele e do meu pai na sala fazia sentido agora. O corte no superior da bochecha de Nat ainda tava bem visível me fazendo lembrar constantemente do quão selvagem e psicótico meu pai realmente era por trás da figura de fachada de homem de família que ele fazia passar aos vizinhos. Eu o odiava.

"Nat..." Levanto da cama, caminhando levemente até ao seu corpo parado na parede. "Eu realmente lamento muito que você tenha passado por isso. E mesmo que eu tenha noção que não há nada para eu fazer agora, eu tô do seu lado. Aliás, eu sempre vou tar." As lágrimas salgadas ainda caiam pela minha boca. "O que você fez por mim e pela mãe... Eu sei que você tava querendo proteger a gente, mas você não tinha que passar por isso tudo sozinho. Eu podia te ter ajudado..."

"Brin, na boa, você não tem culpa." Ele me encara. "Eu tomei minhas próprias decisões, não tem como mexer no passado."

Eu não sabia que mais havia para ser falado, então eu apenas o abracei. Meus braços embrulharam-se à volta do alto corpo de Nathan e por conta da nossa diferença eu acabei enconstando minha cabeça no seu peito.

Mesmo que não houvesse nada a fazer ao passado, eu ainda podia mudar o futuro. E pode ter certeza que dessa vez eu não me iria ficar pela ignorância de uma garotinha protegida pelo irmão mais velho. Eu ia agir, doesse a quem doesse.

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eu realmente me comovi com a história de nat e vocês?

achei que vocês tinham demasiadas dúvidas sobre esse personagem e alguns chegavam a não gostar dele por tais razões então eu só quis que o conhecessem de uma maneira profunda sabendo logo a verdade toda e encaixando as peças com o enredo anterior

xx Buhh

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