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c h a r i t y    j a c k s o n

Ruas vastas e sujas. O frio me atingia e a escuridão me assustava enquanto eu tentava me abraçar e manter calma. Então isso era o lado obscuro de Springdale? O qual meus pais sempre faziam de cenário para me impedir de sequer querer visitar? Talvez eles tivessem razão. Eu não deveria estar aqui.

Peguei meu celular do bolso e fui direito nas mensagens abrindo a foto que Jacob me tinha enviado mais cedo com a frente da casa. A comparei à que tinha na minha frente e tive a impressão que havia chegado. Pelo menos o tapete de boas-vindas parecia o mesmo e o número na caixa de correio era igual.

Arrisquei e toquei à compainha.

"Eu já disse que tô contente com meu serviço de televisão, não- Ah, Charity!" Elliot aparece na porta sorrindo. "Vem, entra."

Ele me guiou por um corredor abrindo o primeiro quarto à direita. Lá havia o básico de mobiliário, uns quantos pósteres nas paredes e pouco mais que alguns livros de escola.

"Desculpa, a desarrumação." Ele coçou a nuca. "Ali, meu computador."

Jacob puxa sua cadeira da secretária para ligar o aparelho e eu me sento na sua cama que logo range com o meu peso. Ok, isso daqui não era nenhuma mansão como a minha mas eu já tinha ficado em hotéis de duas estrelas que eram melhores. Não me interpretem mal mas essa era a minha primeira experiência do "outro lado".

"Você tem irmãos?" Tento fazer conversa.

"Não." Ele gira para me encarar. "Meus pais acertaram de primeira. Quer dizer, você já viu essa beleza?" Ele aponta para si mesmo e eu riu. "E você?"

"Uma. Se chama Phoebe e está estudando em Harvard." Encolho os ombros e desvio meu olhar. A glorificar fazia-me lembrar de todas as vezes que meus pais me inferiorizaram por ela existir.

"Então, sua inteletualidade vem de descendência." Ele abre a boca, espantado. "Isso explica as minhas notas. Minha mãe trabalha com limpezas."

Abano a cabeça. "Isso não te define, Jacob."

"Eu sei." Ele volta a se virar de costas para iniciar sua sessão no computador.

Me mexo desconfortável na cama. Nós éramos tão diferentes, quase que um contraste. Isso me faz lembrar do que me atraiu em Jacob ao princípio, ele não era como os idiotas do colégio que vivem se babando pelo Jaguar que compraram no final de semana ou da roupa da Gucci que ganharam dos pais. Ele era humilde e diferente dos garotos que eu conhecia. Mas esses sentimentos e quais queres outros resumiram-se a apenas uma simples amizade assim que Brinley me contou da opção sexual que ele tomou. E isso apenas me fez admira-lo ainda mais.

"Jake?" A porta abre e a cabeça de uma mulher branca de olhos azuis muito semelhantes aos de Jacob aparece pela fresta. "Meu Deus. Me desculpa, eu não sabia que tava com companhia."

Assim que seus olhos caem em mim, eu me encolho envergonhada. Eu pensei que Jacob tinha avisado que eu estaria aqui ou pelo menos que tivesse escolhido um tempo em que pudéssemos estar sós em sua casa. Pelos vistos, eu tava enganada.

"Não, não tem problema." Ele sorri amavelmente para a senhora. "Mãe, essa é a Charity. A gente vai fazer um trabalho de escola."

"Sua namorada?" Os olhos dela brilham.

Então, eu fico extremamente confusa.

"Não, não." Jacob coça sua nuca, claramente desconfortável com a situação. "Mãe, nós podemos falar depois? O trabalho é mesmo muito importante."

"Sim, claro. Desculpa." Ela volta a sorrir. "Prazer em te conhecer, Charity."

"Igual." Sorriu de volta e ela fecha a porta.

Um silêncio estranho cai entre nós entretanto e eu fico sem saber se deveria ser eu a falar primeiro ou não. Eu tinha percebido que Jacob estava demasiado desorientado para sequer dizer alguma coisa.

"Olha não-"

"Eu posso explicar." Ele me corta, seu olhar se prendia ao chão.

"Jacob, você não precisa." Eu toco no seu ombro e então ele me olhou. "Eu entendo que você ainda não tenha contado a ela e está tudo bem. Você não me deve explicações nenhumas."

O garoto sorri, ainda que esse sorriso não se prolongasse por muito tempo ou sequer parecesse digno. "Eu ainda não tive coragem. Não sei como eles reagiriam se eu contasse. Meu pai sempre fala do seu desgosto pela sociedade sempre que se fala em pessoas gays se assumindo." Ele faz uma pausa. "Nesses momentos, eu gostaria de ter algum irmão para me ajudar."

"Você tem-me a mim." Eu digo, sem pensar. "Você tem a Brinley também. A gente sempre vai estar aqui para você seja você quem for. Porque, Jacob, você é alguém excepcional, tenho a certeza que seus pais se orgulham e continuarão a orgulhar-se muito de você."

"Eu não teria tanta certeza." Ele sussurra tão baixo que eu acho que ele tá falando consigo mesmo.

Sabe aquela frase que diz que você nunca sabe da vida de ninguém não importa quão estável e alegre pareça a pessoa? A verdade é que eu nunca pensei que a vida de Jacob fosse assim. Eu sempre o imaginei como um cara ligado à família e de bem com todos os seus problemas, porque isso era o que ele costumava passar no colégio com a sua atitude.

Olho o computador e me apercebo que ele já tá pronto para começarmos. "Agora sobre os Kold Blood..."

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o próximo cap é a continuação desse, espero que estejam gostando.

eu tô desvendando cada personagem de cada vez para ficar gostosinho de ler, tá bom?

xx Buhh

Springdale Onde histórias criam vida. Descubra agora