|96| jacob

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j a c o b    s t r u c k e r

Saímos do carro e logo o barulho ensurdecedor do lado de fora nos atingiu. Brinley saiu na frente batendo o pé irritada mesmo antes que Axel pudesse sequer dar a partida para fora daqui. Isso me fez revirar os olhos, ela sempre exagerava nas coisas.

Eu até percebo o ódio que ela possa ter pelo garoto, mas o tratar dessa forma na frente de todo o mundo já era demais. Aliás, por quanto tempo mais ela vai continuar o evitando? Já tá bem na cara que o sentimento deles um pelo outro não se resumia apenas a ódio ou rancor, era bem mais que isso mas a loira curtia de bancar a durona e não admitir.

"O que aconteceu com ela?" Charity me pergunta olhando a cabeça oxigenada sumir na multidão. "Eu fiz errado em chamar ele, não foi?" Seu tom se resumia a culpa.

"Não." Sim.

"Caraca, eu pensei que ela ia ficar feliz. Achei que eles se gostavam, não que algo assim ia rolar." Charity não sabia de nada e não cabia a mim contar-lhe.

"Brinley é mesmo assim, não liga para ela." Dou de ombros, colocando o sorriso mais reconfortante que consigo ao qual ela tenta retribuir.

Enquanto passávamos por toda aquela gente, meus ouvidos quase estouravam com a música. Eu achei interessante o facto de caberem tantas pessoas apenas numa sala por mais ampla que ela seja. A maioria em que esbarravamos nem se importava continuando a balançar os seus corpos em movimentos estranhos que os adolescentes insistem em chamar de dança. Para mim dança é só do jeito do Step Up e não venha encher meu saco se não concorda.

"Vou procurar o Travis." Aproximo minha boca do ouvido da morena para que ela me possa ouvir em meio a tanto ruído.

"O Travis, hm?" Um sorriso suspeito molda seus lábios e eu reviro os olhos entendendo logo o ponto que ela queria chegar.

Me afasto dela e de Elliot que parece bem perdido olhando para todos os cantos de todos os lugares. Dava para notar que ele não era do tipo que frequentava ambientes desses com regularidade ou que sequer vinha uma vez ao ano. Ou talvez esse apenas fosse o jeito dele.

Passo uma saída de duas portas de vidro logo me sentindo aliviado por ter algum ar puro entrar no meu sistema. Agora a música diminuía e as conversas fúteis de grupos aumentavam em redor da piscina. A água azul estava preenchida por algo que me pareceu decoração de festa e alguns bêbados se atiravam para a água gelada.

Meus olhos percorrem o local procurando pelo cara que eu queria encontrar. Afinal ele tinha que tar algures certo? Os jogadores sempre vêm em festa como essa das garotas populares. Pelo menos, eu cheguei a essa conclusão em todos os filmes high school que assisti.

"Jacob Strucker é você?"

Me viro de imediato com a testa enrugada sem saber a quem pertencia a voz. Mas assim que meus olhos pousam no garoto negro, um sorriso cresce em mim.

"Isso depende." Me aproximo dele. "Você vai me raptar e vender no mercado livre?"

Ele ri, com minhas palavras enterrando suas mãos nos bolsos das calças escuras que faziam contraste com sua t-shirt branca. "Você tem graça. Quer ir beber um copo?"

Nego. "Eu não bebo."

"Nem eu, cara. Mas não conta isso para ninguém, é nosso segredo." Ele diz numa voz divertida piscando para mim. "Vi que tem suco numa mesa ali. Vou pegar."

Assinto, observando ele a se distanciar. Meu corpo oscilava de um pé para outro enquanto eu respirava fundo para conter meu nervosismo. Não havia muita gente no exterior já que todo o mundo se concentrava essencialmente na sala que era o centro de toda a festa. Apenas alguns casais, os caras bêbados e grupos que não se integravam estavam nos fazendo campanhia.

"Aqui." Devo ter entrado no meu mundo já que nem percebi Travis se aproximando de novo. Ele me entrega um copo de plástico e bebo, logo sentindo um sabor a laranja invadir meu paladar. "Você não tem ar de quem curte festas colegiais."

"Nem você." Aponto. Vendo ele na sua roupa casual nem parecia o jogador de futebol que eu tava acostumado a ver nos corredores.

"Você já tentou ser um cara negro numa parada cheia de garotos brancos com bolso cheio do dinheiro dos papás?" Ele lambe os lábios saboreando o suco. "Você acaba percebendo que a única maneira de se integrar no time é convivendo com eles. E você ficaria chocado com as merdas que eu descobri nesse tempo todo."

"Tipo o quê?"

"Tá vendo aquele mané flertando com a ruiva?" Ele se refere a um cara perto dos sofás do interior. "Na verdade, aquela é a prima dele. Eles têm um lance faz dois meses. Imagina o natal naquela família."

Eu arregalo os olhos. Aquele era um dos cãezinhos que sempre andava cheirando o cu do Liam pela escola enquanto o idiota inferiorizava a vida de todos. Quem diria que até ele tem segredos macabros a esconder.

"Sabe o garoto do lado deles? Aquele encostado na parede com cara emburrada?" Sigo seu dedo para ver de quem ele tava falando agora. "Ele é o guarda-redes da equipe mas um porn star nos tempos livres."

"O material tem que ser bom para se tornar viral." Falo sem nem pensar e me arrependo no segundo a seguir com medo de ter causado um ambiente constrangedor entre nós. Porém, o riso de Travis me faz relaxar de novo.

"Sabe uma salsicha?" Ele volta a me encarar. "Dobra ela no meio e agora tira metade."

"Deus do Céu." Minha boca abre em choque e eu volto a olhar o garoto emburrado, realmente não dava para ver volume nenhum nas calças dele. E olha que elas em si já eram justas nas pernas do moleque.

"Atrapalho?" Uma terceira voz acaba entrando na conversa e eu fico confuso quando vejo uma garota de longos cabelos pretos nos observando sendo que eu não conhecia ela de nenhum lugar.

"Não, não. Eu e Jacob apenas estávamos conversando. Coisas de garotos." Travis logo a recebe com seu sorriso amável e coloca um braço por cima dos ombros da garota fazendo com que ela se aproximasse mais de seu corpo.

Tento disfarçar a minha confusão.

"Essa é a Ingrid." Ele a apresenta e ela me encara com seus olhos castanhos. "A gente só tá ficando sério à umas semanas, mas achei bom que vocês se conhecessem. Você me parece um cara legal, Jacob, diferente dos garotos de Springdale High."

Os elogios que ele me fazia não foram suficientemente bons para apagar o que eu tava sentindo nesse momento. Eu queria cavar minha própria cova agora. Como eu pude entender tudo errado? Eu realmente achei que a gente tava criando uma ligação mas ao que parece essa paragem já tem visitantes e eu não sou bem vindo a tais intenções.

"E-eu preciso ir." Tento pensar em alguma desculpa para dar logo o fora daqui. "Meus amigos devem tar me procurando, eu sumi por demasiado tempo. Foi bom te conhecer, Isa." Erro seu nome por mera implicancia.

"É Ingrid." A garota fala num irritante tom calmo.

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eu vou contar a festa com diferentes perspetivas porque como essa história é sobre várias personagens tem diferentes coisas acontecendo com cada um deles

xx Buhh

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