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c h a r i t y     j a c k s o n

Não tem outro jeito. Se tivesse, eu saberia. Eu daria qualquer coisa por alternativas, mas elas não estão nas minhas mãos agora. Era isso ou nada.

"Querida, fale logo. Sua irmã está ligando, eu quero atender." Minha mãe me alerta, me mostrando seu celular vibrando em sua mão.

Respiro fundo e tento relaxar. "O motivo pelo qual chamei vocês aqui para conversar," Mordo o interior da minha bochecha, brincando com as mãos nervosamente pela mesa. Meus pais estão me olhando, no entanto eu não sou suficientemente capaz de os encarar. "É que algo aconteceu... e talvez vocês não vão gostar tanto do que eu tenha para dizer."

Sou uma covarde.

"Pois, então, diga de uma vez." Meu pai me incentiva, seu olhar era duro na minha direção e me fazia desconfortável. "Charity, você está me assustando com todo esse seu suspanse. Eu sou cardíaco."

"Tudo bem." Respiro.

"Você apanhou Aids?" Minha mãe tenta adivinhar e eu arregalo os olhos.  "Filha, quantas lições eu já te dei sobre uso do preservativo sempre? Você não aprendeu nada com isso?"

"Não!" Eu fecho os olhos, abanando a cabeça só de pensar. "E nenhuma. Todas que você deu foi pra Phoebe, eu apenas acabei escutando vocês falar."

"É a mesma coisa." Finalmente o celular da minha mãe pára de vibrar e ela bufa pela oportunidade perdida de falar com sua querida filha predileta. Talvez eles estejam com menos vontade de fazer isto quanto eu.

"É, então," Mais uma puxada de ar e uma tomada da mínima coragem que consigo obter. "Eu recebi uma prova hoje..." Analiso suas façanhas atentamente. "E eu não tirei boa nota nela."

Espero por um sermão, um grito, um berro ou uma outra coisa. Acabo fechando meus olhos com o medo e ansiedade misturadas apenas aguardando pelo pior. Porém, nada. Nada aconteceu. Nem uma palavra saiu da boca de algum deles e isso só me amedrontou mais. Quando volto a abrir meus olhos, meus pais continuam na mesma posição e, inacreditavelmente, com as mesmas expressões.

"Não vão dizer nada?" Olho entre um e outro.

"Tem mais alguma coisa para nos dizer?" Meu pai perguntou e eu franzi a testa, mas neguei.

"Ok, ainda bem. Agora vou retribuir à Phoebe." Minha mãe fala, se levantando num ápice e levando seu celular consigo.

Isso tava estranho.

"Vocês não vão fazer nada? Não vai haver um discurso me dizendo o quão não tou sendo o suficiente ou que devia tar seguindo o exemplo da minha irmã ou qualquer coisa!" Esbracejo na mesma. "Vocês deveriam dizer qualquer coisa."

"Bem, o que você quer que a gente diga?" Meu pai me perguntou monótono.

"Eu não sei!" Falo algo. "Vocês vão me deixar sair ilesa desta?"

Eu quase podia sonhar com isso. Vivendo normalmente como se esta prova não importasse e eu a escondesse com montes de trabalhos de recuperação que não fizessem faculdades importantes reparar no meu deslize. Eu queria isso.

"Ilesa não." Minha mãe fala do outro canto da sala, ela estava longe mas ainda assim ouvindo. "Você está de castigo."

"Castigo?" Encaro meu pai boquiaberta e ele acena, concordando. "Qual castigo?"

"Você irá para Cambridge amanhã." Meu pai fala, como se nada fosse.

Eles estavam tratando todo esse assunto com demasiada calma, eu não sabia o que esperar.

"Mas eu nem acabei o secundário. Minha aulas não acabaram ainda." Lembro e eles nem mesmo dão importância ao meu tom injustiçado. Minha mãe mantém-se a teclar algo no ecrã e meu pai distrai-se, mexendo no seu café. "Calma. Vocês sabiam. Vocês já sabiam da nota antes de eu contar, não é?"

"Mas é claro, querida." Minha mãe retoma à conversa. Ela me encara, abrindo um sorriso estranho que deixava todos os seus dentes brancos à descarada. "Que tipo de pais você pensa que somos? Seu colégio nos mantém sempre ao corrente, é para isso que pagamos a taxa extra."

"Taxa extra? Que história é essa?" Eu tava me perdendo.

Meu pai suspira, juntando suas mãos na mesa uma por cima da outra antes de me olhar. "É como um valor acrescetado que nos é cobrado para saber de seus resultados escolares com antecedência. Antes mesmo de você."

"E eu só tou sabendo disso agora?" Meu espanto crescia cada vez mais e minha boca o acompanhava crescendo.

"Não achamos que fosse importante." Meu pai acaba dando de ombros, levando a chicara aos lábios para beber o conteúdo quente.

"E sobre meu castigo?" Troco o assunto, olhando para minha mãe agora. "Como exatamente vocês vão fazer?"

"Fácil. Agora você vai arrumar suas malas, seu autocarro parte às oito em ponto de amanhã." Sua voz soa doce e feliz enquanto fala. "Sua irmã divide um apartamento com o namorado dela. Qual o nome dele outra vez, querido?"

"Neil." Meu pai responde, seco.

"Isso, você ficara com sua irmã e Neil por algum tempo. O necessário para que você coloque sua cabeça em ordem e retome com as ideias no lugar. Eu realmente espero que essa viagem lembre você daquilo que está perdendo se não estudar." Sua faceta séria rapidamente se converte em um outro sorriso. "Pela outra mão, você terá a oportunidade de matar saudades de Phoebe. Isso não é bom?"

"Sim, mãe. Bom demais." Controlo uma retirada de olhos.

"Não veja isso como um castigo, veja como um reencontro familiar." Ela volta a digitar algo no seu telemóvel e o coloca perto do ouvido. "Phoebe querida, oi. Estava agora mesmo dando as novidades à sua irmã..." Ela desaparece pelo corredor enquanto fala e eu suspiro. Isso tudo é uma loucura.

"Como vou fazer com a escola? Eu vou perder aula." Lembro, por mais que meu pai não pareça nem um pouco importado com isso.

"Eu mesmo falei com o diretor Hastings. Ele te liberou durante esse tempo." Ele contou, soltando uma leve gargalhada depois. "Nada que dinheiro não resolva, não é mesmo?"

E, dessa maneira, eu me via saindo de uma discussão que eu temia e me fazia não querer voltar a casa. Antes não o tivesse feito, sendo que eventualmente chegaria em um ponto que não poderia adiar mais meu regresso.

Agora eu teria que me afastar de tudo. Tanto de meus amigos como da investigação. Eu nunca tive alguém que tivesse do meu lado no colégio e agora que eu tinha, eu iria embora por tempo indeterminado. Eu não sei como as coisas estarão quando eu voltar, eu não sei se eles vão esquecer de mim ou me olhar na cara e rir por terem sido pessoas próximas a mim e se virem a arrepender. A verdade, é que eu não queria descobrir o desfecho disso. E quanto à investigação, eu realmente sentia que a gente estava próximo. Eu tinha uma promessa para com Elliot e agora, por forças maiores, eu o iria abandonar. E isso era desleal da minha parte, antes eu tivesse estudado pra porra daquela prova.

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e ai o que acham que vai acontecer com a Char em Cambridge?

xx Buhh

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