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a l e x i s     h a s t i n g s

Noite.

A noite, em termos científicos, é a parte do dia em que não é recebida a luz do Sol. Mas é muito mais que isso também. É a altura que seus demónios vagam por sua cabeça, sussurrando para você escutar eles e cair na própria tentação do abismo. É a parte escura que você teme e reza para que passe. É quando você está só e vulnerável, e aí tudo parece te atacar.

Eu sempre arranjava maneira de preencher minhas noites. Seja com festanças enormes ou chamadas bobas, mas a verdade é que essas coisas eram limitidas e a noite se torna inevitável em um momento ou outro. Esse era um desses momentos.

Eu não tinha medo. Meus passos eram firmes no asfalto e eu em nenhum momento olhava para trás. Eu sabia que se o fizesse iria me afundar nos meus próprios demónios. Eles queriam que eu o fizesse. Eu podia os ouvir gritar em minha mente. Mas eu não iria cair, não dessa vez.

Minha alma estava vaga e eu não sentia absolutamente nada. Era como se a dor não mais me afetasse, eu me tinha rendido a ela e, de súbito, ela havia desaparecido como fumassa em uma noite fria.

Meus passos cessam. Eu tinha chegado ao fim da estrada no meio dela. Minhas pernas estavam fracas, então eu me deitei. Meus olhos foram para o céu e meu foco eram as estrelas. Tranquilas e centilantes no seu devido lugar.

Eu podia ouvir o silêncio. O meu silêncio. Rasgando o ambiente e me torturando com a minha visão. Meu corpo entrou em choque e eu pisquei vezes sem conta imaginando que tudo aquilo era um sonho, mas eu não acordei.

Haviam palavras entaladas na minha garganta. Frases por dizer, memórias por recordar mas eu não conseguia falar. Eu estava em choque. Eu não queria acreditar, não podia ser real. Porquê comigo?

Eu ainda podia ouvir sua voz suave e harmoniosa me mandar estudar, seus suspiros quando eu explodia por coisas bobas e insignificantes, seus discursos que eu não ouviria mais. Tudo se tinha ido em questão de segundos. Agarrei seu corpo com meu coração se cortando, ela estava gelada mas ainda era minha mãe.

"Me desculpa." Soluço, encharcando suas roupas com as lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas sem dó. Eu apenas conseguia chorar.

Chorar porque a culpa era minha. Eu deveria ter estado aqui. Eu podia ter impedido isso. Mas meu desejo por popularidade tinha sido mais forte, eu a deixei por gente que nem se importa comigo e, agora, não vou ter ninguém que me ame e suporte da mesma maneira. Não existem segundas chances, não quando se trata de morte. Algo que você já nasce sabendo que vai acontecer mas que nunca está devidamente preparado.

Eu dava cada pedaço de mim para ser eu ali e não ela. Ela tinha tanto para dar ainda, tantas pessoas para influenciar, tanto bem para espalhar. Eu não tinha nada.

"Eu te amo, mãe." Aquelas palavras pareciam tão pequenas comparado ao que eu sentia.

Uma mão toca no meu ombro, mas eu me recuso a desviar minha atenção do seu corpo frágil e imóvel.

"Alexis..." Era a voz dele. Ele tinha-a matado. Como ele podia ter a descrença de estar aqui? Eu o queria longe e de certeza que ela também. Não importava o grau de parentesco que eu tinha com ele, eu o odiava da mesma maneira ou mais quanto se fosse algum desconhecido.

"ME DEIXA EM PAZ!" Eu grito, minha voz não falha quando eu o faço. Talvez por conta da raiva que havia palpitando em minhas veias. "Me deixa aqui."

Minhas mãos apertam mais o corpo de minha mãe contra mim enquanto eu deito minha cabeça no seu peito deixando as lágrimas rolarem livremente até caírem sobre a pele gélida da mulher que por tanto tempo eu vi sorrindo. Meu pai eventualmente desistiu, ele sabia que eu não iria ceder tão cedo. Ou talvez fosse a culpa o consumindo e eu realmente esperava que fosse. Ele suspirou e saiu.

Eu passei os dias seguintes chorando da mesma forma. Trancada no meu quarto com todo o ódio do mundo guardado em mim. Eu não saía para nada como se lá fora fosse algo contaminante. De vez em quando, Darlene batia na minha porta me oferecendo o café da manhã ou a janta, em todas as vezes eu a ignorava e ela acabou não vindo me incomodar mais. Eu poderia ter morrido de fome mas eu sobrevivi de alguma maneira.

E talvez fosse porque minha caminhada não tinha acabado, ainda havia estrada para mim. Por mais difícil que isso se tornasse acreditar em momentos difíceis e desesperadores. Por alguma razão a vida não era como a morte, e ela sim me deu uma segunda chance.

Eu desprezava meu pai mas eu tinha de viver com ele. Ele impôs regras em mim, me proibiu de visitar minha mãe no cemitério porque mesmo ele tendo transformado o corpo dela em cinzas, pagou para que construissem um memorial em seu nome. Irónico né? No fundo, eu acredito que apenas fosse a imprensa e reputação falando por ele e não a culpa. Meu pai era um monstro e eu sinceramente duvidava que ele sentisse remorso algum.

Mas a presença do homem que eu mais devia detestar perto de mim, me fez sentir confiante de que se eu podia viver debaixo do mesmo teto que ele, eu podia lidar com qualquer coisa. Porque não havia nada pior que estar dia a dia com o assassino de sua própria mãe.

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esse cap é meio dark e deprimente, mas espero que entendam o contexto

xx Buhh

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