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n a t h a n    c l a y t o n

"Pode ficar e assistir, essa sessão é grátis."

Sem perder tempo, Brinely acaba beijando o garoto atrapalhado que sem saber o que fazer fica por um tempo de braços esticados e olhos muito abertos. Seu tom de pele estava começando a se tornar vermelho e nesse momento eu soube que o bilhete desse show de tormento eu não queria.

Balancei a cabeça rindo nasalado e pousei a garrafa com água me apressando a ir para o andar de cima pelas escadas. Em cada degrau velho que eu pisava um som da madeira reclamando de tão gasta subia pelo ar, essa casa com certeza fora construída por algum índio e até agora está apenas se aguentando.

"Você tem que me escutar, não é nada do que tá pensando."

Essa voz. Eu a reconheceria de qualquer parte.

Assim que chego no topo, paro meu andamento espreitando para a sala mantendo meu corpo escondido atrás da porta para que não fosse visto. Duas silhuetas discutiam de pé, pelo parecer da coisa, não está indo bem e, quando finalmente reconheço quem é a segunda pessoa, meu corpo todo trava e eu sou levado para um transe dentro da minha própria mente.

Meu pior pesadelo.

"Ai não é? Vai dizer que não é cheiro de álcool que eu tô sentindo?" Minha mãe disparou, me fazendo encostar a cabeça à ombreira da porta com os olhos colados no chão. Isso realmente tava acontecendo. "Você mentiu pra mim, de novo. Disse que ia tomar conta da loja quando na verdade tava lá se embebedando com seus amigos e galdérias de baixo nível. Pensa que me engana?"

"Até agora você aceitou." Meu pai simplesmente falou como se não se tratasse de nada.

Há um silêncio. Minha mãe provavelmente deve ter ficado demasiado espantada com a severidade dele que era incapaz de continuar, ela sabia que não valia a pena o fazer. Mais tarde ou mais cedo ele voltaria a fazer o mesmo, ele sempre o faz. Quando eu perdi o vício das drogas, ela acreditou que o mesmo aconteceria para o meu pai. Nesse tempo ela andava como uma pessoa feliz sorrindo para todo o mundo na rua, mas isso acabou quando sua consciência percebeu que nada iria mudar. Meu pai é um homem perdido nele mesmo, enquanto ele próprio não quiser fazer diferente tudo vai continuar do mesmo jeito.

Suspirei, tomando forças para sair e ir até lá. Eu não podia ser mais o garoto amedrontado que se escondia nos cantos e sofria para dentro. Eu ouvia cada discussão deles, mas apenas consentia e fingia que estava dormindo quando a minha mãe vinha ao meu quarto ver se eu estava na cama. Eu fui crescendo e não era mais preciso me preocupar em fingir, já que ela deixou de vir ao meu quarto. Comecei a acreditar que ela havia se esquecido de mim, ela nem ao menos olhava na minha cara ou na da Brimley. Então eu tive de arranjar jeito de ela nos voltar a notar. Pode não ter sido a melhor maneira, posso até ter criado cadastro e denegrido minha reputação mas resultou.

Foi nessa altura que eu fiquei em Tontitown. Foi Axel que pagou a fiança para eu voltar, meus pais nem pensaram em juntar dinheiro para isso.

"Mãe, você tá bem?" Cheguei perguntando. Meus passos eram firmes e eu já havia travado o maxilar contendo a minha vontade de recorrer à violência. Eu não podia ser tão impulso nesses assuntos, se eu realmente queria proteger minha família eu tinha que tomar ordem.

"Ah lá, o salvador da pátria." Meu pai apontou na minha direção, rindo.

Decidi ignorar o comentário, rapidamente o seu cheiro a bebida me atingiu e eu soube que ele tinha andado em noitadas de novo. Não é propriamente normal você ver o seu pai frequentando boates mais tempo que você, as mesmas inclusive. As noites que eu o vejo, são as que ingiro mais.

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