|156| jacob

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j a c o b    s t r u c k e r

Meus sapatos eram a única coisa que realmente me chamava a atenção nesse momento. Eu observava cada movimento que estes desempenhavam enquanto eu os arrastava pelo chão. Os murmúrios estavam distantes de mim, mas ainda assim eu os podia ouvir em segundo plano na minha cabeça. Conversas aleatórias iam-se desenrolando à minha volta e era incrível como tudo continua funcionando com ou sem o seu impacto. Isso acontecia com as pessoas mortas também. Você se debate e chora quando acontece, mas a verdade é que num momento da sua vida a dor vai se tornando menos insuportável e você continua.

Meus passos cessam e há uma certa turbulência quando sinto meu corpo embater em algo, quase me derrubando. Suspiro, levantando meu queixo para encarar ninguém mais que Liam McCain. Seu rosto era de pura raiva em minha direção, suas mandíbulas se contraiam enquanto ele falava. Seja o que for que ele tenha dito, o seu pequeno exército de garotos riu-se como se suas palavras fossem a melhor coisa do mundo e por ter esse acompanhamento deles, Liam fazia qualquer minuto o seu show particular. Era chato e rotineiro, eu não percebia como as pessoas não se fartavam dele. Já não havia qualquer novidade em redor de Liam.

Com a ruído de suas gargalhadas distantes, eu ajeito minha alça no ombro e continuando sem me pronunciar, movo meus sapatos. Eu não era o tipo que chamava a atenção no colégio, mas devido a essa situação todos estavam me encarando agora. Eu sabia que nenhuma de suas intenções era puramente agradável, no entanto eu não me importava.

Travis estava lá. Ele se encostava a um dos cacifos, vestindo seu casaco do time que, de alguma forma, lhe colocava um género de rótulo de superioridade ridículo. Eu estava cansado desse limbo que nós tínhamos um com o outro, como se nada fosse levado a sério mas também não era de se descartar. Nunca podia ter a certeza sobre nada em relação a ele e isso me estava levando a um limite. Seus olhos escuros se cruzam com os meus por breves segundos, posso sentir ele querer fazer algo, porém seus músculos continuam rijos e ele não faz qualquer movimento quando passo, nem eu paro para ver se faria.

Eu apenas continuo a ir. Passo a passo, para longe de toda a confusão.

Acabo já entrando na sala e, depois de cumprimentar o professor com um aceno, escolho uma carteira e me sento. Tiro algum livro da mochila e o pouso sobre o tampo da mesa, desfolhando as páginas até encontrar alguma que esteja completamente branca. Pego num lápis e começo riscando levemente, apenas fazendo traços desengonçados pelo papel. Tudo estava uma droga agora. Charity tinha ido embora, Brin não tinha mais tempo para mim e não é como se Nathan desse conta da minha existência. Tudo bem, que Elliot vai falando de vez em quando comigo, mas por muito boa pessoa que ele seja o garoto é estranho e não tenho tanta confiança nele para poder falar abertamente de algo.

O sinal toca e a porta é aberta pelos alunos que vão enchendo o espaço. Tento ignorar todos eles, riscando com mais precisão quase fazendo com que a ponta do lápis se quebre. Eu estava sozinho. Minha família não conhecia quem eu verdadeiramente era e eu não estava preparado para lhes dar a conhecer isso. Não ainda.

"Você estava com ele, não é?" A voz grave de Travis soa atrás de mim, porém não era à minha pessoa que ele se estava a direcionar já que obteve resposta sem eu sequer abrir a boca.

"Você não vai gostar de ouvir a resposta, Travis." Ingrid. Ele falava com Ingrid.

Ouvi sua gargalhada nasalada e o podia imaginar apertando suas mãos para manter a calma. Droga, porque eu acabava sempre nos assuntos por mais que os evita-se? Eu não queria ter nada haver com Fisher ou a sua namorada, mas aqui estava eu escutando a conversa dos dois.

"E-está acabado, não está?" Sua voz traía sua segurança, ele estava se desfazendo em pedaços. "Entre nós, está acabado?"

Um traço mais forte no papel e a ponta da lápis realmente se quebrou e caiu para o chão. Levanto meu antebraço, controlando a respiração, e olho de cima para o desenho. Não haviam personagens ou casinhas sobre a relva que decorassem a página, apenas um monte de riscos entrelaçados e confusos entre si. Bem como eu me tenho vindo a sentir.

"Travis..." Não era propriamente uma resposta da parte de Ingrid, porém o seu tom carregado de remorsos fazia entender a intenção com que as palavras lhe caiam da boca.

Travis também as percebeu. E foi rápido em tomar uma reação. O som alto do arrastar da sua cadeira fez-se ouvir por toda a sala e não demorou para que o seu corpo passa-se por mim apressado por uma saída. Eu sabia como ele se sentia e, do jeito que ele tava, eu não podia apenas ficar aqui e pretender que nada estava se passando. Me levanto da cadeira e corro até à porta, depois de pousar o lápis de volta ao tampo da mesa.

"Jacob, se você sair dessa sala, serei obrigado a te dar uma advertência."

Então, eu ponderei. Desde que fazia parte de meu antigo colégio que meu currículo era tudo aquilo para que eu trabalhava. Eu tomava cuidado para cumprir cada regra e nunca chamar a atenção. Mas esse velho Jacob não era como eu me sentia agora. Eu já podia ver mais para além de livros e matéria, eu podia ver algo que realmente me cativava e que eu poderia perder se não fizesse isso. Não havia outra opção para mim. Era ir ou o perder.

Então, eu fui. Meus sapatos batiam rápido no chão e eu me vi correndo pelo corredor gritando o nome de Travis. Sem me importar com mais nada nem mesmo com os professores das outras salas, eu continuei minha busca cruzando a esquina e encontrando a porta do banheiro aberta.

"Travis?" Voltei a chamar quando entrei.

Eu o vi no mesmo lugar que a primeira vez. De frente para o espelho chorando por algo que o magoou antes. De uma maneira ridícula do destino, nós acabamos do mesmo jeito que no começo. Suspiro, adentrando no local e parando a alguns metros para o observar apertar as bordas do lavatório de cabeça baixa. Eu podia ouvir alguns de seus soluços e Deus sabe a vontade que tenho de o abraçar.

"Foi o Liam de novo?" Brinco, observando cada detalhe seu. Os cabelos negros cobriam-lhe o rosto impedindo-me de ter algum vislumbre da sua face. "Me diz se foi. Eu posso partir aquele cara todo, se você quiser ou então, posso pedir para Natahn o fazer de novo simplesmente."

Travis encolhe seus ombros cedendo a uma gargalhada. Ele vira sua cabeça para mim ainda com seu corpo inclinado para o espelho exibindo as lágrimas que escorriam pela sua pele negra.

"Você decidiu se ferrar por mim?" Ele pergunta, minimamente surpreso, se referindo ao facto de eu estar aqui e não na aula.

Encolho meus ombros. "É algo que os amigos fazem." Travis faz uma leve careta sobre as minhas palavras e eu franzo a testa. "Não somos amigos?"

"Não. Amigos, não."

Ele deixa o lavatório vindo até mim em passos largos, suas mãos agarram a gola da minha camisa formando punhos com o tecido e, sem que eu possa perceber, seus lábios se colam aos meus. Fecho os olhos com força, sendo rápido a corresponder não me deixando escapar à surpresa pelo seu gesto. Eu esperei demasiado tempo por um pequeno sinal da parte dele que se não visse este estaria sendo cego.

Travis me empurra para trás e minhas costas acabam indo de encontro a alguma parede, sendo prensadas lá. Era algo para ter doído, mas acabou sendo prazeroso. Ele abre mais espaço entre nossas bocas apenas para entrar com sua língua explorando cada canto da minha. Nenhum de nós dois agia calmamente, era como se o fogo se agitasse e nós estivéssemos impedindo de nos queimar sendo apressados e furiosos no que fazíamos. Isso apimentava as coisas e me dava uma sensação boa. Tudo era bom no que contava a Travis Fisher.

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quantos éramos à espera desse momento??

xx Buhh

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